Copa do Mundo traz polêmicas antes mesmo de começar

Copa do Mundo traz polêmicas antes mesmo de começar

Protestos contra a postura do Catar diante dos direitos humanos dividem o espaço com os melhores jogadores do planeta

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Correio do Povo

A espera acabou. Quando, às 13h (horário de Brasília) deste domingo, a bola rolar no gramado do estádio Al Bayt para Catar e Equador, todas as atenções do futebol no mundo inteiro estarão voltadas para um pequeno país no Oriente Médio, com uma área total de 11,4 mil quilômetros – para se ter ideia, só o Rio Grande do Sul tem 281,7 mil. Será a primeira vez que a região recebe o Mundial, um processo que não se deu sem muitas polêmicas ao longo do percurso, de denúncias de compra de votos para sediar a competição a estatísticas discutíveis sobre o número de mortos nas obras durante a preparação.

O país está longe de ser progressista, tendo costumes e leis muito diferentes das quais os turistas de boa parte do mundo ocidental está acostumada. As mulheres e os LGBTQIA+ são os principais alvos dos costumes catari mais conservadores. Por isso, diversas organizações já recomendaram ao público LGBTQIA+, por exemplo, que não viaje para a Copa do Mundo em um país em que as relações homoafetivas são crime. Já a Fifa garante aos simpatizantes que não haverá perigo e que as bandeiras com as cores do arco-íris são bem-vindas por lá.

Por estas e mais razões, uma das nações mais ricas do mundo, o Catar, vem sendo alvo de críticas e protestos. Na Alemanha, recentemente, a Bundesliga foi cenário de manifestações contra o Mundial. Torcidas do Schalke 04, Hertha Berlin e Werder Bremen sugeriram um boicote. A seleção da Dinamarca informou recentemente que vai usar uma camisa de jogo em tom de protesto. O uniforme deixou na mesma cor da camisa tanto o distintivo como o símbolo do patrocinador. A ideia é que não apareçam. “Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida de milhares de pessoas. Apoiamos a seleção dinamarquesa o tempo todo, mas isso não é o mesmo que apoiar o Catar como nação anfitriã”, escreveu o perfil dinamarquês nas redes sociais. 

A Austrália também se manifestou a favor das minorias que sofrem no país. “Como jogadores, apoiamos totalmente os direitos das pessoas LGBTI+, mas no Catar as pessoas não são livres para amar a pessoa que escolherem”, disse o também meio-campista Denis Genreau. Artistas como Shakira e Dua Lipa também recusaram convites para se apresentarem na Copa pelas mesmas razões: desrespeito aos direitos humanos. 

A Fifa, enquanto isso, se esforça no papel de algodão entre cristais, mas, claro, sempre que possível, pendendo para o cristal mais valioso financeiramente. A entidade escreveu uma carta para as seleções pedindo que se concentrem no futebol no Catar e não deixem o esporte ser arrastado para “batalhas ideológicas ou políticas”. A CBF foi ao encontro da posição e também pediu uma postura mais amistosa. 

Porém, nem só de protestos vive a maior competição de futebol do mundo. Esta será a primeira Copa com a presença de mulheres na arbitragem. São 36 árbitros, 69 assistentes e 24 árbitros de vídeo, sendo seis mulheres entre eles. O Brasil é representado pela catarinense Neuza Back, o paulista Raphael Claus e o goiano Wilton Pereira Sampaio. 

A edição de 2022 sinalizará também o fim de uma das gerações mais brilhantes da história do futebol. A Copa do Catar será a última dos melhores do mundo: Messi e Cristiano Ronaldo, com 35 e 37 anos respectivamente. Neymar também declarou que esta pode ser a sua última participação em Copas. 

