25 de janeiro de 1923: Posse de Borges de Medeiros é estopim da revolução no RS

25 de janeiro de 1923: Posse de Borges de Medeiros é estopim da revolução no RS

Há 100 anos tinha início o último grande conflito armado no Rio Grande do Sul e que mudaria a história política gaúcha

Conflito armado eclodiu em janeiro de 1923 após a posse de Borges de Medeiros

Por
Correio do Povo

O dia 25 de janeiro de 2023 marca os 100 anos do início da Revolução de 1923, conhecido como o último grande conflito armado civil do Rio Grande do Sul, na qual chimangos e maragatos foram colocados em lados oposto novamente.

O estopim do movimento, que já vinha sendo fermentado internamente por meses e que trazia consigo ainda um inconformismo com a Constituição de 1891, foi a posse de Borges de Medeiros, do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) no comando do Rio Grande do Sul, que na época era chamado de presidência. Era a quinta eleição dele para o cargo, porém, desta vez foi amplamente contestada pelo adversário, Joaquim Francisco de Assis Brasil, do então Partido Libertador (PL). O conflito vai colocar, de um lado, Borges de Medeiros e seus aliados, os chimangos (de lenços brancos), e do outro Assis Brasil e os maragatos (de lenços vermelhos). Porém, mais do que a disputa pelo poder político do Rio Grande do Sul, o conflito também terá outros desdobramentos e marcará a história gaúcha. Lideranças locais ampliaram o seu espaço na política nacional e impulsionaram, por exemplo, a carreira política de Getúlio Vargas, em 1930. 

Porém, para entender em parte o início da turbulência política de 1923, é preciso dar um passo atrás e focar no contexto político nacional. Em 1922, Artur Bernardes é eleito presidente da República, em uma eleição contestada e que contava com repúdio de alguns governos estaduais. Bernardes vencera Nilo Peçanha, que havia tido o apoio de Borges, e tentava amenizar a crise política nacional. 

No RS, enquanto isso, 1923 começava em clima tenso, diante das contestações da vitória de Borges de Medeiros, que chegava ao seu quinto mandato, após vencer Assis Brasil. O discurso de que o pleito tinha sido fraudado foi a base para o estremecimento político, que eclodiu no dia 25 de janeiro. Os movimentos eram em contestação ao governo recém empossado. Os revolucionários acreditavam que com a revolução, o presidente da República faria uma intervenção federal no Estado. Porém, como a situação de Bernardes era precária, acabou por não ocorrer. 

O conflito armado deixou cerca de mil mortos, número inferior na comparação com a revolução de 1893 - conhecida como Revolução Federalista -, com mais de dez mil óbitos. Além disso, as forças eram desiguais, uma vez que Borges contava com milhares de combatentes da Brigada Militar, enquanto os revolucionários eram pequenos grupos. A diferença de força fez com que as estratégias adotadas fossem diferentes para cada grupo. Ao longo de quase um ano, vão ocorrer várias batalhas, entre as mais conhecidas a de Poncho Verde, em Dom Pedrito, e a tomada de Pelotas. 

Diante do crescimento do movimento e de embates, o governo federal fez, em abril, uma primeira tentativa de terminar com o conflito. Porém, sem sucesso. Foi apenas meses depois, que por meio de uma nova negociação, a pacificação viria. A chegada do ministro da Guerra, general Setembrino de Carvalho, ao Estado com a função de mediar as negociações foi o diferencial. Assim, após quase um ano, o Pacto de Pedras Altas, que teve as adesões de Borges e Assis Brasil, colocou fim ao movimento revolucionário. Por meio do acordo, Borges de Medeiros permaneceria no mandato, com o reconhecimento do governo federal, mas comprometia-se a não disputar uma nova reeleição.

