Conversa de Carro: Salão de Munique opõe duas realidades

Conversa de Carro: Salão de Munique opõe duas realidades

ONGs denunciam demora da adaptação da indústria, que quer mostrar lado sustentável

Renato Rossi

Manifestação do Greenpeace em Munique

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Devido à transição para o carro elétrico, a indústria automobilística não é a mesma que se apresentava num Salão de Frankfurt dos anos 1990. Quando o Greenpeace colocou na frente da área de exposição na região central de Frankfurt uma monstruosa escultura feita de carcaças de automóveis enferrujadas, adornadas por um grande painel onde se lia: "Rust in Peace". Uma ironia com a frase "rest in peace", descanse em paz.

No futuro previsto pelo Greenpeace as carcaças enferrujadas prevaleceriam e tomariam o mundo. Nos anos 1990, o automóvel movido a diesel ou gasolina era vulnerável às criticas sobre resíduos tóxicos como dióxido e monóxido de carbono. Os motores a combustão, devido às legislações restritivas sobre emissões, têm hoje um nível 70% mais baixo em relação aos motores de décadas passadas. O mundo agora se move em velocidades variadas na direção do carro elétrico. Mas o Greenpeace não sossega. Ali estão mergulhados três carros de ultima geração.

Num pequeno lago próximo ao Centro de Convenções onde se realiza a parte coberta do Salão, carros afundados remetem às enchentes que recentemente causaram mortes e destruição no interior da Alemanha. Se os ambientalistas  alertavam para um futuro repleto de "sucatas", agora avisam sobre a loucura climática. O automóvel "fóssil" que representa 95% da frota global, ainda é o alvo. Mas o GreenPeace deve entender que a indústria do carro participa da batalha dramática pela continuidade do planeta.

O atual Salão de Munique é uma extensão ao ar livre do Salão de Frankfurt, que teve uma última e melancólica edição em 2021. Com poucas montadoras presentes. A Pandemia próxima e sua herança medida em milhões de mortos era algo assustador, que tirou o brilho do último evento em Frankfurt. Passados três anos, os organizadores transferiram a sede para Munique, com sua bela área urbana arborizada e um grande centro de convenções.

Além da mostra de centenas de veículos de última geração, há um congresso sobre a tecnologia e perspectivas dos carros elétricos. Patrocinado pelas montadoras chinesas, com apoio do Governo da China. O Governo da Alemanha permitiu que chineses fossem os promotores porque o gigante asiático abriu as portas às marcas europeias.

Somente no inicio de 2022, o SUV Atos 3 da BYD, o Yuan comercializado no Brasil, ganhou cinco estrelas nos testes de impacto e pode circular livremente pela Europa. Hoje as marcas chinesas com seus elétricos prevalecem nos mercados do norte da Europa: Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia. A Europa ficou quieta diante da invasão porque a China é um grande mercado para os produtos europeus.

Num mundo cada vez mais polarizado pela disputa Geopolitica a Europa é uma espécie de Poder Moderador que se inclina para as superpotências para sua própria sobrevivência. Afinal os carros europeus necessitam do mercado da China e os chineses necessitam do mercado automobilístico europeu; ainda o de maior prestigio do mundo. Para os analistas de mercado o Salao de Munique pode ser a porta de entrada das marcas chinesas na Europa: os chineses querem seduzir o consumidor europeu com carros elétricos com qualidade e preço acessível. Munique é na verdade uma competição entre a China e o Ocidente. E 41 % dos fabricantes que expõem em Munique tem suas sedes na China. São marcas poderosas como Geely, Leapmotors, BYD, Niro, Saic, Great Wall entre outras. Para o presidente mundial do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, "a China se beneficiou de sua excessiva mão de obra, que por décadas se contentou com baixos salários para prodjuzir obsessivamente. As montadoras chinesas tem o mérito de terem evoluído no carro elétrico. E seus produtos Tem muita qualidade. Mas os fabricantes europeus e particularmente a Volkswagen tem que ser competitivos ao mesmo nível dos chineses . E trabalhamos duro na redução dos custos de produção e geração de uma tecnologia elétrica superior."

Mais de um milhão de visitantes estarão em Munique nesta semana. Serão recepcionados também pelo lado hostil. "A industria automobilisitica continua a produzir carros em excesso, no estimulo ao transporte individual. A maioria dos carros que produz são e serão movidos a combustível 'fóssil, muitos anos a frente'. Ainda são carros pesados e inadequados ao futuro. A industria automobilística vai afundar o planeta em sua associação a Industria do Petroleo que não cessara da noite para o dia". Afirmou a porta-voz do Greenpeace Marissa Reiserer. Nem tudo são rodas e flores cheirosas nos belos jasrdins de Munique. O mundo anda feio. E ainda cheira a petróleo.


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