Este também será o último torneio com 32 participantes, pois já está acertado que a partir de 2026 serão 48 seleções disputando a taça na Copa que será realizada nos EUA, México e Canadá. A competição vai até o dia 18 de dezembro, com a final marcada para o Lusail Stadium, às 12h (de Brasília), quando se espera que uma das seleções na decisão seja a brasileira. Sob o comando de Tite, a briga é para quebrar um jejum de 20 anos sem títulos e ganhar o tão sonhado hexacampeonato.

GRUPO A

Em sua primeira Copa do Mundo, o Catar espera que a aura do país organizador lhe permita competir de igual para igual contra Holanda e Senegal, favoritos no Grupo A, que também tem o Equador. A 'Laranja Mecânica' parecer estar um nível acima, embora não tenha se classificado para o Mundial anterior. É uma equipe forte graças também à experiência de seu treinador, Louis van Gaal, além de um elenco de bons jogadores como Matthijs de Ligt (Juventus), Virgil van Dijk (Liverpool), Frenkie de Jong e Memphis Depay (ambos do Barcelona).

Atrás dos holandeses, Senegal, campeão africano em fevereiro, espera fazer uma boa campanha como em 2002, quando chegou às quartas de final, depois de ter caído na fase de grupos em 2018 pelo critério de desempate no número de cartões amarelos, superado pelo Japão. A grande esperança de Senegal, no entanto, acabou às vésperas da Copa. O atacante Sadio Mané foi oficialmente cortado do elenco após uma lesão na fíbula direita, segundo anúncio da Federação Senegalesa de Futebol, na última quinta-feira. "Infelizmente, a ressonância magnética nos mostra que a evolução não é favorável como imaginávamos e infelizmente decidimos declarar Sadio fora do Mundial", afirmou o médico da seleção, Manuel Afonso. O senegalês machucou-se no dia 8 deste mês, na vitória do Bayern de Munique por 6 a 1 sobre o Werder Bremen.

Sem o líder, a responsabilidade fica com o goleiro Édouard Mendy e o zagueiro Kalidou Koulibaly (os dois do Chelsea), que têm experiência e jogam em uma das melhores ligas do mundo. Treinada por Aliou Cissé, a seleção senegalesa é a mais bem montada das cinco representantes africanas. Mesmo sendo estreante, o Catar vem trabalhando com o espanhol Félix Sánchez como treinador desde 2017 e conta com a confiança de ter sido campeão da Copa da Ásia em 2019. O país anfitrião está concentrado desde o mês de junho. Nesse grupo, o Equador do atacante Enner Valencia, em sua quarta participação, é o time “azarão”. Criticados durante a preparação pelas dúvidas sobre a validade da nacionalidade equatoriana do jogador Byron Castillo, os sul-americanos esperam chegar pelo menos às oitavas de final, igualando sua melhor campanha, em 2006.

GRUPO B

Sendo a única campeã mundial da chave, a Inglaterra se apresenta como favorita do Grupo B, mas sem grande diferença sobre País de Gales, Estados Unidos e Irã, que acrescenta um contexto geopolítico à incerteza esportiva. No papel, os ingleses, finalistas da Eurocopa no ano passado e que no último Mundial terminaram em quarto, são candidatos à primeira posição do grupo. Mas, depois de uma Liga das Nações catastrófica, o time do técnico Gareth Southgate chega menos intimidador, com desfalques e queda de desempenho em seu frágil setor defensivo. O ataque continua sendo irregular e apenas o capitão Harry Kane parece incontestável, chegando ao Catar a dois gols de bater o recorde de maior artilheiro da seleção inglesa, que pertence a Wayne Rooney (53). 

