Clubes gaúchos se preparam para ter times femininos até 2027

Clubes gaúchos se preparam para ter times femininos até 2027

Ainda que não seja obrigado pela CBF, o Juventude retomou as atividades do departamento feminino recentemente, em 2021. Campeãs do Interior no ano passado, as Esmeraldas disputam nesta temporada o Estadual e a Série A3 do Brasileirão, além dos campeonatos sub-17 e sub-2

Por
Maria Clara Centeno* e Lucas Mello

Quem observa a tabela do último Gauchão Feminino, vencido pelo Grêmio em novembro, percebe a ausência da maioria dos clubes que jogam a competição masculina deste ano. Dos 12 times que disputam a fase em andamento do estadual, apenas Grêmio, Inter e Juventude possuíam representantes no torneio das gurias em 2022.

A realidade gaúcha não é exclusividade no país, onde, à exceção dos clubes que disputam a Série A masculina, o número de times femininos é bem menor. O cenário, no entanto, deve mudar nos próximos anos. No início de fevereiro, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que até 2027 todos os clubes das quatro divisões terão de ter uma equipe feminina.

Rodrigues explicou que a intenção da CBF é valorizar e incentivar a modalidade. “Não adianta o clube achar que o futebol feminino é sacrifício. Pensamos de forma macro. Para que os clubes possam estar na Série A é obrigatório ter futebol feminino. Isso vai ser estendido para as Série B, C e D. Em 2027, o clube que for jogar a Série D tem que ter o futebol feminino. São 64 clubes que vão praticar, em todo o Brasil, o futebol feminino”, diz ele.

Ainda que a história do futebol feminino da dupla Gre-Nal comece na década de 1980, entre idas e vindas, as duas maiores forças do Estado só reestruturaram seus departamentos em 2017, quando a Conmebol anunciou que os times deveriam ter uma equipe de mulheres para disputar a Libertadores a partir de 2019. A medida foi replicada pela CBF para a Série A do Brasileirão.

Desde então, a evolução da modalidade, esportivamente e em questão de popularidade, é evidente no Brasil e no Rio Grande do Sul. Se em 2018 a capitã gremista Taba levantou a taça do Gauchão em cima de uma mesa escolar diante de cerca de 2 mil torcedores no Beira-Rio, em 2022, quando o clube voltou a vencer após uma sequência de títulos do rival, a conquista foi assistida por 19 mil pessoas na Arena. No Brasileirão não tem sido diferente, com recordes de público consecutivos nas finais do ano passado entre Inter e Corinthians: 36.330 presentes em Porto Alegre e 41.070 em São Paulo.

O Juventude também retomou as atividades do departamento feminino recentemente, em 2021. Campeãs do Interior no ano passado, as Esmeraldas disputam nesta temporada o Estadual e a Série A3 do Brasileirão, além dos campeonatos sub-17 e sub-20. O presidente do clube, Fábio Pizzamiglio, diz que, na modalidade, “a distância para a dupla Gre-Nal ainda é muito grande” e explica que precisa utilizar investimentos que iriam para o masculino para viabilizar as gurias. “Ainda é muito difícil conseguir patrocínios para o futebol feminino. Precisamos evoluir muito enquanto sociedade nesse ponto”, completa.

Atualmente, o Juventude não é mais obrigado pela CBF a ter uma equipe feminina, já que disputa a Série B do Brasileirão em 2023, após duas temporadas na primeira divisão. “Mantemos porque é obrigação para valorizar a modalidade e pela importância do futebol feminino”, explica o dirigente.

Clubes do Interior cobram auxílio da CBF

Em 2023, o futebol gaúcho terá seis representantes entre as Séries C e D do Brasileirão: Aimoré, Brasil de Pelotas, Caxias, Novo Hamburgo, São José e Ypiranga. Nenhum dos clubes, neste momento, possuem times femininos. Porém, todos enxergam com bons olhos a intenção da CBF.

O presidente do Caxias, Mário Antônio Werlang, destaca o crescimento da modalidade no país, mas ressalta a dificuldade dos clubes do Interior para se manterem apenas com o futebol masculino. Quem dirá com o feminino. “A intenção é louvável. O futebol feminino vem em crescimento. Mas a CBF não está olhando para a realidade do futebol brasileiro. A nossa realidade, dos clubes que vivem na Série D, é de que mal conseguimos nos manter sem ajuda da CBF. É muito difícil fazer futebol no Interior”, explica o dirigente do clube da Serra.

É justamente por causa dessa dificuldade econômica que Nilton Batista, executivo do São José, cobra uma ajuda financeira por parte da CBF. O dirigente acredita que esse projeto divulgado pelo presidente Ednaldo Rodrigues teria sucesso com o auxílio da entidade que comanda o futebol brasileiro. “Teria que vir algum incentivo financeiro da CBF. Um valor que pudesse passar para ajudar”, aponta ele. O São José, em anos anteriores, tentou investir em uma escolinha de futebol para as gurias. Foram duas tentativas, no entanto, sem sucesso. "Não conseguimos nem montar uma escolinha. Foram duas tentativas. Divulgamos e tentamos. Vieram algumas meninas, de 13 e 16 meninas, mas não evoluiu”, disse Batista.

Como o assunto ainda é embrionário, os clubes não têm a real noção do que teriam que gastar para manter um time feminino ao longo de uma temporada. Farnei Coelho, executivo do Ypiranga, pontua a importância de ter profissionais qualificados para a modalidade. Além das quatro linhas, é preciso ter uma estrutura à altura como suporte. “Não temos a dimensão (do impacto financeiro). Não sabemos quanto custa. Não temos profissionais qualificados. Precisamos de profissionais especializados para o futebol feminino. Precisamos de especialização, de pessoas preparadas para isso”, avalia o dirigente.

Mesmo com a definição ainda distante, Farnei Coelho projeta que o Canarinho possa chegar a um lugar de destaque na modalidade, assim como já vem fazendo no masculino: “O Ypiranga tem que entrar para conquistar coisas grandes, buscar vitórias”.


Garotas do Juventude também enfrentaram as Gurias Coloradas | Foto: JOÃO CALLEGARI / INTERNACIONAL / CP

*Sob supervisão de Carlos Corrêa

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895