Basquete para além da quadra

Basquete para além da quadra

De olho na ligação do esporte com o público, espaço na zona norte da Capital é alternativa para aproximar os amantes da modalidade

Por
Victória Rodrigues*

Dentro e fora de quadra, o basquete sempre influenciou significativamente todos que se envolvem na modalidade. A prática tradicional da cultura esportiva nos Estados Unidos se desenvolveu nas ruas das cidades em paralelo ao movimento do hip hop que crescia nos guetos norte americanos. No Brasil, o esporte ganhou o asfalto com o nome de “basquete de rua” e, no início, foi ofuscado pelo seu equivalente no futebol, a folclórica “pelada”. Com o tempo, o basquete ganhou espaço timidamente e passou então a entrar na realidade das comunidades. Os parques foram ambientes para diversão e lazer dos jovens e logo se tornaram cenários comuns para as competições. Para o jogo acontecer era muito simples: bastava uma cesta, uma tabela e um grupo de amigos suficientes para fechar dois times. 

Atualmente, o basquete cresce cada vez mais no Brasil. Pensando nessa demanda, o Dunk Park surge como alternativa para aproximar o público porto-alegrense da prática. A “Casa do Basquete”, como está sendo conhecida, possui quatro quadras, um bar e um telão de 150 polegadas para transmissão de jogos da NBA e do Novo Basquete Brasil (NBB). Anderson Wintter é o idealizador do projeto comercial e, após praticar o esporte pela Sogipa, União e Lindóia até os 18 anos, se afastou das quadras para cursar Engenharia Civil. Durante a pandemia teve acesso a um pavilhão vazio na zona norte da Capital e desenvolveu o projeto. Um megaginásio totalmente voltado para o basquete. “A ideia vem de uma necessidade de ter um espaço pensado para comunidade”, conta Anderson. “A gente começou em 2021 já com grande adesão do público e nesse ano, até agora já estamos com uma demanda muito alta”, completa.

O espaço recebe tanto o público de Porto Alegre quanto o da região metropolitana para jogar por diversão e, também, fazer aulas. Com o crescimento, o próximo passo é a ampliação com mais uma quadra para suprir a procura. “O plano é inaugurar já no primeiro semestre do ano que vem”, relata o engenheiro. 

Inserção de mulheres é um ‘trabalho de formiguinha’

Com pouco menos de um século de existência, o basquete feminino também vem ganhando espaço no Brasil. De olho nisso, Anderson Wintter começou um bate-bola no Dunk para que as meninas tivessem uma interação com o jogo. Atualmente, as turmas de adulto e master já contam com mais de cem mulheres com idades variadas. Anderson conta que ter uma treinadora feminina é um incentivo para as meninas continuarem nas aulas. “Uma técnica mulher ajudou muito para conseguir manter o grupo unido e entender o melhor jeito para que elas seguissem jogando”, explica o idealizador.

Apesar de existirem poucas competições para o basquete feminino em Porto Alegre, a iniciativa tenta encaixar as jogadoras no que conseguem. Neste ano, o espaço conseguiu organizar, em parceria com a Prefeitura, o primeiro Campeonato Municipal Master de Basquete, para tentar incluí-las nos torneios. “Começou com três ou quatro interessados, mas no fim, infelizmente não fechou o time”, lamenta Anderson. Já no Campeonato Municipal Adulto, as mulheres conquistaram o terceiro lugar. “É um começo, mas é um trabalho de formiguinha para manter o grupo engajado”, finaliza. 


Público feminino também se faz presente nas quadras. Atualmente, aproximadamente uma centena de mulheres de todas as idades ou faz aula de basquete, ou apenas ‘bate uma bola’ | Foto: Lucas Freitas / Divulgação / CP

Estímulo na prática para as diferentes idades

Apresentar o basquete para as crianças é um dos objetivos do Dunk Park. O ‘baby basquete’ é uma maneira lúdica de introduzir crianças de quatro a sete anos na prática. Quanto mais novo se começa, mais fácil se adquire consciência sobre o próprio corpo e de como ele funciona. “Eles fazem uma aula menor, com uma bola mais leve para não correr o risco de machucar”, explica Anderson. “O basquete nessa idade é para a criança criar interesse pela bola, quase como recreação mas que já envolve um pouco de agilidade e de coordenação.” O engenheiro deseja passar para os jovens o que o basquete representou para ele.

Além das turmas infantis, o espaço também oferece aulas para o público 60+ que, nessa idade, deseja iniciar no basquete. Com a curva crescente do esporte no Brasil por conta da NBA, o interesse dos adultos em começar no esporte aumentou. A aposta nessas aulas é mesclar o basquete com um treino funcional. “Tem muita gente que não gosta de academia e quer jogar alguma coisa. Então o basquete entra como plano de fundo do treino, se aprende a disputar a bola, arremesso, defesa, bandeja, só que tudo isso trabalhando a parte de cardiorrespiratória junto com a coordenação que o basquete traz”, afirma o engenheiro, que prossegue. “Dentro desse grupo existem pessoas que nunca praticaram e outras que já possuem uma bagagem do esporte conseguindo treinar juntas.” Entre as praticantes desse grupo, uma foi convidada para participar do Campeonato Mundial Master pela Seleção Brasileira. A jogadora irá disputar o torneio na Argentina e nunca havia tido contato com o basquete anteriormente, algo que Anderson se orgulha muito. 

O espaço também planeja começar o projeto social ‘Adote um Atleta’. Por ficar localizado ao lado do bairro Humaitá, convive de perto com jovens em vulnerabilidade social. A ideia é iniciar com aulas dentro desses espaços sem custo e apresentar o basquete para as crianças da comunidade. Angel Fontoura, menino de 11 anos, de 1,84 metro é um exemplo do início desse projeto. “Ele estuda em uma escola que fica a duas quadras do local e sempre passava na frente, até que um dia entrou e me perguntou se podia fazer aula”, conta Anderson. Depois de conhecer a família e a situação social de Angel, o espaço possibilitou ao jovem praticar o basquete sem custos como uniforme e mensalidade, por exemplo. “A ideia é justamente essa, desburocratizar o acesso a um esporte que no Brasil se tornou um esporte de elite”, conclui Anderson. 


Projeto do Dunk Parf foi idealizado a partir da percepção de que Porto Alegre tem uma demanda significativa de praticantes de basquete que não encontram os melhores lugares para praticar | Foto: Lucas Freitas / Divulgação / CP

*Sob supervisão de João Paulo Fontoura

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895