Atrás dos ingleses estão Estados Unidos, País de Gales e Irã, com uma briga equilibrada pela segunda vaga nas oitavas de final. Os olhares estarão voltados para a equipe iraniana, que chega ao Catar em um contexto de instabilidade política no país, com multidões protestando após a morte de Mahsa Amini e com vozes críticas que exigiram à Fifa a exclusão do Irã da Copa. Em termos esportivos, a seleção comandada pelo português Carlos Queiroz derrotou o Uruguai em um amistoso em setembro, mas a possível ausência do atacante Sardar Azmoun por uma lesão na panturrilha reduz as chances da equipe. O jogo contra os Estados Unidos será uma reedição do duelo do Mundial de 1998, na França, com vitória dos persas por 2 a 1. Os americanos, que ficaram de fora da última Copa, chegam ao Catar com uma equipe cheia de jogadores de grandes clubes europeus, como Sergiño Dest (Milan), Weston McKennie (Juventus), Gyo Reyna (Borussia Dortmund) e Christian Pulisic (Chelsea). 

Completa o grupo o País de Gales, que vai disputar o segundo Mundial de sua história, após ter acabado com o sonho da Ucrânia na repescagem das eliminatórias europeias (1 a 0). As chances dos galeses estão vinculadas ao estado físico de Gareth Bale e Aaron Ramsey, de 33 e 31 anos, respectivamente. Se País de Gales chegar à última rodada da fase de grupos com chances de avançar às oitavas, o clássico britânico contra a Inglaterra em 29 de novembro será mais um ingrediente para o grupo.

GRUPO C

Invicta desde 2019, a Argentina de Lionel Messi é, indiscutivelmente, a grande favorita do Grupo C da Copa do Mundo, à frente da Polônia de Robert Lewandowski, de uma renovada seleção mexicana e da incógnita Arábia Saudita. Uma aparição simples em 2006, duas decepções dolorosas em 2010 e 2018 e um vice-campeonato em 2014: Messi viverá seu quinto e último Mundial pela “Albiceleste” com a missão de levantar o troféu de campeão para colocar a cereja no bolo de sua espetacular carreira. Mas o caminho até a final de 18 de dezembro será longo para a equipe de Lionel Scaloni, que chega ao Catar com invencibilidade que já dura três anos e o título da Copa América de 2021. "Com a Argentina é um momento em que estamos bem. As pessoas estão empolgadas, subindo pelas paredes, pensam que já voltamos com a Copa, mas não é tão fácil. Temos que lutar muito", disse Messi recentemente em entrevista à DirectTV Sports. Motivado para o Mundial, que provavelmente será o último de sua carreira, o craque argentino de 35 anos vive bom início de temporada no Paris Saint-Germain, com 12 gols e 13 assistências em 17 partidas.

Após a má campanha na Rússia em 2018 com Jorge Sampaoli, Lionel Scaloni, um de seus auxiliares, conseguiu construir um grupo coeso e completo, que também se apoia na qualidade de Ángel Di María e na eficiência e segurança do trio Martínez: Lautaro no ataque, Emiliano no gol e Lisandro na zaga, além do defensor Cristian Romero. Os argentinos vão começar o Mundial no Catar contra o adversário teoricamente mais fraco de seu grupo, a Arábia Saudita. O time árabe só chegou uma vez às oitavas de final do torneio, na edição de 1994, nos Estados Unidos. Já o México apresenta desempenho mais regular, passando da fase de grupos desde 1994 e, portanto, será um candidato a manter um dos dois primeiros lugares. A equipe foi finalista da última Copa Ouro da Concacaf e vai estrear no Catar a Polônia. No papel, os poloneses chegam à competição com nomes de peso em todos os setores do campo, do goleiro Wojciech Szczesny ao artilheiro Lewandowski, mas acumula eliminações na fase de grupos, tanto na Copa de 2018 quanto na Eurocopa do ano passado.

