Cenário promissor para a erva-mate

Cenário promissor para a erva-mate

Produtor tem conseguido bons preços graças a uma combinação de aumento de consumo e redução da disponibilidade provocada por fatores como a pandemia da Covid-19 e estiagem do ano passado. Ao mesmo tempo, indústria vê dificuldades para repassar variação dos custos e percebe perspectiva de crescimento da demanda, inclusive no exterior, pela multiplicação de usos da folha processada

Por
Otto Tesche

A estiagem do primeiro semestre do ano passado e a pandemia do novo coronavírus mexeram no cenário de um setor ligado diretamente a um dos principais hábitos dos gaúchos, o de cultivo e industrialização da erva-mate. Depois de anos com preços nem sempre atrativos durante a comercialização, os produtores comemoram agora a valorização da principal matéria-prima do chimarrão. A demanda cresceu e a oferta caiu tanto no mercado interno como no externo. Enquanto o isolamento social provocou aumento no consumo, a falta de chuva reduziu a produção e países do Mercosul tiveram de suprir suas demandas com compras no Rio Grande do Sul. Por outro lado, entre as indústrias há apreensão com a elevação dos custos e a dificuldade para repassá-la aos consumidores.
Após vários anos com valores desestimulantes para os produtores de erva-mate de algumas regiões, que levaram parte deles a substituir ervais por culturas mais rentáveis, especialmente a soja, houve aquecimento do mercado entre as safras 2018/2019 e 2019/2020, período em que o valor da arroba (15 quilos de folha verde) evoluiu da faixa de R$ 11,00 a R$ 15,00 para a de R$ 16,00 a R$ 22,00. O extensionista da Emater/RS-Ascar e coordenador técnico do Programa Gaúcho para a Qualidade e a Valorização da Erva-Mate (Pgmate), Ilvandro Barreto de Melo, avalia que o atual momento pode ser considerado como o mais otimista das três décadas mais recentes. A exportação brasileira gira na média de 35 mil toneladas ao ano e a estimativa é que em 2020 – o balanço não está finalizado – tenha passado das 40 mil toneladas. O fato novo do comércio internacional no ano passado foi a entrada da Argentina no mercado comprador. O país é reconhecido como exportador e há muito não fazia aquisições de erva-mate do Paraguai e do Brasil. 
O presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate), Álvaro Pompermayer, vê boas perspectivas de mercado para a erva-mate. “Temos uns 30 países compradores do Brasil e tem outros 20 a 30 querendo comprar”, revela. O dirigente explica que atualmente a matéria-prima entra em diversos subprodutos, como energéticos, alimentícios, de higiene e de limpeza, entre outros. 
Segundo Pompermayer, há 20 anos 98% da produção de erva-mate tinha como finalidade o preparo do chimarrão e hoje há crescimento em outros usos. “A visibilidade que o mate tem alcançado recentemente tem proporcionado a popularização do produto nos diferentes formatos de uso, o que por via de regra, amplia seu consumo e estabelece uma dinâmica inovadora nos hábitos da população mundial, saindo de vez do limite regional e conceito tradicional para universal e global”, acrescenta Melo. Pompermayer também ressalta a inclusão, pelo governo do Estado, da erva-mate na composição de itens da alimentação escolar, como bolos, pães e biscoitos, entre outros. “Mais um fator que vai ajudar o produtor e a indústria também”, afirma.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895