Arábia se constitui como nova Meca do futebol

Arábia se constitui como nova Meca do futebol

País é o novo destino lucrativo para alguns dos melhores jogadores do mundo

Por
Chico Izidro

A Saudi Pro League (Liga de futebol da Arábia Saudita) ganhou os holofotes nos últimos tempos no mundo, obtendo ainda mais visibilidade com a recente ida de Neymar para o país do Oriente Médio. Assim como já aconteceu em anos anteriores com os mercados do Japão, Estados Unidos e China, a Arábia Saudita é o novo destino lucrativo para os melhores jogadores do planeta.

Vários atletas brasileiros e europeus já estavam desbravando aquele mercado, como por exemplo o ex-goleiro do Grêmio Marcelo Grohe e o ex-atacante do Corinthians Romarinho. Mas, em janeiro deste ano, o craque português Cristiano Ronaldo desembarcou para atuar pelo Al-Nassr. E agora, na última janela de transferências, nomes como Roberto Firmino, Karim Benzema, N'Golo Kanté, Sadio Mané, entre outros, também migraram para o futebol saudita.

Somente os considerados quatro grandes clubes locais, Al-Ahli e Al-Ittihad, ambos da capital Riad, e Al-Hilal e Al-Nassr, de Jedá, cidade portuária na costa do Mar Vermelho, investiram mais de 224,6 milhões de euros, ou mais de R$ 1,1 bilhão em contratações.

O Fundo de Investimento Público (PIF), estatal da Arábia Saudita supervisionada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, assumiu a presidência desses quatro. Assim, estas equipes têm à disposição uma fortuna para gastar nos próximos anos. O objetivo da família real na Arábia Saudita é aumentar a receita da liga profissional, chegando até os 489 milhões de dólares (R$2,3 bilhões) em 2030. A Saudi Pro League fica em quinto lugar em investimentos, atrás da Premier League, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, e na frente da espanhola La Liga.

Além disso, a Arábia Saudita já garantiu a organização da Taça das Nações Asiáticas de 2027 e os Jogos Asiáticos de Inverno de 2029. O país quer ainda organizar também os Jogos Olímpicos e o grande sonho, a Copa do Mundo de 2030, que também está nos planos do Uruguai e Argentina, que pretendem sediar conjuntamente a competição em seu centenário. Se não rolar o Mundial, os sauditas vão tentar em 2034.

De onde vem o dinheiro

O dinheiro árabe vem do petróleo, principal produto exportador da Arábia Saudita. No entanto, o príncipe herdeiro e governante Mohammed bin Salman tenta ampliar e diversificar a economia do país, que conta atualmente com investimentos em empresas das áreas de infraestrutura, energia, farmacêuticas, entre outras. Todos estes investimentos ajudam a manter a segurança do regime ditatorial, mas também mostram para o resto do mundo o poder e a atratividade econômica saudita.

E existem múltiplas razões para o governo saudita utilizar o futebol, esporte preferido do público local. Em um total de 36 milhões de habitantes, 70% da população tem idade inferior a 35 anos e é apaixonada pelo esporte bretão. Mohammed bin Salman vem centralizando o poder e quer renovar a legitimidade da monarquia apostando no nacionalismo e menos na religião, dominante nos costumes do país. Para isso, utiliza o futebol e seus atrativos. É até uma forma de contentar o povo que, apesar da riqueza do país, vive em um estado opressor, principalmente para as mulheres. Elas, nos últimos anos até obtiveram algumas conquistas, como, por exemplo, poder dirigir, ir à escola ou viajar sem precisar estar acompanhadas de um homem da família.


Torcedores do clube de futebol saudita Al-Hilal fazem fila para comprar camisetas com o nome (Neymar Jr) e número (10) do atacante brasileiro | Foto: FAYEZ NURELDINE / AFP / CP

As características do campeonato saudita

O campeonato saudita é disputado por 18 times, que se enfrentam no sistema de pontos corridos, em 34 rodadas. Os quatro times beneficiados pelo Fundo de Investimento Público (PIF) são considerados os favoritos ao título. Aliás, a opção do benefício para Al-Ahli, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Nassr provocou ressentimentos em outros clubes, como por exemplo o Al-Shabab, equipe que não foi escolhida pelo fundo soberano. Nas redes sociais, muitos torcedores protestaram contra a decisão governamental.

O maior campeão nacional é o Al-Hilal, comandando pelo ex-flamenguista Jorge Jesus, que agora conta com Neymar, com 18 títulos. O craque brasileiro se une a Rúben Neves, Kalidou Koulibaly, Sergej Milinkovic-Savic e Malcom. O Al-Nassr, dirigido por Luís Castro, ex-Botafogo, acertou a contratação de Marcelo Brozovic, Séko Fofana, Alex Telles e Sadio Mané. Cristiano Ronaldo já estava no clube desde o começo do ano. O time é detentor de nove taças. No Al-Ittihad, atual campeão da liga e nove títulos no total, chegaram Karim Benzema, N’Golo Kanté, Jota e Fabinho, que jogarão ao lado do ídolo gremista Marcelo Grohe. Os salários de Benzema e Kanté serão maiores do que de sete elencos da Premier League.

O Al-Ahli é dos grandes que está há mais tempo sem ser campeão, com jejum desde 2016, tendo três títulos no total. O clube tirou do Chelsea o senegalês Mendy, eleito pela Fifa o melhor goleiro em 2021. Também fechou com Roberto Firmino e o volante Kessié. Acertou ainda com Riyad Mahrez, Allan Saint-Maximin e Roger Ibañez. Os outros campeões nacionais sauditas são o Al Shabab, com seis conquistas, o Al-Ettifaq, da cidade de Dammam, com duas taças, e o Al-Fateh, de Al-Hasa, com um título.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895