Correio do Povo: 127 anos de independência

Correio do Povo: 127 anos de independência

Desde Prudente de Moraes até Bolsonaro, o jornal primou pela imparcialidade editorial, informando e acompanhando o dia a dia da população. Jornal Correio do Povo completa mais um ano retratando a história do país desde 1895

Por
Christian Bueller

Em um mundo cada vez mais afeito a fenômenos efêmeros, instituições longevas são raras. Trajetórias centenárias, então, são em número reduzido, face a tantas transformações que, muitas vezes, evidenciam desconexões com as empresas. Neste 1º de outubro de 2022, o jornal Correio do Povo completa 127 anos, congregando história, respeito e credibilidade, pilares defendidos desde a primeira edição.

Nascido no Sergipe, mas radicado no Rio Grande do Sul desde novo, o jornalista Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior (1868-1913), com 27 anos na época, chamou dois jovens, um balconista da livraria Americana, que mais tarde seria médico, Mário Ribeiro Totta (1874-1947), e o tipógrafo José Paulino de Azurenha (1861-1909) para iniciarem a jornada naquela primavera de 1895. A ideia de Caldas Jr. era ser “uma folha lida e apreciada por todos, sem poupar esforços nem medir sacrifícios (...) Com tais intuitos, de que jamais se apartará, o público o verá sempre disposto a bem servi-lo”. O Correio do Povo surgiu dois meses após o término da Revolução Federalista, que durante três anos opôs republicanos e federalistas no Estado. Procurando firmar uma posição de alheamento partidário, em seu primeiro número o jornal declarava-se “independente, nobre e forte”, e prometia não se deixar escravizar, por “cogitações de ordem subalterna”. A carta editorial publicada na edição de estreia já dava a tinta do que seria o seu caminho desde então: “Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção”.

Periódicos já existiam na época, mas dividiam o estado por conta da ideologia: se, por um lado, o jornal A Federação defendia as ideias republicanas, do então presidente do Estado, Júlio de Castilhos, o conteúdo d’O Dia era concebido justamente para se antepor ao mandatário gaúcho. Segundo o verbete a respeito do Correio do Povo no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o jornal, em seus primeiros tempos, “na maior parte das vezes, manteve-se neutro em relação ao situacionismo gaúcho. Eventualmente teceu críticas ao governo estadual, todas, no entanto, de caráter moderado”.

Com o falecimento de Caldas Jr. em 1913, a viúva Dolores Alcaraz Caldas (1878-1957) seguiu empunhando a bandeira jornalística e conseguiu manter a saúde financeira da empresa, algo que afligia o fundador. De 1924 a 1927 o jornal foi dirigido por José Alexandre Alcaraz, seu irmão mais moço, passando a seguir a Fernando Caldas, filho do primeiro casamento de Caldas Júnior, que assumiu a direção do jornal a convite de Dolores. Breno Alcaraz Caldas (1910-1989) tinha apenas 3 anos quando o pai faleceu. Dez anos depois, já começava a demonstrar interesse naquele cotidiano das rotativas e das notícias. Dona Dolores tergiversava. “Aos 15, filho, você fará todo o caminho”. Terminados os dois anos estipulados por ela, Breno foi trabalhar na revisão do jornal. Não demorou muito para começar a escrever notas e trabalhar como auxiliar de redação. Assumiu a direção aos 25 anos e ficou por meio século à frente da companhia jornalística.

Ampliação

Breno Caldas assumiu a direção do jornal em 1935, com o objetivo de manter o caráter independente. Deu ao periódico uma posição de neutralidade em relação ao regime implantado no país com a decretação do Estado Novo. Ampliou o seu grupo empresarial criando os jornais Folha da Tarde, Folha Esportiva e Folha da Manhã, além das rádios Guaíba AM e FM e da TV Guaíba que, ao lado do Correio do Povo, passaram a compor a Companhia Jornalística Caldas Júnior, da qual foi diretor-presidente. Em 1943 a sede do jornal ocupou o Edifício Hudson, que até hoje abriga também a Rádio Guaíba, na esquina da Rua dos Andradas com a Travessa Paysandu, antes chamada de Beco da Inácio Manoel Vieira, Beco Quebra-Costas e Beco do Fanha, no Centro Histórico. Um ano depois, a via passou a se chamar rua Caldas Júnior.