GRUPO D

Desfalcada por lesões e vindo de maus resultados nas últimas partidas, a França defenderá seu título mundial no Catar enfrentando adversários conhecidos no grupo D: Austrália e Dinamarca, equipes que estiveram em seu caminho 2018, e a Tunísia. Seria um déjà-vu? O embate contra a seleção australiana, no dia 22 de novembro, se apresenta como uma forma de aliviar o nervosismo diante da estreia na Copa. Quatro anos e meio antes, os 'Bleus' iniciaram sua caminhada rumo ao título uma vitória por 2 a 1 sobre a mesma Austrália. No entanto, a atuação fraca da equipe francesa levou o técnico Didier Deschamps a modificar sua tática na vitória por 1 a 0 sobre o Peru e no empate sem gols com a Dinamarca. Desta vez, o encontro com os dinamarqueses terá importância crucial para os atuais campeões: a equipe de Christian Eriksen está em ótima forma após alcançar a semifinal da Eurocopa 2021. "Uma equipe subestimada, que está entre as dez melhores do mundo", diz à AFP Guy Stéphan, assistente de Deschamps. 
A França mantém o sinal alerta ligado depois de levar a pior nas duas partidas que jogou contra o time de Kasper Hjulmand na Liga das Nações 2021/22. Com muitos desfalques, os “azuis” perderam por 2 a 1 em junho e por 2 a 0 em setembro. "Preocupado? Nem um pouco. Temos o grupo e o treinador para ir longe", disse o atacante Antoine Griezmann.

O jogador do Atlético de Madrid, em pleno ressurgimento, será uma das referências no ataque francês ao lado de Kylian Mbappé e Karim Benzema, que recebeu o prêmio Bola de Ouro nesta temporada e ficou afastado da seleção entre 2015 e 2021. O trio também permanecerá cauteloso antes de enfrentar a Tunísia do atacante Wahbi Khazri. Em sua sexta participação, os tunisianos sonham com a classificação para as oitavas de final pela primeira vez em uma Copa do Mundo. O sucesso dos franceses, no entanto, depende também da volta de alguns jogadores lesionados. Enquanto N'Golo Kanté e Paul Pogba são desfalques já anunciados, Raphaël Varane ainda é dúvida, assim como Benzema, Jules Koundé, Lucas Hernández e Aurélien Tchouaméni, entre outros com problemas físicos nas últimas semanas e que correm contra o tempo para se recuperarem antes do Mundial.

GRUPO E

Dois dos três últimos campeões mundiais estão no Grupo E: a Espanha, vencedora em 2010, e a Alemanha, que levantou a taça em 2014. Elas são favoritas as duas vagas às oitavas de final, mas querem evitar serem surpreendidas por Japão e Costa Rica. 

A Espanha chega ao Catar com um elenco praticamente renovado pelo técnico Luis Enrique, que optou por deixar de fora alguns medalhões, como o goleiro David De Gea, o zagueiro Sergio Ramos, campeão do mundo em 2010, e o meia Thiago Alcântara. Os grandes destaques dos espanhóis agora são os meias Pedri e Gavi, dupla do Barcelona, de 19 e 18 anos, respectivamente. A Fúria passou nas Eliminatórias sem nenhum problema, perdendo apenas uma partida das oito rodadas disputadas, e também está garantida na semifinal da Liga das Nações, que ocorrerá em 2023. 

A tetracampeã Alemanha, por sua vez, foi a última seleção a sofrer com a "maldição do campeão". Na Rússia, em 2018, foi eliminada logo na primeira fase em um grupo que tinha Suécia, México e Coreia do Sul. Depois, ainda houve a queda na Eurocopa, provocando a saída do técnico Joachim Löw para a chegada de Hansi Flick, ex-Bayern de Munique. Dos jogadores campeões em 2014, permanecem apenas o goleiro Manuel Neuer e o atacante Thomas Müller, que vai atrás do recorde de gols em Copas. Ele tem 10 gols em três participações e está a seis do maior artilheiro, o também alemão Miroslav Klose. Espanha e Alemanha irão se enfrentar na segunda rodada, no dia 27, às 16h (horário de Brasília), em Al Khor. 

Buscando estragar a festa das duas seleções europeias, a Costa Rica quer reviver 2014. Na Copa no Brasil, ela caiu no Grupo da Morte, formada por Inglaterra, Itália e Uruguai. Surpreendendo a todos, a equipe da América Central terminou em primeiro do grupo e invicta, com duas vitórias e um empate, e só foi parar nas quartas de final, após perder para a Holanda nos pênaltis.

