Cinquenta anos de geração de conhecimento

Cinquenta anos de geração de conhecimento

No dia 26 de abril de 2023, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária celebra meio século em 43 centros de pesquisa no país com uma trajetória de avanços que alçou o Brasil à condição de potência mundial do agro

Por
Patrícia Feiten

Personagem-chave da revolução silenciosa que levou tecnologia às fazendas e transformou o Brasil em potência mundial do agronegócio nas últimas décadas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária completa 50 anos em 26 de abril. Hoje com cerca de 8 mil colaboradores, dos quais 2,1 mil pesquisadores, e 43 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, sendo quatro deles no Rio Grande do Sul, a instituição exibe um campo de atuação muito mais abrangente do que em sua gênese. Para o futuro, encara um duplo desafio – garantir que a inovação chegue a propriedades rurais de todos os portes e, ao mesmo tempo, fomentar a produção sustentável de alimentos em um cenário cada vez mais sensibilizado pelo debate ambiental.

De técnicas de plantio, manejo e colheita, zoneamentos de risco climático e melhoramento genético de rebanhos ao desenvolvimento de centenas de variedades de grãos adaptadas aos diferentes solos e climas do país, são muitos os exemplos da contribuição da Embrapa para a agropecuária brasileira. O impacto desse apoio pode ser traduzido em cifras. Segundo o presidente da estatal, Celso Moretti, as tecnologias da empresa geraram um lucro social de R$ 81,6 bilhões em 2021 – os dados de 2022 serão divulgados na data de aniversário da instituição –, frente a um orçamento de R$ 3,49 bilhões aprovado para o mesmo ano. “Para cada real que foi aplicado na Embrapa, nós devolvemos R$ 23,4”, diz Moretti. 

Um dos fundadores da estatal, o engenheiro agrônomo gaúcho Luís Fernando Cirne Lima explica que a instituição nasceu em um contexto de expansão das fronteiras agrícolas do país. Na década de 1970, a marcha rumo ao Centro-Oeste era vista como uma resposta ao aumento populacional e ao consequente aumento da demanda por alimentos. O avanço, porém, esbarrava na falta de know-how para o plantio nos solos áridos do Cerrado. “A pesquisa (no país) era dispersa e com muito pouco resultado, a não ser basicamente em café e cana-de-açúcar. O Brasil tinha aproximadamente 15 tipos de convênios com entidades internacionais para transferência de tecnologia, e essa transferência era muito incipiente e ineficiente”, observa Cirne Lima.

Na época à frente do Ministério da Agricultura, o agrônomo conta que organizou um grupo de trabalho com a tarefa de propor um mecanismo de geração de tecnologia nacional para repasse aos agricultores. “Não se sabia bem que tipo de organização seria, se um departamento do ministério, uma fundação. Afinal, evoluímos para a criação de uma empresa pública”, diz Cirne Lima. As estações experimentais mantidas pela pasta na época em diversos estados, como as existentes em Pelotas, Bagé, Bento Gonçalves e Passo Fundo, serviram de ponto de partida para a constituição da Embrapa. 

Da conquista do Cerrado aos dias atuais, a pesquisa pública permitiu ao país passar de importador a grande exportador de commodities. Segundo o presidente da Embrapa, esse salto competitivo da agricultura brasileira foi possível graças à introdução de tecnologias sustentáveis como a fixação biológica de nitrogênio. Apenas com a técnica, hoje adotada em mais de 90% das lavouras de soja do país, o Brasil reduziu em R$ 28 bilhões o uso de adubos nitrogenados no ano passado. A sustentabilidade consolida-se como uma das tendências para a pesquisa nos próximos anos. “Já mostramos para o Brasil e para o mundo que é possível produzir mais utilizando tecnologias mitigadoras de gases do efeito estufa, por exemplo, com a integração lavoura-pecuária. O Brasil, até 2025, deve ser o segundo, se não o primeiro maior produtor (mundial) de bioinsumos”, afirma Moretti.

