Que o desfecho seja democrático

Que o desfecho seja democrático

Em tempos de eleições bélicas e votos anti-candidato, é preciso respeito ao resultado das urnas

Taline Oppitz

A principal marca destas eleições foi a polarização no cenário nacional

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Foram 46 dias de campanha. A mais curta desde 1994, mas que, diga-se, pareceu eterna. Mas, enfim, chegou o dia do protagonismo dos eleitores, neste domingo, dia 2 de outubro. As eleições gerais deste ano foram marcadas por uma série de novidades, como a inédita vedação de coligações nas proporcionais, que havia entrado em vigência apenas nas últimas disputas municipais. Entrou em cena a criação das federações. As redes sociais, já decisivas na corrida presidencial de 2018, ganharam novos contornos, ampliando o papel estratégico das ferramentas e também sua profissionalização. A principal marca destas eleições, no entanto, foi a polarização no cenário nacional entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, e o ex-presidente Lula (PT), que visa voltar ao Palácio do Planalto e que, obviamente, acabou replicada nas disputas estaduais. 

As eleições, então, tornaram-se as mais bélicas dos últimos tempos. Para além das ideologias e de projetos de país completamente antagônicos, o carisma político de ambos, junto aos seus militantes, simpatizantes e aliados, para o bem e para o mal, se impôs. Propostas em áreas essenciais como saúde, educação, segurança, geração de emprego e renda e desenvolvimento, entre outras tantas que deveriam ter sido discutidas à exaustão, perderam lugar para emoções como amor e ódio. Amor por seu candidato, independentemente de seus erros e acertos, e ódio do adversário, que, na prática, tornou-se um inimigo, assim como seus aliados, a ser aniquilado.

Teremos nesta eleição, talvez mais do que o voto no candidato, o voto anti-candidato, considerando os sentimentos que Bolsonaro e Lula geram em alas diferentes do eleitorado. Assim como o voto útil, estratégia que ganhou força nos últimos dias. Neste cenário, candidatos que tentaram se viabilizar como uma alternativa, uma terceira via, não tiveram chances. Não bastasse a forte polarização entre Bolsonaro e Lula, que simbolizam uma série de posições distintas para praticamente tudo, incluindo temas bem mais amplos que política, e que vão de família à religião, inseguranças jurídicas e institucionais complicaram ainda mais e ampliaram a complexidade do cenário.

A queda de braço que já marcava as relações entre o governo, o Supremo Tribunal Federal e, mais adiante, o Tribunal Superior Eleitoral foram ampliadas ao extremo durante a campanha. Presidente do TSE e integrante do STF, o ministro Alexandre de Moraes teve papel de destaque e tornou-se alvo preferencial de Bolsonaro e de seus aliados. A briga, então, ganhou viés pessoal. Não por acaso, decisões de Alexandre de Moraes geraram controvérsias, inclusive entre juristas de campos ideológicos distintos e seus próprios pares, e ganharam destaque e críticas internacionalmente. O papel do ministro contribuiu, e muito, para a mais ampla investida contra a Justiça Eleitoral colocada em prática na história recente, o que, certamente, irá deflagrar reações exacerbadas após a proclamação dos resultados.

Apesar do cenário tumultuado, o desejo é que, neste domingo, os eleitores votem com responsabilidade e consciência, que o dia seja de paz e, principalmente, que os desfechos das urnas sejam respeitados. Democracia é simples assim.


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