A nova safra do judô gaúcho

A nova safra do judô gaúcho

Nomes como Sara Mendes, Gabriel Gnoatto e Maria Argemi surgem como as principais promessas do Estado

Por
Maria Clara Centeno* e Fabrício Falkowski

Maria Portela, uma das judocas gaúchas mais importantes da história, anunciou a sua retirada dos tatames no início do mês. Após disputar três edições dos Jogos Olimpícos e conquistar dezenas de medalhas ao redor do mundo, a atleta da Sogipa, nascida em Júlio de Castilhos, encerrou a carreira. Mas, pródigo na formação de grandes judocas, o Rio Grande do Sul já prepara uma nova safra de competidores que substituirão Portela e se juntarão a outros craques nascidos abaixo do rio Mampituba, como Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, na Seleção Brasileira de judô.

Sara Mendes (na foto acima) é um desses talentos que despontam nesse momento. Apesar de só ter 14 anos – faz 15 em agosto –, a atleta gaúcha que treina na Sogipa conquistou a vaga de titular da Seleção Brasileira sub-18 ao vencer uma sequência de duas seletivas realizadas em dezembro, em São Paulo, e janeiro, no Mato Grosso do Sul.

O talento de Sara, no entanto, não pode ser considerado mera coincidência. Ela é filha de Moacir Mendes Júnior, um dos judocas mais talentosos da geração passada, que hoje é treinador de ne waza (técnicas de luta no solo) da equipe principal da Sogipa.

Enquanto competiu, Moacir amealhou títulos e viajou o mundo competindo pelo Brasil. Agora, enxerga na filha a continuação de sua própria história nos tatames. “Sou suspeito para falar, mas a Sara tem uma coisa diferente. Ela quer muito ser judoca e é muito concentrada nas coisas que faz. Ela não tem dúvida. Pelo contrário: ela tem certeza absoluta que é isso que ela quer e está disposta a pagar o preço para chegar lá”, diz Moacir, sem esconder o orgulho de pai.

O encaminhamento da menina no esporte foi natural. Assim que largou as competições, Moacir passou a ser treinador. E não raras vezes, levava Sara consigo, desde muito pequena. “Ela me acompanhava sempre. Adorava. Sempre gostou. Brincou no tatame desde bebê e, assim que deu os primeiros passos, já começou a treinar também. Tudo muito natural, sem ninguém forçar. Como ela gosta muito de treinar e competir, foi evoluindo. Claro que o meio também ajuda. A Sogipa tem uma equipe excelente, em todas as categorias, o que eleva o nível de todo mundo”, enfatiza o pai da judoca.

Sara poderia sentir o peso por seguir as pegadas do pai e isso de fato aconteceu até pouco tempo atrás, mas ela garante ter superado. “Meu pai é meu grande incentivador, mas eu acabei sendo a 'filha do Moacir' durante muito tempo. Acho que, depois dos meus últimos resultados, comecei a construir o meu próprio caminho", diz, mais confiante, Sara, que se prepara para viajar à Europa com a Seleção Brasileira, onde deve participar de competições na Alemanha, França e Polônia entre abril e maio.
*Sob supervisão de Carlos Corrêa

O esporte no DNA

Em mais uma demonstração que o esporte vem do berço, Gabriel Gnoatto é filho de Gerson Gnoatto, um dos maiores ginastas do Rio Grande do Sul. Formado na Sogipa, ele participou dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Gabriel, hoje com 14 anos, até experimentou a ginástica, mas foi conquistado pelo judô desde cedo. No ano passado, foi campeão brasileiro da categoria sub-15 e medalha de prata do Campeonato Pan-Americano disputado no Panamá. Atualmente, divide-se entre a escola, onde está no nono ano do ensino fundamental, e três sessões diárias de treinos na Sogipa, onde divide o tatame com estrelas do judô mundial como Mayra Aguiar e Ketleyn Quadros, ambas medalhistas olímpicas. “Meu sonho é um dia disputar uma Olimpíada. E acho que estou no caminho certo”, diz Gabriel.


‘Meu sonho é um dia disputar uma Olimpíada’, afirma Gabriel Gnoatto, uma das promessas do judô gaúcho | Foto: Divulgação Sogipa / CP

Gosto pelas competições

Aos 16 anos, Maria Argemi, judoca do Grêmio Náutico União, é a atual campeã da Seletiva Nacional Sub-21 de sua categoria. A competição foi a primeira a contar pontos para o ranking 2023, por meio do qual a atleta mira uma vaga em circuitos internacionais. Com mais de uma década dedicada ao esporte, já foi medalhista em campeonato brasileiro sênior. “Desde o meu primeiro contato com competições, sempre gostei muito”, conta. Atualmente, ela concilia os treinos e a escola, cursando o segundo ano do Ensino Médio. Lidar com as lesões está entre as maiores dificuldades do dia a dia da judoca. Recentemente, teve uma no joelho e precisou ficar seis semanas afastada dos tatames. “Foi um momento em que pude ver que realmente amo o meu esporte e pude voltar mais determinada ainda”, lembra. O sonho de Maria, claro, é estar nos Jogos Olímpicos um dia.


Maria concilia a rotina de estudos do segundo ano do Ensino Médio com os treinamentos no Grêmio Náutico União | Foto: Fabiano do Amaral / CP

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