Cinema, Fusca e cerveja rumo ao Alasca

Cinema, Fusca e cerveja rumo ao Alasca

Morador de Picada Café, Rodrigo Castelhano fará a maior aventura da sua vida. De Ushuaia ao Alasca de carro, o diretor de cinema percorrerá cervejarias artesanais das Américas em busca de particularidades e sabores

Rodrigo Castelhano e o fusca De Niro no Ushuaia, Argentina.

Por
Rodrigo Thiel

Um Fusca ano 1974, um estudo sobre a produção de cerveja artesanal na América e um produto cinematográfico. Estas são três paixões que farão um cineasta gaúcho realizar a maior aventura da sua vida. Parte desta viagem de Norte a Sul (ou, neste caso, de Sul a Norte) já foi realizada. Em 2023, o diretor de cinema gaúcho Rodrigo Castelhano já realizou parte desta viagem ao andar com seu fusca cinquentenário até o fim do mundo, como é conhecida a região da cidade de Ushuaia, na Argentina.

A partir de maio, ele começará a segunda etapa desta aventura, rumando com o seu carro, apelidado carinhosamente de De Niro, até o extremo norte do continente americano: o Alasca. Tudo isso para produzir um levantamento inédito, mostrando como a cerveja é cultuada e produzida artesanalmente nos quatro cantos da América. Unindo profissão e um sonho, Castelhano ainda transformará toda esta “loucura” em uma série documental intitulada “Expedição Malte”.

Um registro da gravação do documentário ‘Expedição Malte’ em companhia de Bruno Ferrari, da Cerveza Berlina, na cidade argentina de Bariloche | Foto: Rodrigo Thiel

O Fusca 1974

A primeira de suas paixões envolvidas nesta aventura começou quando Castelhano tinha 18 anos. Mesmo tendo comprado um Passat, seu pai o aconselhou a trocar de veículo, pois tinha medo que seu filho pudesse sofrer um acidente. O carro escolhido por Rodrigo não podia ser outro senão o saudoso Fusca, presente em milhares e milhares de histórias envolvendo pessoas e carros. Desde então, ele recorda já ter tido oito carros deste modelo.

Entretanto, os sete primeiros foram roubados. O atual, De Niro, em homenagem ao ator ítalo-americano, foi alvo de um arrombamento em Uruguaiana, quando retornava da primeira parte da expedição. Para toda a viagem, o fusca passou por algumas alterações. Entre elas, está a retirada no banco de trás do veículo para otimizar o armazenamento da bagagem e a troca das rodas.

Em abril de 2023 ele iniciou sua primeira parte da jornada. O primeiro destino foi a cidade de Pelotas, importante polo cervejeiro do RS. Após, desceu pelo litoral uruguaio até Colônia de Sacramento, atravessando o rio da Prata de balsa até Buenos Aires. “Fui descendo pela rota 3 bem devagar, conversando com cervejeiros pelo caminho e produzindo conteúdo, até atravessar o Estreito de Magalhães e passar para Ushuaia, onde fiquei por 17 dias. A volta foi pelo caminho contrário, por perto das Cordilheiras dos Andes, na Patagônia, até voltar por Mendoza até Uruguaiana”, acrescentou.

De Niro rodou quase 17 mil quilômetros em estradas de asfalto, terra, sobre o gelo e também na água. Neste treino, o carro já exigiu de Castelhano uma atenção especial. Em sua passagem pela Patagônia, o carro apresentou um problema no motor de arranque. “A cada vez que precisava ligar, tinha que dar uma empurrada nele. Estou há três anos estudando o Fusca. Já li tudo o que posso imaginar sobre o carro, fiz um curso de como desmontar ele inteiro e vou levar peças sobressalentes caso precise”, completou.

A cerveja artesanal

Castelhano é apaixonado por todas as nuances que fazem parte do universo desta bebida, principalmente quando o assunto é a forma como é produzida artesanalmente. Este contato maior com a bebida iniciou em 2007, durante as gravações de um filme. “Logo depois comecei a estudar sobre o assunto e fazer cerveja de panela em casa.”

E isso tudo se tornou mais intenso quando a pandemia chegou. O isolamento fez com que um filme que era dirigido por Castelhano fosse interrompido. O resultado de todo este período foi uma depressão vivida pelo diretor. “Um dos atores morreu de Covid-19, outros cresceram. Fiquei bem mal e decidi que precisava fazer alguma coisa diferente, juntando as minhas paixões. A partir disso surgiu a ideia da Expedição Malte, que é viajar de fusca visitando cervejarias para fazer uma obra cinematográfica”, falou o diretor de cinema, que também conseguiu marcas parceiras para ajudar na viagem. “Quando eu voltar da viagem, vou lançar essa obra e também um livro. Ninguém fez nada igual a isso ainda”, apontou.

Saindo de Picada Café, onde mora, ele rumará para Santa Catarina, passando por Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul no Brasil. Já em solo estrangeiro, ele pretende passar pela Bolívia, Peru, Colômbia e alguns países da América Central antes de chegar ao México. Nos Estados Unidos, vai entrar pelo Texas, onde pretende se juntar à esposa, Joyce, para seguir viagem. “Depois do perrengue que passei na Patagônia, eu combinei que ela me encontraria nos EUA para seguir o percurso por Alabama, Tennessee, Florida e toda a costa leste até Nova Iorque. Depois, vamos pegar a famosa rota 66 até a Califórnia e subir para o Alasca”, contou.

Ele ressalta que não pretende dar destaque para destinos turísticos. O foco será totalmente nas cervejarias artesanais e nas diferentes formas como a bebida é produzida. “No Peru, por exemplo, antigamente tinha um método onde as mulheres mastigavam o milho e cuspiam no tonel e ali fermentava. Hoje as mulheres não precisam mastigar, mas existe toda uma cena, toda uma diversidade que quero mostrar para as pessoas.”

Paixão também pelo cinema

O cinema é mais uma das paixões envolvidas na expedição de Castelhano. Ele planeja transformar o projeto Expedição Malte em uma série documental para o YouTube.

E, em maio, estreia na Record TV de Santa Catarina, a série “Taking Back (Pegando de Volta)”, da qual Castelhano foi diretor. Segundo ele, trata-se de uma obra de humor com temática policial.

Quem quiser saber mais sobre a viagem e a trajetória cinematográfica de Castelhano, pode ler a matéria aqui: De fusca no Alasca para falar de cerveja.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895