As mudanças de proprietário para Renato Bastos Ribeiro, em 1986, e Grupo Record, em 2007, mantiveram o caráter independente da sua linha editorial. E, assim, foram 20 Copas do Mundo, todos os clássicos Gre-Nais, duas grandes guerras mundiais, o lançamento da bomba atômica, o julgamento dos nazistas, a chegada do homem à Lua, o atentado terrorista de 11 de Setembro, a gripe espanhola e a pandemia de Covid-19.

História

Quando a primeira edição do Correio do Povo chegou às ruas, a República tinha sido proclamada cinco anos antes e Prudente de Morais estava no início do seu governo. Entre golpes militares, governos populistas, ditaduras, deposições, mortes, impeachments e eleições democráticas, o CP sempre acompanhou o cenário político nacional com protagonismo e responsabilidade. O jornal narrou a promulgação das últimas cinco constituições e, mais recentemente, empenhou grande cobertura nos pleitos que levaram ao poder pelo voto popular Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.

Campanha

Atento às mudanças que impactam o mundo e ciente do seu papel como um canal que apresenta a informação sem escolher lados, o Correio do Povo lança, a partir de hoje, a campanha Pense Independente. A partir do conceito exposto em seu primeiro editorial, em que o leitor precisa ter liberdade para formar seus argumentos, sem manipulação nas notícias apresentadas em suas páginas, uma série de ações será desenvolvida em todo o Estado. “Vamos celebrar este aniversário, nos aproximando ainda mais do nosso leitor. Não é apenas uma campanha publicitária, mas uma reafirmação do compromisso do Correio do Povo”, explica a gerente de marketing do jornal, Kátia Alves. Segundo ela, o momento vai ensejar transformações e melhorias que beneficiarão os leitores. “A campanha terá desdobramentos em níveis regional e nacional, em ações ao lado do Grupo Record”, completa.

O diretor presidente do Correio do Povo, Sidney Costa, lembra que a campanha é um resgate dos valores do jornal desde o seu nascimento, em 1895. “Caldas Júnior já dizia que seria ‘independente, nobre e forte’. Procuramos manter este princípio, respeitando o público leitor e, agora, reforçando, pois, vivemos um momento de acirramento político, de polarização, com tantos conflitos e narrativas. Há muitos canais falando de muitos assuntos, de especialistas a curiosos”, lembrou. Costa acrescenta que o Correio do Povo, por sua linha editorial independente, traz fatos aos leitores. “Incentivamos a população que tenha a liberdade e maturidade para pensar e chegar à conclusão sobre o que significa determinada notícia para a sua vida, seja no campo ou na cidade. Queremos relembrar a nossa missão e o que o Correio do Povo representa, onde a informação não tem lado. Levar a notícia como ela é”, pontua.

Editorial – 1º de outubro de 1895

“Ficam definidos em poucas linhas os compromissos com que esta folha entra para o convívio do jornalismo rio-grandense. O Correio do Povo será noticioso, literário e comercial, e ocupar-se-á de todos os assuntos de interesse geral, obedecendo à feição característica dos jornais modernos e só subordinando os seus intuitos às inspirações do bem público e do dever inerente às funções da imprensa livre e independente.

Como seu título indica, será uma folha essencialmente popular, pugnando pelas boas causas e proporcionando aos seus leitores informações detalhadas sobre tudo quanto vá diariamente ocorrendo no desenvolvimento do nosso meio social e nos domínios da alta administração pública do Estado e do país.

Em política – somos pela República, e só alimentamos a aspiração patriótica de vê-la pujante, amada e próspera, capaz de fazer a felicidade deste grande país, fadado aos mais altos destinos.
Independente, nobre e forte – procurará sempre sê-lo o Correio do Povo, que não é órgão de nenhuma facção partidária, que não se escraviza a cogitações de ordem subalterna. O Correio do Povo aspira a honra de se fazer uma folha lida e apreciada por todos, e para isso não poupará esforços nem medirá sacrifícios.

Jornal aberto a todas as manifestações de pensamentos, estas colunas estarão sempre francas a quantos queiram, com elevação de vistas, tratar de assuntos de interesse geral, discutindo ideias e opiniões sobre política ou literatura, indústria ou comércio, ciências ou artes. Este jornal vai ser feito para toda massa, não para determinados indivíduos de uma única facção.