O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, diz que o apoio da estatal foi decisivo para o setor nos últimos 30 anos. “O Brasil realmente pisou no mercado internacional com envergadura a partir de 1997. Aliaram-se duas coisas importantes: qualidade da pesquisa e qualidade do agricultor, que passou a consumir a pesquisa da Embrapa, principalmente no Centro-Oeste. O produtor abraçou isso”, destaca Pereira. As unidades da Embrapa no Estado são parceiras da Farsul no Programa Duas Safras, que busca aumentar o cultivo de trigo, triticale, centeio, cevada, canola e aveia – atualmente, a produção gaúcha de cereais de inverno equivale a apenas 9% do tamanho da safra de verão. 

Para o diretor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Carlos Alberto Bissani, a boa interação com outros estabelecimentos do Estado é um dos pontos fortes da atuação da estatal. A centenária instituição de ensino gaúcha, uma das pioneiras na oferta de programas de pós-graduação na área no Brasil, teve um papel crucial na formação de recursos humanos para centros de pesquisa brasileiros nas décadas de 1970 e 1980, lembra o professor. “Já tivemos egressos nossos em praticamente todos os centros da Embrapa no Brasil, sempre tivemos um histórico de parcerias. Ela teve um legado amplo de contribuições que ajudaram a aperfeiçoar os sistemas agropecuários do Estado”, avalia Bissani.

Na rota da autossuficiência para a produção de trigo

Unidade da Embrapa em Passo Fundo desenvolve pesquisas que podem elevar safras do cereal no Brasil a 20 mil toneladas por ano

Desafios da pesquisa para que Brasil amplie a produtividade no trigo passam pelo desenvolvimento de cultivares tolerantes à escassez de água e por soluções mais eficientes para manejo de doenças de difícil controle, como a giberela e o brusone. Foto: Diogo Zanatta / Divulgação / CP

Trigo no Nordeste brasileiro? Sim, isso será realidade até o final desta década, tem certeza o chefe-geral da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, Jorge Lemainski. No período, projeta o especialista, o Brasil alcançará a autossuficiência no abastecimento do cereal, saltando da atual produção de 10 milhões de toneladas para um total de 20 milhões de toneladas por safra. Do ponto de vista da pesquisa, o roteiro para essa expansão dos trigais, típicos das regiões frias, exige a superação de problemas que hoje limitam a produtividade das lavouras, do desenvolvimento de cultivares tolerantes à escassez de água a soluções mais eficientes para manejo de doenças de difícil controle, como a giberela e o brusone, e a germinação do grão na espiga. 

“Vencidos esses desafios, o trigo fará o mesmo caminho que a soja e o milho fizeram no Brasil. Hoje, cultivamos 40 milhões de hectares de soja e 24 milhões de hectares de milho e, com cereais de inverno, 3,1 milhões de hectares”, diz Lemainski. O cenário vislumbrado pelo pesquisador se baseia no sucesso do cultivo do cereal no Cerrado, uma vitória da pesquisa de variedades adaptadas ao inverno seco do bioma. Em cinco décadas, o rendimento das lavouras brasileiras aumentou cinco vezes, observa Lemainski, de uma média de 10 sacas em 1977 para o patamar atual de mais de 50 sacas por hectare. “Grande parte da genética do melhoramento genético da triticultura brasileira passou pela Embrapa Trigo, com esse papel de vanguarda no melhoramento e a formação de muitos quadros que permitiram à iniciativa privada também entrar nesse processo”, diz o pesquisador. 

A arrancada na produtividade dos campos dourados, porém, não teria sido atingida apenas com os avanços na seara genética. A Embrapa Trigo também é destaque no manejo integrado de pragas. Lemainski recorda uma técnica de controle biológico introduzida pelo centro de pesquisas que acabou virando um case de sucesso internacional e ainda hoje é usada na triticultura. No final da década de 1970, o ataque de pulgões-do-trigo chegava a causar perdas de quase 90% das plantas em lavouras não tratadas com agroquímicos. Com o poio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, os pesquisadores trouxeram ao país e passaram a multiplicar nos laboratórios de Passo Fundo espécies de vespinhas que, liberadas nas plantações, atuavam como parasitas naturais dos pulgões. “A infestação caiu a menos de 5%, e o uso de inseticidas se reduziu muito”, diz Lemainski. 