O Japão vem participando das Copas seguidamente desde 1998 e desta vez quer passar das oitavas de final. Em 2010, foi eliminado nos pênaltis pelo Paraguai e em 2018, quase despachou a Bélgica, mas tomou a virada aos 49 minutos do segundo tempo.

GRUPO F

A Bélgica é a grande favorita ao primeiro lugar no Grupo F, que conta ainda com Canadá, Marrocos e Croácia. Esta parece ser a última chance de a "Geração Belga" tentar conquistar um título de relevância. Contando com craques do quilate de Kevin De Bruyne, Courtois, Romelu Lukaku e Eden Hazard, os “Diabos Vermelhos”, sob o comando do espanhol Roberto Martínez, querem superar as expectativas e obter resultado melhor do que o de quatro anos atrás, quando terminaram em terceiro lugar, depois de terem caído na semifinal para a França, que seria a campeã.

A Croácia é a atual vice-campeã mundial e também está vendo a sua melhor geração da história chegar ao fim. Modric está com 37 anos: o meia do Real Madrid foi eleito o melhor do mundo em 2018, e garantiu que esta será sua última competição com a seleção croata. Vida, Lovren e Perišic – todos com 33 anos – também já se aproximam da despedida. A esperança do time está nos pés do meia Kovacic, de 28 anos, que atua no Chelsea. 

O Canadá está retornando a um Mundial depois de 36 anos. A última e única participação havia sido no México, em 1986. Na ocasião, os canadenses foram eliminados na fase de grupos com três derrotas, sem nenhum gol marcado. O time da América do Norte é liderado pelos jovens Alphonso Davies, do Bayern de Munique, e Jonathan David, do Lille, ambos de apenas 22 anos. 

Fechando o grupo está o Marrocos. Os marroquinos se classificaram para a Copa como o único invicto das eliminatórias africanas, com sete vitórias e um empate, e chegam ao Catar mirando avançar de fase pela segunda vez na história - a primeira ocorreu em 1986, quando terminou como líder de sua chave, à frente de Inglaterra, Polônia e Portugal, mas caiu nas oitavas de final diante da Alemanha. A equipe agora é comandada por Walid Regragui, marroquino de origem francesa, que substituiu o bósnio Vahid Halilhodzic, demitido por ter problemas com Mazraoui e Ziyech. Walid Regragui assumiu em agosto e fez apenas duas partidas desde então. Ele conta com os laterais Achraf Hakimi, do PSG, e Noussair Mazraoui, do Bayern de Munique e o meia Hakim Ziyech, do Chelsea, considerados os astros dos "Leões do Atlas".

GRUPO G

Favorita no Grupo G e na competição, a Seleção Brasileira vai em busca do hexacampeonato da Copa do Mundo enfrentando velhos conhecidos, como a Suíça e Sérvia, que também enfrentou na primeira fase na edição do Mundial de 2018, disputado na Rússia. 

Há duas décadas sem levantar o cobiçado troféu que premiou a conquista do elenco liderado por Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo em 2002, no Japão e Coreia do Sul, o Brasil vem colecionando uma série de desilusões nas últimas edições do torneio. O maior exemplo foi a eliminação para a Alemanha nas semifinais do Mundial em casa, em 2014, quando foi massacrado por 7 a 1, resultado que marcou um período tempestuoso na história da equipe Canarinho. 

Naquela ocasião, Neymar havia se lesionado nas quartas de final, diante da Colômbia, e deixou um vazio no sistema ofensivo. O astro do Paris Saint-Germain tem uma nova oportunidade aos 30 anos e chega em grande momento da carreira. O atacante está a dois gols de se igualar ao número de Pelé, que marcou 77 vezes pela Seleção. Neymar chegou a anunciar que a Copa no Catar pode ser a sua última, mas depois voltou atrás.

