Coleira monitora a segurança do gado de corte

Coleira monitora a segurança do gado de corte

Equipamento desenvolvido por startup de Santa Maria permite ao pecuarista controlar o rebanho, 24 horas por dia, na tela do celular, previne o abigeato e serve como fonte de informações estratégicas para a gestão do negócio

Por
Thais Teixeira

Foi depois de ter parte do rebanho furtado na propriedade familiar que acabara de assumir em Santiago, no ano de 2015, que o engenheiro ambiental e sanitário Fernando Silveira Moraes foi em busca de métodos e ferramentas que pudessem coibir a ocorrência do abigeato. Mas, ao se deparar com soluções baseadas em rondas armadas e no uso de artefatos que não atendiam plenamente às sua necessidades, o engenheiro decidiu investir na criação de uma solução própria. Foram sete tentativas frustradas até Moraes encontrar a melhor forma de colocar a inteligência artificial, literalmente, a serviço do rebanho e, principalmente, do criador.

Em 2018, Silveira criou, no incubatório da Universidade de Santa Maria (UFSM), a startup Instabov e desenvolveu uma coleira capaz de monitorar o comportamento do rebanho de corte por 24 horas. O equipamento tem um sistema que emite alertas, em tempo real, diretamente ao celular do pecuarista. “Se o boi passou o limite da propriedade, o produtor recebe um alerta. Se ele apresenta movimentação incomum, se está atolado no barro, se ultrapassa a cerca, se está sendo conduzido para o curral de madrugada para, em seguida, ser furtado, ele será alertado”, explica Fernando Moraes.

A ideia tem como base o protocolo LoRa, sigla em inglês que significa Long Range (longo alcance). A tecnologia permite a comunicação de longas distâncias a partir de radiofrequência em aplicações da chamada Internet das Coisas (IoT) na Agricultura Digital. Por este motivo, o funcionamento da coleira requer a instalação de uma antena, com raio de atuação de 10 quilômetros. Já a coleira, por sua vez, é composta por uma bateria, uma placa solar − para garantir a durabilidade da bateria, um GPS e um acelerômetro.

Em meados de 2020, um dos sócios de Moraes postou um vídeo de divulgação do protótipo do colar em um grupo de produtores. O material seria usado para prospectar investidores para a invenção. Porém, dentre os participantes, estava um executivo da Belgo Arames, que se interessou pela inovação. “Hoje, o hardware é a cerca, mas, quando olhamos para o horizonte de 15 anos, não sabemos qual será o futuro. Estamos trazendo uma camada de inteligência a mais para a nossa cerca”, explica o gerente de Negócios da Belgo, Guilherme Vianna. O interesse pela AgTech levou a empresa a aportar R$ 1,5 milhão no desenvolvimento do sistema de monitoramento, recentemente lançado em Esteio, durante a Expointer. 

Hoje, além de monitorar o gado na prevenção ao abigeato, os alertas da ferramenta também são aliados do pecuarista na gestão estratégica do negócio. “Além dos alertas de fuga, já conseguimos sinalizar se o gado está andando menos no campo, se está montando nas vacas, se está pastejando como o desejado, se o lote de pasto está sendo consumido de maneira uniforme, se o gado está descansando”, exemplifica Moraes. Para o ano que vem, a intenção é agregar alertas de partos e de anormalidades sanitárias.

Atualmente, o dispositivo é comercializado diretamente pela startup a um custo entre R$ 8,30 e R$ 29,90 por cabeça de gado. “Se o pecuarista utiliza o Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial), conseguimos vender a coleira ao custo de R$ 8,30 por animal, pois o financiamento tem juro do BNDES e prazo de cinco anos”, justifica Moraes. Já o crédito tomado via  startup tem custo mais alto e prazo para pagamento reduzido a dois anos.Silveira importa as peças necessárias para a confecção da coleira da China e dos Estados Unidos. A montagem do equipamento fica por conta de uma empresa terceirizada localizada em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, o sistema já é utilizado em propriedades de São Gabriel, Tupaciretã, São Sepé, Santa Maria, São Pedro do Sul, Uruguaiana e Caxias do Sul. Também é operado em propriedades do Paraná, do Mato Grosso e de Goiás. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895