De lá para cá, a unidade reforçou o arsenal dos agricultores com métodos de combate às pragas que atacam grãos armazenados, na etapa pós-colheita. Em seus laboratórios, foram desenvolvidos os chamados trigos de duplo propósito, variedades que se destinam à produção de grãos para a indústria de panificação e também de pastagem, sendo utilizadas nos sistemas de integração lavoura-pecuária. Hoje com 178 funcionários, 46 dos quais dedicados à pesquisa, a Embrapa Trigo foi pioneira nos estudos para a definição do zoneamento agrícola de risco climático, instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 1996. Na época, a ferramenta passou a ser uma condição para as operações de custeio agrícola do Proagro – produtores que não seguem as recomendações não têm acesso ao crédito –, e o trigo foi a primeira cultura a adotá-la. “Desde então, a unidade é uma referência para o zoneamento agrícola das culturas no Brasil”, destaca Lemainski. 

Experimentos de ponta na melhoria dos rebanhos

Resultado da combinação de bovinos Angus com zebuínos, o Brangus nasceu de um experimento conduzido por técnicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) em Jeanerette, no estado de Louisiana, em 1912. O objetivo do projeto era chegar a um animal capaz de altos índices de produtividade mesmo sob condições climáticas e ambientais adversas, características das regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, os primeiros cruzamentos foram feitos na década de 1940, no centro de pesquisa mantido pelo Ministério da Agricultura em Bagé e transformado em um dos braços gaúchos da Embrapa em 1975. Batizada de Embrapa Pecuária Sul, a unidade teve um papel fundamental na expansão do Brangus, hoje a raça sintética mais utilizada no Brasil.

Para o chefe-geral do centro de pesquisas, Fernando Flores Cardoso, essa foi a primeira de uma série de contribuições da unidade que mudaram o panorama da pecuária na Região Sul. Outro avanço foi a implantação de uma mescla forrageira composta por azevém e duas espécies leguminosas, o cornichão e o trevo-branco, ainda hoje umas das técnicas mais adotadas no campo. “Isso permitiu, com o controle estratégico dos endo-ectoparasitas, outra tecnologia marcante da unidade, que se estabelecessem as primeiras produções de novilho precoce, os primeiros passos de intensificação na pecuária, que era bastante extensiva quando começou o trabalho da Embrapa”, explica Cardoso.

Criada em 1975, a unidade da empresa de pesquisa em Bagé teve papel fundamental na combinação da raça bovina inglesa Angus com as raças zebuínas, criando a raça mista Brangus. Foto: Embrapa Pecuária Sul / Divulgação / CP

Atualmente, a pesquisa conduzida na unidade de Bagé tem como meta demonstrar que a pecuária é um elemento fundamental para a rentabilidade do sistema produtivo, mas com um olhar muito atento aos impactos da atividade no meio ambiente e na saúde humana, segundo Cardoso. Um dos desafios é resolver o dilema da falta de alimento para os rebanhos na Região Sul no verão. “Continuamos trabalhando muito fortemente em cultivares de forrageiras. Desenvolvemos, por exemplo, o BRS Estribo, que é um capim-sudão hoje plantado em 800 mil hectares anualmente, com um impacto (econômico) estimado em R$ 186 milhões por ano”, diz Cardoso. 

Ele destaca ainda o trabalho com as associações de raças taurinas e sintéticas criadas no Estado em programas de melhoramento para produção de carnes de melhor qualidade, que incluem provas de avaliação e de eficiência alimentar. “Trabalhamos agora para usar resíduos das novas cadeias produtivas, da olivicultura, vitivinicultura e silvicultura, como o bagaço da azeitona, para alimentar os bovinos e identificar componentes que podem ser usados na alimentação e reduzir as emissões de metano”, detalha Cardoso.

