Brasil coleciona medalhas no Pan

Brasil coleciona medalhas no Pan

País dominou o boxe nos Jogos de Santiago. As seis mulheres que viajaram voltaram para casa com medalhas

Há muito tempo, a garagem onde Beatriz Ferreira calçou as luvas pela primeira vez ficou para trás. O Brasil dominou o boxe nos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023, que terminam neste domingo. Todas das seis mulheres que viajaram à capital chilena com a delegação brasileira de boxe voltaram para casa com medalhas. “Acho que vai ter muito ouro aqui”, disse Bia, logo após vencer a final da sua luta, em Santiago.

No Pan de Lima 2019, Beatriz conquistou o único ouro do Brasil no boxe. Mas Bia não está mais sozinha... “Estamos conseguindo nos expressar melhor dentro do ringue, ter mais confiança e mostrar isso conquistando vitórias, claro”, analisa a brasileira, de 30 anos, sobre a grande atuação do país nos Jogos Pan-Americanos, com nove lutadores nas 13 finais do boxe feminino e masculino. No total, entre mulheres e homens, o país conquistou quatro ouros, cinco pratas e três bronzes. Cuba, que tradicionalmente é referência na modalidade, caiu de oito para duas medalhas de ouro, conquistadas por seus dois astros do ringue: os bicampeões olímpicos Julio César La Cruz e Arlen López. O país também somou uma prata e um bronze. 

Bia Ferreira começou no boxe na garagem da casa de sua família, em Salvador, onde seu pai, Raimundo Oliveira Ferreira, mais conhecido como ‘Sergipe’, fundou uma escola para boxeadores de baixa renda. Lá, ela começou a brincar ainda criança, com o aval paterno. Ele, aliás, lutou como amador e profissional entre as décadas de 1990 e 2000. Os dias de garagem, no entanto, acabaram. “O treino (para homens e mulheres) é o mesmo e as meninas estão com muita vontade”, disse Bia. “Nunca tivemos uma equipe completa no feminino antes. Sempre teve muito mais time masculino, sempre teve um time masculino completo, e éramos três ou quatro mulheres. Desta vez, não. Desta vez é uma equipe completa em ambos os gêneros. Tem muito mais material humano.”

Conquista das mulheres

O boxe foi proibido por lei para mulheres no Brasil entre 1941 e 1979, junto com outros esportes como futebol, levantamento de peso e rugby. Cuba, por outro lado, manteve a proibição de atletas femininas no ringue até o final do ano passado. São mais de quatro décadas de trabalho a menos. Depois de ficar com a prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Beatriz vai buscar o ouro em Paris-2024, antes de encerrar sua carreira nas competições do ciclo olímpico. Além de seu futuro pessoal, ela acredita que o futuro do boxe brasileiro será brilhante. “Tem muita gente boa, muita gente nova, que está ganhando muita experiência (...). O Brasil vai ficar bem representado”, assegura.


Bia Ferreira ganhou a medalha de ouro na categoria 60kg | Foto: Miriam Jeske / COB / Divulgação / CP


Caroline de Almeida ganhou a medalha de ouro na categoria 50kg | Foto: Miriam Jeske / COB / Divulgação / CP


Jucielen Romeu ganhou a medalha de ouro na categoria 57kg | Foto: Miriam Jeske / COB / Divulgação / CP


Barbara dos Santos ganhou a medalha de ouro na categoria 66kg | Foto: Miriam Jeske / COB / Divulgação / CP

Técnico celebra campanha histórica do boxe no Pan de Santiago, com 12 medalhas

Mateus Alves era só alegria após o Brasil encerrar sua participação no Pan de Santiago com campanha histórica no boxe. Dos 13 representantes do Brasil, 12 ganharam medalha, com as mulheres subindo no pódio nas seis categorias, sendo quatro ouros, para plena satisfação do treinador da seleção nacional. “Estou muito satisfeito com a equipe feminina, foi um desempenho monstruoso. O Brasil evoluiu muito com investimento em treinamento, participação em competições fora do Brasil, salário em dia. Hoje, Brasil e Colômbia são as potências do boxe feminino do continente”, disse o radiante Mateus Alves. 

Carol “Naka” Almeida (50kg), Jucielen Romeu (57kg), Bia Ferreira (60kg) e Bárbara Almeida (66kg) venceram suas decisões nesta sexta-feira, no Centro de Treinamento Olímpico, em Santiago, e conquistaram o ouro. O país podia ter mais gente no topo, já que Michael Douglas Trindade (51kg) e Abner Teixeira (+92kg) acabaram não disputando a final por causa de lesões. A dupla ficou com a prata, assim como Tatiana Chagas (54kg), Wanderley Pereira (80kg) e Keno Marley Machado (92kg). O Brasil tinha garantido outros três bronzes na quinta-feira, com Viviane Pereira (75kg), Luiz Oliveira “Bolinha” (57kg) e Yuri Falcão (63.5kg). Os nove finalistas se garantiram em Paris-2024. 
“Vamos buscar (as quatro categorias que ainda não classificaram). Em 13 sorteios, as chances de caírem duas ou três chaves melhores é maior. É isso. Não é só competência, tem o fator de encaixar o jogo contra os adversários. As vezes vai encaixar melhor contra um país ou outro”, previu Mateus Alves. “E fugir de adversários duros como o Julio (Cesar La Cruz, cubano que derrotou Keno na final) na primeira luta é bom. Melhor pegar na semifinal ou na final”, completou.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895