As surpresas e as decepções

As surpresas e as decepções

Quem decepcionou e quem surpreendeu no Brasileirão 2023

Por
Carlos Corrêa

O Campeonato Brasileiro chegou ao fim nesta semana confirmando algumas expectativas e indicando um bom punhado de decepções. Se algumas equipes como Grêmio e Red Bull Bragantino foram mais longe do que se supunha, outras como Inter e Corinthians renderam menos do que se esperava. Isso sem falar no Botafogo, que merece um capítulo à parte em 2023.

Sem taça no armário, mas acima das expectativas

Toda e qualquer avaliação da expectativa de uma equipe ao final de uma competição está ligada à posição em que o time terminou na tabela. Até aí, nenhuma novidade. No entanto, nem sempre o primeiro lugar significa que o campeão superou as expectativas ou que muitos dos que vieram atrás foram decepções. O Campeonato Brasileiro nesta temporada é um dos melhores exemplos desta leitura. O Palmeiras levantou a taça na quarta-feira de fato, mas desde o domingo passado, quando venceu o Fluminense, já era o campeão virtual, tamanha a vantagem no saldo de gols caso fosse igualado em pontos. Só que o time paulista sempre esteve entre os favoritos. Logo, não é errado apontar que o Alviverde ficou dentro do que dele se esperava. Por outro lado, há aqueles que sequer terminariam num pódio fictício, mas pode se dizer que superaram toda e qualquer expectativa. Nesse sentido, o melhor caso do Brasileirão de 2023 é o Grêmio. Oriundo da Série B no ano passado, no discurso o Tricolor entrou em campo almejando o título e tudo de maior. Na prática, no entanto, o torcedor sabia que a régua não seria tão alta, dada a concorrência endinheirada de adversários como Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro. De quebra, o time que encerrou a temporada passada foi praticamente remontado para este ano, criando um obstáculo a mais para que sonhos maiores virassem realidade. Só que em 2023, o sonho da torcida gremista atendeu pelo nome de Luis Suárez (foto). E, bem, aí tudo mudou. Capitaneado pelo craque uruguaio, o Grêmio brigou pelo título quase até o fim. Não levou, mas garantiu uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores do ano que vem, o que poucos apostavam lá por abril. A equipe de Renato Portaluppi não foi a única a superar expectativas no Brasileirão. O Red Bull Bragantino foi outro bom representante. O time do interior paulista deixou adversários tradicionais para trás e se manteve com chances reais de título até as últimas rodadas. O Cuiabá, por motivos diferentes, também foi bem, já que pouco se viu ameaçado de rebaixamento.

Um campeão dentro do que se esperava

Pode parecer negativo afirmar que o Palmeiras pouco surpreendeu em termos de expectativas no Campeonato Brasileiro deste ano. No entanto, o simples fato de afirmar que o campeão brasileiro teve o papel que dele se esperava só demonstra o patamar que alcançado nos últimos anos. Não houve quem fizesse sua lista de favoritos ao título em abril e não apontasse o alviverde. O campeonato deu suas voltas, se jogou para o Botafogo, mas o Palmeiras sempre esteve na ponta de cima. A virada histórica no Engenhão do 3 a 1 com pênalti contra para um 4 a 3 sob comando do fenômeno Endrick, foi o divisor de águas para os dois. Da mesma forma, ainda que não tenham saído com a taça, Atlético Mineiro e Flamengo também cumpriram o que deles se esperava na competição e chegaram à última rodada com chances matemáticas de título. É bem verdade que o Rubro-Negro oscilou bem mais do que se previa e nem mesmo com a chegada do técnico Tite, em seu primeiro trabalho depois de deixar a Seleção Brasileira, conseguiu alcançar regularidade. Mesmo assim, cumpriu o seu papel de favorito. Equipes como São Paulo e Fluminense merecem outros tipos de avaliações porque conquistaram objetivos diferentes ao longo do Brasileirão, que fizeram valer a temporada de qualquer forma: os paulistas campeões da Copa do Brasil e os cariocas da Libertadores.

Muito abaixo do que se imaginava para o Brasileirão

O Brasileirão é um dos campeonatos mais difíceis do mundo, senão o mais difícil. Logo, se 20 clubes participam, 19 terminarão sem um troféu. Muitos terão pelo menos a sensação do dever cumprido e da luta até o fim. Para outros, no entanto, o sentimento que fica é de decepção. Até porque a taça é para um só, mas pelo menos outros cinco também conquistam uma vaga na Copa Libertadores. Para equipes do porte de Inter, Athletico Paranaense, Corinthians e até mesmo o Fortaleza, terminar a competição sem sequer um lugar na Pré-Libertadores é frustrante. Pegue-se o caso do Inter, por exemplo. O time havia engatado uma bela campanha de recuperação no Brasileirão do ano passado e terminou a competição em segundo lugar — ainda que longe de disputar o título. 
Pela primeira vez, depois de muitos tempo, manteve o técnico na virada do ano, no caso Mano Menezes, e grande parte do elenco. Era de se esperar um time mais azeitado em 2023. O que se viu, porém, foi um primeiro semestre desastroso que culminou na queda de Mano. Veio Eduardo Coudet para o seu lugar e o Inter quase decidiu a Libertadores. Mas ao priorizar a competição continental, correu riscos no Brasileirão e só foi ter a certeza da permanência na Série A nos últimos jogos. Em situação pior estiveram Corinthians e Cruzeiro, que correram perigos ainda maiores, assim como Bahia e Vasco, que só escaparam mesmo na última rodada. Quanto aos quatro rebaixados – Santos (foto abaixo), Goiás, Coritiba e América Mineiro — não restam dúvidas sobre o quanto decepcionaram.


Foto: ABNER DOURADO / ESTADÃO CONTEÚDO / CP

Têm coisas no futebol que só acontecem com o Botafogo

Existe um ditado informal que há muito circula no futebol brasileiro. Ele afirma que “certas coisas só acontecem com o Botafogo”. Ao contrário do que pode parecer, tem menos um viés de corneta e deboche dos rivais e mais um sentimento de pena. Porque, de fato, têm certas coisas que só acontecem com o Botafogo (foto abaixo). No pior dos sentidos. No mais cruel dos sentidos. E talvez em 2023 o destino tenha sido mais cruel do que nunca com os botafoguenses. O clube da estrela solitária merece um texto à parte porque é complicado definir qual o saldo final. Tudo depende da ordem dos fatores na frase. “O Botafogo chegou muito mais longe de que qualquer um poderia imaginar, mas não foi campeão”. “O Botafogo não foi campeão, mas chegou muito mais longe do que qualquer um poderia imaginar”. Ambas estão corretas. O problema é que por mais que não recaíssem grandes expectativas sobre o time carioca, o sentimento final, e que tudo indica vai perdurar por anos, é de uma decepção sem fim. Sim, ninguém esperava nada do Botafogo no começo do Brasileirão. Até que o time fez um primeiro turno beirando a perfeição e disparou na liderança como nunca antes outro clube fizera. Chegou a abrir 13 pontos de vantagem para o segundo lugar. O título era só uma questão de tempo. Mas têm coisas que só acontecem com o Botafogo. O alvinegro carioca fez campanha de rebaixado no returno, deixou escapar vitórias incríveis e viu a taça escorregar pelos dedos. Foi um time acima da expectativa. E ainda assim uma grande decepção.


Foto: DHAVID NORMANDO / ESTADÃO CONTEÚDO / CP 

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895