Tropas do general Felipe Portinho na Revolução de 1923 | Foto: CP Memória

Os grupos envolvidos

QUEM ERAM OS LEGALISTAS

  • Formado pelo Partido Republicano Rio-grandense e identificado pelo laço branco. Eram os chimangos. Antônio Augusto Borges de Medeiros, então governador do Estado, era o chefe civil e militar.
  • O grupo era estimado em 12 mil homens, 2,1 mil deles da própria Brigada Militar. O restante foram destacados em cinco brigadas provisórias. Os principais comandantes eram José Antônio Flores da Cunha (responsável pela Brigada do Oeste), general honorário Firmino de Paula (Norte), coronel Juvêncio de Lemos (Sul), general Firmino Paim Filho (Nordeste) e coronel Claudino Nunes Pereira (Centro).
  • Destacaram-se também Getúlio Vargas (em São Borja), tenente-coronel Osvaldo Aranha (em Alegrete) e o mercenário uruguaio Nepomuceno Saraiva.

QUEM ERAM OS REVOLUCIONÁRIOS

  • Formado pelo Partido Libertador e identificado pelo laço vermelho. Eram os maragatos. O fazendeiro, diplomata e escritor Joaquim Francisco de Assis Brasil era o chefe do grupo, que estavam armados de maneira precária. 
  • O número de homens que integravam os maragatos é desconhecido, mas também estavam divididos em cinco regiões, cada uma delas com um contingente entre 700 e 1,8 mil homens. Os principais comandantes eram Honório Lemes da Silva (na Divisão do Oeste), José Antônio Netto e Zeca Netto (Sul), Estácio Azambuja (Centro), Leonel Rocha (Norte) e Felipe Portinho (Nordeste) Todos eram caudilhos.
  • Também destacaram-se Batista Luzardo, que se tornaria embaixador do Brasil, e o degolador uruguaio Adão Latorre. 

Tratado de paz foi assinado em 15 de dezembro de 1923 | Foto: CP Memória

Cronologia

Segundo registros do livro "História da República Brasileira", de Hélio Silva e Maria Cecília Ribas Carneiro.

  • 15 de novembro de 1922: Artur Bernardes toma posse como presidente da República. 
  • 25 de novembro de 1922: eleições no Rio Grande do Sul para presidência do Estado. Antônio Augusto Borges de Medeiros é eleito para o quinto mandato.
  • 6 de janeiro de 1923: parecer da Comissão de Constituição de Poderes reconhece Borges de Medeiros como presidente do RS.
  • 25 de janeiro de 1923: Borges é empossado. Na serra gaúcha, o deputado oposicionista Artur Caetano inicia a revolução, que será seguido por outros políticos. 
  • 3 de abril de 1923: Ocorre o cerco de Uruguaiana, comandada pelo revolucionário Honório de Lemes, sendo seguida pela Batalha de Vista Alegre. 
  • 4 de maio de 1923: Ministro Tavares de Lira é recebido por Borges de Medeiros, para conversar sobre o conflito gaúcho a pedido do presidente da República.
  • 1º de junho de 1923: Ocorre a Batalha de Santa Rosa. No dia 19 de junho, outro confronto ocorre, mas na Ponte do Ibirapuitã. 
  • Setembro de 1923: ocorrem as batalhas de Poncho Verde, de Quaraí e Quaraí-Mirim e da Passagem do Ibicuí (Passo do Catarino).
  • Outubro de 1923: período com mais confrontos, totalizando sete.
  • 1º de novembro de 1923: Chega a Porto Alegre o general Setembrino de Carvalho, ministro da Guerra, para auxiliar na resolução do conflito. 
  • 15 de novembro de 1923: Em Bagé, ocorre o encontro entre Assis Brasil e o general Setembrino. 
  • 22 e 23 de novembro de 1923: Começa a elaboração do acordo de pacificação. 
  • 14 de dezembro de 1923: Ata de Pacificação, redigida no Castelo de Pedras Altas, é assinada pelos revolucionários. 
  • 15 de dezembro de 1923: Borges assina o Pacto de Pedras Altas, no Palácio do Governo.

Veja algumas capas do Correio do Povo do ano de 1923 com a cobertura do conflito:

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895