Outra linha de pesquisa da unidade, hoje com 109 funcionários, sendo 32 pesquisadores, mira o desenvolvimento de produtos com valor agregado. Um exemplo desse trabalho, baseado no aproveitamento integral de ovelhas de descarte, é a tecnologia do bacon de carne ovina, o chamado oveicon. Após um projeto experimental em conjunto com uma empresa baiana, a Embrapa agora planeja buscar novos parceiros para a produção do item na Região Sul. 

Matéria-prima sem igual para a vitivinicultura

Na Serra do Rio Grande do Sul, unidade da Embrapa busca melhoramento genético e testa cultivares de uva apropriadas ao clima e que garantam a qualidade dos vinhos e espumantes brasileiros, laureados mais de 6 mil vezes desde 1995

Além das uvas destinadas à indústria, a Embrapa Uva e Vinho trabalha com o melhoramento de variedades da fruta para consumo in natura, as chamadas uvas de mesa. Foto: Embrapa Uva e Vinho / Divulgação / CP

A fama de artesãs dos melhores vinhos e espumantes ainda pertence às lendárias vinícolas francesas, mas os rótulos made in Brazil nunca impressionaram tanto mundo afora. Apenas no ano passado, as bebidas nacionais arremataram um recorde de 704 prêmios em 23 concursos realizados em 12 países, de acordo com dados da Associação Brasileira de Enologia (ABE). Desde 1995, ano em que entidade passou a coordenar o envio de amostras para competições internacionais, foram 6.614 láureas. Esse reconhecimento, que abre portas para o produto brasileiro no exterior, é resultado não apenas da qualificação das indústrias do setor e do clima favorável que elevou o padrão das últimas safras de uva, como também das soluções tecnológicas e cultivares desenvolvidas para a cadeia da vitivinicultura. Um trabalho que destaca a Embrapa Uva e Vinho, na Serra Gaúcha.

Com sede em Bento Gonçalves e uma estação experimental de fruticultura de clima temperado em Vacaria, além de uma base experimental em Jales, no noroeste de São Paulo, a unidade tem 133 funcionários, dos quais 42 são pesquisadores. “O programa de melhoramento genético de uva tem ajudado muito o setor produtivo nos últimos anos, com lançamento de materiais importantes”, diz o pesquisador João Caetano Fioravanço, chefe adjunto de pesquisa e chefe-geral em exercício da unidade, referindo-se à pesquisa focada em uvas de mesa, para consumo in natura, e na fruta para processamento industrial. 

Atualmente, a unidade vem intensificando a pesquisa de cultivares voltadas à elaboração de vinhos finos e de porta-enxertos mais resistentes e adaptados às condições do sul do Brasil, detalha Fioravanço. Atua ainda em vários projetos para controle de doenças que atacam não apenas os parreirais, mas também pomares de maçã e de pera. “Especificamente em doenças fúngicas da videira, estamos desenvolvendo um produto inédito em parceria com o setor produtivo e trabalhamos também com controle pós-colheita”, destaca o pesquisador. 

Outro projeto conduzido na Embrapa Uva e Vinho é o Laboratório Moscasul, para controle das moscas-das-frutas, parasitas que acarretam prejuízos aos produtores e limitam as exportações brasileiras de maçã. Segundo Fioravanço, o objetivo é oferecer uma tecnologia mais limpa no manejo da praga, já que muitos inseticidas usados para esse fim no Brasil não são autorizados em outros países. A redução do uso de agroquímicos, aliás, resume uma preocupação cada vez maior da pesquisa. “A tendência é buscar produtos menos tóxicos e mais benéficos ao meio ambiente. Temos desenvolvido, por exemplo, sistemas de previsão de doenças, que permitem ao produtor racionalizar suas aplicações (de agrotóxicos)”, afirma o pesquisador. 

