O nome, no mínimo diferente, foi insuficiente para chamar atenção no primeiro momento em que se ouviu falar do novo time de futebol da Capital. Foi preciso que o resultado aparecesse para que fosse colocada uma lupa sob o Monsoon-FC. Nascido em outubro de 2021, o clube é homônimo da empresa com sede em Dubai. Do continente asiático vem a explicação para a marca.
"O nome Monsoon vem do inglês e significa monção, um fenômeno da natureza mais presente na Ásia. As monções provocam fortes chuvas e longas secas durante diferentes períodos do ano. Trabalhamos com essa analogia de levar um tempo ruim para os adversários", explica o presidente do clube, Lucas Pires.
Lucas tem relação com Sumant Sharma, indiano que interrompeu a sua aposentadoria após ter participado da criação e da venda da Acme Packet para a Oracle, multinacional de tecnologia. "Os investimentos são feitos pela Monsoon Venture Partners, mas estamos buscando parceiros que se identifiquem com o que acreditamos e com a nossa metodologia de trabalho", antecipa o dirigente.
A trajetória meteórica do caçula do futebol da Capital chama atenção não somente pela formação diferente do clube, mas principalmente pelo que fez em pouco tempo de atividade. Em menos de um ano, o principal objetivo foi atingido. O time acaba de conquistar a Terceirona do Futebol Gaúcho assegurando vaga na divisão de acesso em 2023. E os anseios não param por aí.
Quem olha de fora a sede do clube na zona sul da Capital pode lembrar que no local, no início dos anos 2000, funcionava o Porto Alegre, time então da família Assis Moreira. O estádio João da Silva Moreira, em homenagem ao pai de Ronaldinho e Assis, é onde o time manda os jogos atualmente. A área toda do espaço com cinco campos de treinamento, academia, refeitório, salas de fisioterapia, alojamento para 250 atletas e prédio administrativo foi arrendada por dez anos.
A estrutura e o conceito administrativo com nuances do mundo corporativo soam como atrativos para que o Monsoon ganhe visibilidade também nesse sentido. Enquanto a equipe em campo mostra resultado, nos gabinetes, os responsáveis pelo projeto circulam no meio do futebol trocando figurinhas com clubes estabelecidos no cenário nacional em que a competição por formar, captar e contratar jovens talentos não é das mais acessíveis. O rótulo de clube competitivo ou formador é algo que não precisa ser estabelecido. Pelo menos por enquanto, garante o presidente. "É claro que dar esse tipo de resposta e, ao mesmo tempo, formar atletas é o ideal para o ‘caixa’ de qualquer clube. E estamos trabalhando pensando nisso. Prova disso é que já mandamos atletas para grandes clubes do Brasil, como Athetico Paranaense e Cruzeiro, por exemplo".
Prestes a completar um ano, o Monsoon colhe os primeiros frutos. De alguma maneira, a analogia de causar transtornos aos adversários, se materializou. No entanto, diferente das monções asiáticas, no futebol as chuvas e as secas são mais rotineiras.
Campeão invicto
No final de semana passado em que a dupla Gre-Nal não entrou em campo, as atenções em Porto Alegre se voltaram para o segundo jogo da final da terceira divisão gaúcha. A decisão reuniu o Bagé e o Monsson, ambos garantidos na Segundona no ano que vem. Após empate em Pelotas na partida de ida, o 1 a 0 aos 43 minutos do segundo tempo deu o primeiro título para o novato da capital. E de forma invicta.
“Surpreendeu mais quem não acompanhava o nosso dia a dia, o que acaba sendo normal já que o clube não tem nem um ano de formação. Mas estávamos extremamente esperançosos com o trabalho que vinha sendo feito e a campanha invicta e o título traduzem isso”, garante Lucas Pires.
O entusiasmo do dirigente explica-se pela celeridade do resultado obtido. Por trás do trabalho iniciado no final de 2021 existem outros responsáveis. Da Silva, ex-jogador do Inter, é o vice-presidente, Alexandre Lopes (ex-treinador) e o Cristian Souza, atual técnico, são os três responsáveis por participarem da montagem do elenco que acabou dando resposta.
Uma outra pessoa também tem contribuição importante no processo de estruturação do projeto. Fabiano Montes Doca exerce o cargo de diretor de relações institucionais. Com origem nas artes marciais, é ele quem tem feito também o contato com outros clubes e que busca ampliar a marca Monsoon. Segundo ele, além das equipes Sub-17 e Sub-20, há convênios alinhavados para que a categoria Sub-15 faça parte do horizonte em 2023. Além disso, a intenção é crescer também com escolinhas. Três cidades estão prestes a receber as primeiras sedes.
Elenco com a taça da Terceira Divisão Gaúcha | Foto: RICARDO GIUSTI
Investimento maior em 2023
Enquanto projeta a temporada do ano que vem, o clube ainda tem expectativas desportivas em 2022. A disputa da Copa da FGF reúne equipes com mais tradição do que o Monsoon, mas isso não intimida quem vem embalado pela conquista recente da terceira divisão. O “trovão azul” da zona sul segue com resultados positivos até aqui.
Até agora o Monsoon venceu os dois jogos que disputou na Copa da FGF - Troféu Tarciso Flecha Negra, em homenagem ao ex-atacante do Grêmio. Em casa bateu o Novo Horizonte e fora o Rio-Pardense, ambos por 3 a 0. Com os resultados, é o terceiro lugar no grupo C da competição, atrás de Guarani de Venâncio Aires e Lajeadense. Na próxima rodada, o adversário será o Novo Hamburgo.
No clube, há consciência de que o nível da competição é outro, o que não impede de pensar em algo maior. Enquanto isso, 2023 já é pensado. “O investimento será maior para o próximo ano, com toda certeza, já que vamos contar com outras categorias. Além disso, vamos qualificar ainda mais o nosso elenco, com a chegada de novos atletas”, encerra o presidente.
Categoria de base em ação | Foto: RICARDO GIUSTI