O primeiro compromisso na Copa será diante da Sérvia, comandada pelo atacante da Juventus Dusan Vlahovic, no dia 24 de novembro, no Lusail Stadium, às 16h (de Brasília). Há quatro anos, o Brasil levou a melhor por 2 a 0 na Rússia. Quatro dias depois, às 13h (de Brasília), o reencontro com a Suíça marca o segundo desafio em busca da vaga às oitavas de final. Em 2018, houve empate em 1 a 1 entre os times.

Por último, no dia 2 de dezembro, às 16h (de Brasília), o Brasil enfrenta Camarões, a terceira colocada na mais recente Copa Africana de Nações. Nesse dia, o duelo entre Sérvia e Suíça evoca o passado. As mesmas se enfrentaram em 2018 em uma partida que ficou marcada por uma provocação dos jogadores suíços Shaqiri e Xhaka, que fizeram um gesto pró-Albânia. Os dois atletas possuem raízes na Albânia, ligada ao Kosovo, uma antiga província sérvia que declarou independência em 2008. A Sérvia, por sua vez, não reconhece essa emancipação. O incidente acabou levando a Fifa a multar os jogadores por comportamento antidesportivo.

GRUPO H

O Grupo H é considerado um dos mais fortes na Copa, contando com Portugal, Gana, Uruguai e Coreia do Sul. E a seleção lusa deve contar pela última vez com seu craque Cristiano Ronaldo, cinco vezes Bola de Ouro e que aos 37 anos, chega ao Oriente Médio com a carreira em declínio e brigado com o elenco e comissão técnica de seu clube, o Manchester United. A classificação nas Eliminatórias Europeias foi dramática. Após perder para a Sérvia, os portugueses precisaram superar duas repescagens, Turquia e Macedônia do Norte, para poder disputar a Copa. 

Além de CR7, Portugal tem um elenco forte e bem qualificado, com Ruben Dias, João Cancelo, Bernardo Silva e Rafael Leão, eleito o melhor jogador do Campeonato Italiano passado, ao levar o Milan ao título. A baixa mais sentida é do atacante do Liverpool, Diogo Jota, que se lesionou.

Gana esteve muito perto de ser a primeira seleção africana a chegar às semifinais na Copa de 2010, classificou-se para o Catar de forma surpreendente. Os "Estrelas Negras", comandados por Otto Addo, simplesmente despacharam a sempre favorita Nigéria nas Eliminatórias da África. A equipe conta com jogadores conhecidos no futebol europeu, como o volante Thomas Partey e os irmãos Jordan e André Ayew. A seleção também conta com o atacante basco Iñaki Williams, que já defendeu a Espanha em outras competições.

O Uruguai, bicampeão mundial, está no Catar contando com um elenco com bons jogadores no meio campo e ataque. Na Rússia, a "Celeste Olímpica" caiu nas quartas de final, mas agora tem como objetivo ir mais longe. A equipe segue contando com os veteranos Cavani e Luis Suárez, que chegam para a quarta Copa. A expectativa, no entanto, está no meio-campista Fede Valverde, que vem brilhando muito no Real Madrid. 

Por fim, a Coreia do Sul segue sendo refém do craque Heung-Min Son, do Tottenham, e que se recupera de uma cirurgia após ter uma fratura na face. A seleção asiática é comandada pelo português Paulo Bento e, nos dois últimos Mundiais, ficou na primeira fase. Porém em 2018, apesar da eliminação, os sul-coreanos surpreenderam a todos ao vencer e eliminar a Alemanha.