Arroz, frutas e estratégias de manejo ambiental

Localizada em Pelotas, na região Sul do Estado, a Embrapa Clima Temperado atua em várias frentes, dos plantios orizícolas ao cultivo de pomares de frutas, como os cítricos, bem como novas tecnologias para sequestro de carbono

Cultivar de amora-preta, a BRS Ticuna, com potencial para produzir até 18 toneladas de frutas por hectare plantado, é uma variedade que será lançada oficialmente neste ano, mas já conta com empresa licenciada para a propagação e venda de mudas aos agricultores interessados em produzir. Foto: Embrapa Clima Temperado / Divulgação / CP

Um dos centros de pesquisa da Embrapa mais dinâmicos do país, a unidade Clima Temperado, em Pelotas, é referência mundial em tecnologias voltadas às chamadas terras baixas, que totalizam cerca de 4 milhões de hectares no Rio Grande do Sul e são ocupadas predominantemente pela orizicultura. Com 344 empregados, sendo 91 pesquisadores, o local realiza atividades diversas nas áreas de grãos, fruticultura, oleráceas, sistemas de pecuária, agricultura de base familiar, recursos naturais e meio ambiente. “Nossa unidade é um centro ecorregional e, diferentemente das outras, trabalhamos com quase tudo, com enfoque no desenvolvimento regional”, diz o chefe-geral do estabelecimento, Roberto Pedroso de Oliveira. 

Segundo o pesquisador, apenas nos últimos cinco anos a Embrapa Clima Temperado lançou 12 cultivares, sendo três de arroz, uma de batata-inglesa, duas de batata-doce, duas de feijão, três de pêssego e uma de amora-preta, a BRS Ticuna. Com potencial para produzir até 18 toneladas de frutas por hectare, a variedade será lançada oficialmente neste ano, mas uma empresa já foi licenciada para a produção e venda de mudas aos agricultores. Por ser uma espécie rústica e de alto rendimento, cultivada em pequenas áreas, a amora-preta é vista como uma boa alternativa de diversificação de renda para propriedades de menor porte. 

No segmento de fruticultura, a unidade de Pelotas também investe na pesquisa de cultivares de frutas cítricas – como laranja, bergamota e limão – sem sementes, tendo introduzido, em duas décadas, cerca de 30 cultivares. Outras contribuições foram o desenvolvimento de sistemas de cultivo de morango fora do solo, de cana-de-açúcar e goiaba, o apoio à implantação de empreendimentos apícolas pelo Rio Grande do Sul, aplicativos de celular para planejamento forrageiro e manejo de lavouras e a criação da Rota dos Butiazais, projeto turístico de conservação da biodiversidade aliada ao cultivo do butiá no Brasil, no Uruguai e na Argentina.

Entre as técnicas transformadoras introduzidas pelo centro de pesquisas, Oliveira destaca ainda o sistema sulco-camalhão em terras baixas. Nesse método, adotado nas áreas de cultivo de soja em rotação com culturas como o arroz e o milho, o grão é plantado nas faixas de terra mais elevadas, e os sulcos entre os trechos facilitam a drenagem da água e a irrigação. Na última safra gaúcha de verão, fortemente impactada pela estiagem, a produtividade obtida na soja em terras baixas foi de 41 sacas por hectares, enquanto lavouras com o sulco-camalhão colheram 77 sacas por hectare, de acordo com dados da Embrapa. No caso do milho, a técnica garantiu um resultado de 170 sacas por hectare, em comparação com 57 sacas por hectares do sistema convencional. 

Para o futuro, segundo Oliveira, a Embraba Clima Temperado aposta no uso de ferramentas de biotecnologia e de bioinformática. A meta é garantir a viabilidade econômica dos cultivos e a conservação da biodiversidade. “Nossas equipes estão trabalhando em tecnologias cada vez mais biológicas, mais precisas, mais tolerantes a estresses ambientais, envolvendo sistemas integrados de produção lavoura-pecuária-floresta, para diferentes sistemas de produção, da agricultura familiar à empresarial, da produção orgânica à integrada e do bioma Pampa à Mata Atlântica”, explica o pesquisador. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895