Tudo ou nada

Tudo ou nada

Contestação das urnas feita pelo PL serve apenas para reforço de narrativa

Taline Oppitz

Em nova coletiva de imprensa, Valdemar Costa Neto disse que não questionará primeiro turno

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Após 20 dias recluso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao Palácio do Planalto nesta quarta-feira. Na terça-feira à noite, Eduardo Bolsonaro postou uma foto com o pai, ambos estavam sorridentes. A aparição de Bolsonaro se deu um dia após o PL apresentar relatório solicitando a invalidação de votos registrados em urnas de modelos anteriores ao ano de 2020. Segundo o documento do PL, mais de 279,3 mil urnas eletrônicas utilizadas no segundo turno das eleições “apresentaram problemas crônicos de desconformidade irreparável no seu funcionamento”. Nas disputas deste ano, a Justiça Eleitoral disponibilizou cerca de 577 mil urnas. O PL, partido do presidente, sustenta que sem a suposta inconsistência, Bolsonaro teria obtido 51,05% dos votos válidos, contra 48,95% de Lula (PT). No resultado final, o petista, que foi eleito, contou com 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro.

A reação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, considerado arqui-inimigo de Bolsonaro, como esperado, foi rápida e curta. Em despacho, o ministro afirmou que o relatório do PL somente será considerado se o partido incluir na solicitação também os dados relativos ao primeiro turno das eleições. “As urnas eletrônicas apontadas na petição inicial foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022. Assim, sob pena de indeferimento da inicial, deve a autora aditar a petição inicial para que o pedido abranja ambos os turnos das eleições, no prazo de 24 horas. Publique-se com urgência”, diz o despacho assinado por Moraes.

Era óbvio que o ministro iria explorar em sua resposta a brecha deixada pelo PL em seu requerimento. Se parte das urnas utilizadas estava comprometida, o resultado do primeiro turno também está em xeque. Isto é, a composição do Congresso, que engloba senadores e deputados federais, e a vitória dos governadores eleitos na primeira etapa da disputa. Ou, por acaso, seria possível que os “problemas crônicos de desconformidade irreparável no seu funcionamento” ocorreram apenas no segundo turno, quando Bolsonaro foi derrotado? A investida do PL terá como efeito prático o reforço da narrativa de que as eleições foram fraudadas e, consequentemente, garantirá fôlego aos atos como acampamentos e bloqueios de estradas. Nada mais.

Em tempo: as urnas questionadas pelo PL foram as mesmas usadas na eleição de Bolsonaro em 2018.


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