O título que ainda falta no currículo de Tite


Respaldado por uma campanha nas Eliminatórias em que a Seleção Brasileira quebrou um recorde de pontos, o técnico espera na Copa do Mundo do Catar ser o principal responsável por colocar fim a um jejum que já incomoda os torcedores brasileiros desde 2002, quando o Brasil foi pentacampeão no Mundial do Japão e da Coreia do Sul. Foto: Vincenzo Pinto / AFP

Com um dedicação digna de monge e sem muita teimosia, Tite trouxe de volta a aura da Seleção Brasileira e, no Catar, vai em busca do hexacampeonato para se despedir com o título depois da Copa do Mundo. “Não quero vencer de qualquer forma. Venci tudo na minha carreira, só me falta o Mundial”, disse o treinador, de 61 anos, quando anunciou, em fevereiro, que deixará o comando do Brasil depois da Copa. O aviso pareceu ter efeito libertador em Adenor Leonardo Bachi, pois a partir de então começou a falar sem rodeios sobre seu grande objetivo: acabar com uma espera que já dura 20 anos pelo troféu mais importante do futebol.

Os números estão do lado de Tite, homem de discurso filosófico, embora seu estilo de jogo não convença muitos torcedores, que o consideram “retranqueiro”, apesar de sua equipe ter marcado 166 gols em 76 jogos (sofreu 27). Desde que assumiu a Seleção, em 20 de junho de 2016, o treinador conseguiu 57 vitórias, 14 empates e cinco derrotas, duas delas em jogos oficiais, ambas muito dolorosas: contra a Bélgica, nas quartas de final da Copa de 2018 (2 a 1), e para a Argentina na final da Copa América de 2021 (1 a 0), em pleno Maracanã. Nas Eliminatórias Sul-Americanas, o Brasil se classificou como líder invicto e com pontuação recorde. Fez 45 pontos em 17 jogos, isso sem contar que um jogo nem foi realizado, aquele contra a Argentina, interrompido pela Anvisa.

O treinador assumiu o comando de uma equipe com o orgulho ferido após a goleada sofrida para a Alemanha por 7 a 1 na Copa de 2014, jogando em casa, quando era dirigida por Luiz Felipe Scolari. O vexame foi sucedido por outra humilhação: comandado por Dunga, o Brasil foi eliminado na primeira fase da Copa América Centenário em 2016, o que não acontecia desde 1987. Então Tite apareceu no horizonte verde-amarelo, apostando no equilíbrio entre defesa e ataque, mesma fórmula que usou no comando de Corinthians, Inter e Grêmio, onde conquistou todos os títulos possíveis para clubes brasileiros: Brasileirão, Copa do Brasil, Sul-Americana, Libertadores, Recopa Sul-Americana e Mundial de Clubes. 

Tite cercou-se de assistentes tão ou mais estudiosos, ganhou a Copa América 2019 e liderou uma transição geracional: na convocação para os dois últimos amistosos, contra Gana e Tunísia em setembro, apenas nove jogadores estiveram na Rússia há quatro anos. Sem os grandes nomes do passado, transformou Neymar em sua pedra fundamental, blindando-o inclusive de suas várias polêmicas. O camisa 10 respondeu com gols e assistências, fazendo surgir o termo "Neymar-dependência".

Apesar do respaldo das estatísticas e recentes desempenhos que permitem a esperança, paira a dúvida sobre como o time brasileiro se portará quando enfrentar seleções europeias mais fortes. No Grupo G, o Brasil vai enfrentar duas seleções da Europa, Sérvia e Suíça, além de Camarões. A estreia será dia 24 de novembro, contra os sérvios. Mas Tite parece impassível diante de questionamentos e críticas. Entre as mais recentes, o fato de ter deixado Gabigol, ídolo do Flamengo, de fora da relação de convocados. “Não represento a todos e haverá quem torça contra. Assim como outros tantos não me representam, ou por modelo, ou por conduta”, afirma. O treinador diz se sentir “em paz” devido, em parte, à consolidação de sangue novo na Seleção, que chegou após o fiasco na Copa América: os atacantes Vinícius Júnior, Antony e Raphinha. Também há a boa fase de Neymar no Paris Saint-Germain, além de um sistema defensivo sólido comandado por Thiago Silva, Marquinhos e Casemiro. “É o melhor momento” da equipe, disse Tite, que quer continuar sua carreira na Europa depois do Mundial. “Se vamos ganhar a Copa do Mundo ou não, é outra história”. 

