Conversa de carro: Anfavea e a volta do popular

Conversa de carro: Anfavea e a volta do popular

Montadoras brasileiras debatem alternativas para destravar o mercado

Renato Rossi

Fiat Mille virou sinônimo do carro acessível

publicidade

A Associação Nacional dos Fabricante de Veículos Automotores (Anfavea) promoveu mais um encontro na virtualidade com a imprensa especializada, a partir de sua sede em São Paulo. Segundo o presidente da entidade, Marcio de Lima Leite, que é também executivo do Stellantis, “apesar da melhora nos números de vendas da indústria automobilística no primeiro trimestre de 2023, a produção acumulada mostra um recuo de 50 mil unidades em relação ao primeiro trimestre de 2022. Foram produzidos 538 mil veículos, um numero que fica 8% acima do número de produção do inicio de 2022, quando a indústria automobilística brasileira e global sofria ainda os efeitos da crise dos semi condutores, hoje superada num cenário mais favorável.

Neste primeiro quadrimestre, já que podemos incluir abril, a queda na produção tem outras causas, como as altas taxas de juros que inviabilizam o crédito, a queda acentuada do poder aquisitivo que retira o poder de compra em todos os segmentos da economia, além dos custos internacionais das matérias primas em alta, que pressiona o custo das montadoras.

A retração no mercado gera o fechamento temporário de oito unidades industriais das montadoras o que, por sua vez, significará que até 40 mil unidades deixarão de ser produzidas, o que pode afetar o abastecimento do mercado durante o ano. Mas, sem dúvida, o governo e a iniciativa privada devem com urgência rever as taxas de juros, as maiores do mundo no momento. “Se persistir, pode haver mais fechamentos de fábricas e possivelmente o desemprego, que tem sido evitado ate o momento”, relatou o executivo do Stellantis. Segundo Moreira Leite, “as vendas acumuladas de veículos no trimestre, chegando a 472 mil unidades, significam um aumento de 16,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas não há euforia, porque os números de 2022 foram insatisfatórios. Neste ano, as vendas em março só não foram piores devido ao aumento de 28% nas vendas corporativas, principalmente para as locadoras de veículos, que renovaram suas frotas. Mas a venda corporativa é uma parte. São as vendas na rede de revendedores que sustentam as montadoras em qualquer lugar do mundo. “Por isso, temos que achar soluções para reaquecer o mercado”, enfatizou.

O Presidente da Anfavea voltou ao tema do “carro popular”, que não é novidade no mercado do Brasil. “Nós tivemos uma experiência bem sucedida no lançamento de um “carro popular” no ano de 1983. Naquele momento houve a coordenação de atitudes entre o Governo Federal e as Câmaras Setoriais que visaram achar uma solução para um mercado em queda. Então o Governo reduziu o IPI a ‘zero’, o que baixou consideravelmente o preço final de modelos que já estavam no mercado”, lembrou Moreira Leite. “A Fiat, prosseguiu, havia lançado o Uno em 1984 e o carro logo se tornou um sucesso de vendas.” O pequeno por fora, mas enorme por dentro, como comunicava a publicidade, tornou-se um sucesso de vendas. Como “carro popular”. o Uno dotado de um bom motor 1.0, chamado Mille, ampliou geometricamente as vendas do modelo e induziu as outras marcas a lançarem também seus “populares”, como o Chevette Junior da GM, entre outros. E assim as vendas praticamente duplicaram a partir de 1983, com a classe média voltando ao mercado.

Para o executivo, “hoje não poderíamos lançar um popular, ou carro de entrada reduzindo sua tecnologia ou rebaixando seu conforto. O consumidor evoluiu junto com a indústria automobilística, e tem a disposição carros seguros, bonitos e com ótima dirigibilidade”, citou. “A legislação também evoluiu e sistemas de segurança ativa e passiva são mandatórios. Ai estão os carros médios com seis airbags, com sistemas de ração e estabilidade, com frenagem automática emergencial, entre outros sistemas. E motores turbinados evoluídos na tecnologia geram muita potencia com custo ambiental reduzido. Se penarmos num novo carro popular, todos estes fatores serão levados em consideração”, ponderou o executivo.

“É lógico que será um grande desafio para as montadoras colocarem também um preço competitivo neste novo carro de entrada, acessível a uma maioria”, concluiu.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895