Emancipado de convencionalismos retrógrados e de paixões inferiores, procurará esclarecer imparcialmente a opinião, apreciando com isenção de espírito os sucessos que se forem desenrolando e os atos dos governantes, para censurá-los quando reprováveis, para aplaudi-los quando meritórios. Com tais intuitos, de que jamais se apartará, o Correio do Povo espera poder conquistar as simpatias do público, que o verá sempre disposto.

 

DO LEITOR
Renato Panattieri

127 anos

"Chegar aos 127 anos de atuação é uma marca que poucos jornais podem se orgulhar. É uma conquista de valor inestimável para uma nação livre. Por isso, neste 1º de outubro, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul cumprimenta o Correio do Povo e a todos que fizeram e fazem parte desta trajetória, que se confunde com a história dos gaúchos e honra a imprensa brasileira. Que este jornal tão tradicional quanto vibrante siga cumprindo seu papel com o vigor de sempre, contribuindo cada vez mais para uma sociedade bem informada e consciente da importância de manter viva a chama da liberdade de expressão e da própria democracia".

Desembargador Francisco José Moesch, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do RS

 

"A Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMP/RS) cumprimenta a direção, junto com toda equipe, pelos 127 anos de fundação do jornal Correio do Povo. Reforçamos nossos votos de sucesso e vida longa a este tradicional veículo do nosso Estado, presente na rotina dos gaúchos há mais de um século, prestando informações de qualidade, pautadas pela ética e pela credibilidade".

João Ricardo Tavares, Presidente da AMP/RS.

 

"Um país mais desenvolvido se constrói com uma imprensa ética e comprometida com a sociedade. Há 127 anos, o Correio do Povo representa esses princípios, tendo sido um indutor do crescimento do Rio Grande do Sul. Em nome da Federasul, parabenizo a cada um que fez e faz parte dessa trajetória".

Anderson Trautman Cardoso, Presidente da Federasul.

 

"Informação com ética e credibilidade é peça-chave para o sucesso em qualquer tomada de decisão. Não é diferente no agronegócio e, especialmente, nas cadeias da avicultura e suinocultura, onde estamos entre os maiores produtores e exportadores do mundo. Graças ao trabalho e ao afinco dos nossos produtores e de importantes parceiros, como o Correio do Povo, conquistamos esse resultado. Por isso, chegar aos 127 anos prestando um serviço de excelência para o povo gaúcho e brasileiro é motivo de orgulho. Parabéns!"

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e 
Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da ABPA e ex-ministro da Agricultura.

 

"O desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul passa pelas páginas do Correio do Povo, que atua há 127 anos com conteúdo jornalístico de qualidade. Parabéns à diretoria e a toda a equipe por manterem a excelência de um trabalho centenário, que serve de exemplo na área da comunicação do Brasil".

Cláudio Coutinho, Presidente do Banrisul.

 

"Parabéns à direção e aos colaboradores do Correio do Povo na passagem de seus 127 anos. A trajetória do jornal se confunde com a história do RS e do Brasil. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) reconhece e celebra a relevância deste importante veículo de comunicação que orgulha os gaúchos e os brasileiros".

Alexandre Postal, Presidente do Tribunal de Contas do Estado".

 

"Queremos parabenizar o Correio do Povo pelos seus 127 anos de existência. A história do Brasil e do Grande do Sul passam pelas páginas deste periódico que é um dos orgulhos do povo gaúcho. Em tempos repletos de fakes news, que buscam confundir a população, torna-se fundamental destacarmos a importância da credibilidade nas informações, que é uma das tantas características do jornal. Vida longa ao Correio do Povo!"

Iris Helena Medeiros Nogueira, Presidente do Tribunal de Justiça do RS e
Antonio Vinicius Amaro da Silveira, 2º Vice-Presidente e Presidente do Conselho de Comunicação Social do TJRS.

 

"É com muita alegria que envio cumprimentos pelos 127 anos do jornal Correio do Povo, um veículo essencial para a vida dos gaúchos hoje e um fabuloso registro da história do nosso povo. Em nome de todo time da CDL POA, felicito a competente equipe que realiza um trabalho relevante e comprometido com o cidadão e com as demandas que fazem a diferença no cotidiano da coletividade. Conquistas e vida longa ao Correio do Povo".

Irio Piva, Presidente da CDL POA.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895