Polêmica sobre as mortes


Em meio à contestação sobre o alto número de mortos nas obras da Copa, governo do Catar não divulga dados. Foto:Patricia de Melo Moreira / AFP

Quantos trabalhadores morreram no Catar antes da Copa do Mundo de 2022, principalmente nas obras? A delicada pergunta que se tornou o centro das críticas ao emirado parece destinada a nunca ter uma resposta precisa. Um dos números que dispararam a polêmica foi o divulgado pelo jornal britânico The Guardian, em fevereiro de 2021, segundo o qual 6.500 trabalhadores teriam perdido a vida no Catar desde que o país foi anunciado como sede da Copa do Mundo, em 2010. 

O jornal, que trabalhou com dados fornecidos pelas autoridades de cinco países do Sudeste Asiático, explicou que “as certidões de óbito”, nas quais se baseou, “não estão classificadas por profissão, ou local de trabalho”. Muitos veículos de comunicação ocidentais simplificaram a lista, no entanto, atribuindo esse valor apenas às obras dos estádios da Copa do Mundo, acidentes, ataques cardíacos, devido ao calor, ou ao cansaço, entre outros. 

Presente em Doha desde 2018, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lamentou em novembro de 2021 que esse número tenha sido “amplamente reproduzido (...) sem incluir, sempre, o contexto (...) e atribuindo essas mortes, com frequência, à construção dos estádios da Copa do Mundo”. As autoridades do Catar negam esses números, categoricamente, e falam de “calúnia” e “racismo”, inclusive ameaçando adotar ações legais. 

O Comitê Supremo da Organização da Copa do Mundo anunciou o número de três mortos apenas em obras de infraestrutura diretamente relacionadas com o Mundial, principalmente nos estádios. Este balanço também foi mencionado pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, em maio. Nenhuma ONG internacional renomada respaldou até o momento o número de 6.500 óbitos. 

A Anistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW), por exemplo, pediram à Fifa que crie fundos de indenização para os trabalhadores migrantes, sem dar um balanço exato sobre os números. Destacando a insuficiência dos dados disponíveis, a OIT documentou 50 acidentes de trabalho fatais em 2020, e 500 feridos graves. “A maior parte (das vítimas) eram trabalhadores imigrantes de Bangladesh, Índia e Nepal, principalmente da construção civil. Quedas e acidentes de trânsito são as principais causas de ferimentos graves, seguidos da queda de objetos em canteiros de obras”, relatou a OIT. 

Um dos principais motivos dessa imprecisão está, segundo fontes ouvidas pela AFP, nas deficiências estatísticas do Catar. Para a OIT, essas lacunas tornam impossível estabelecer um número categórico. Nesse sentido, seus representantes pedem “que se aumente os esforços para investigar lesões, ou mortes, que possam estar relacionadas ao trabalho, mas não estão classificadas como tal”. “Sem termômetro, é impossível verificar a temperatura”, diz um sindicalista francês que visitou as obras do Catar diversas vezes. Em termos comparativos, em 2019, o setor da construção na França registrou 215 mortes. 

Sem uma investigação sobre “as mortes de funcionários, é difícil saber quantos morreram pelo calor extremo, mas não há dúvida de que o fato é extremamente grave”, disse o diretor do Programa de Justiça Social e Econômica da Anistia Internacional, Steve Cockburn. “Estejam ou não relacionadas com as obras no Mundial, milhares de mortes na última década continuam sem explicação e pelo menos centenas delas estão, provavelmente, relacionadas com condições perigosas.”

No Catar, os estrangeiros representam 90% dos quase 3 milhões de habitantes. Outro dado que falta, segundo ele, são as mortes dos trabalhadores que voltaram doentes, principalmente por “problemas renais” devido à má dessalinização da água fornecida aos trabalhadores.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895