Cuidados com enxames de abelhas no calor

Cuidados com enxames de abelhas no calor

Ataques de abelhas, vespas e marimbondos aumentam na primavera e no verão. Na identificação de alguma colmeia, deve-se acionar o Corpo de Bombeiros, que fará uma análise e definirá as ações a serem adotadas

Pessoas que manuseiam colmeias devem usar equipamento de proteção

Por
Rodrigo Thiel

Todos os dias, o Corpo de Bombeiros atende a centenas de ocorrências de norte a sul do Rio Grande do Sul. Entretanto, na primavera e no verão e, consequentemente, num clima mais quente, as atenções se voltem também para o manejo de insetos. Um exemplo: no X dos bombeiros (antigo Twitter), foi possível constatar que, apenas no dia 1º de dezembro, foram cerca de 40 atendimentos a este tipo de ocorrência no Estado.

E assim como todos os atendimentos realizados pela corporação, uma ocorrência de manejo de insetos, como abelhas e marimbondos, exige o uso de equipamentos e cuidados especiais. De acordo com capitão Remisio Wilms, comandante das Companhias de Bombeiro Militar de Porto Alegre, o primeiro cuidado é estabelecer um perímetro de segurança e isolamento da área para não colocar em risco as pessoas e o próprio militar. Além disso, todo o trabalho é realizado com Equipamento de Proteção Individual (EPI) de apicultor.

“Possuímos um procedimento operacional padrão para ocorrências relacionadas a abelhas, vespas e marimbondos. Acontece que nem todas são fonte de perigo. Caso a colmeia esteja em local de fácil remoção e sem agressividade, verifica-se a possibilidade de extração por profissional habilitado, um apicultor. Entretanto, quando o enxame está em locais de circulação de pessoas, oferecendo risco para os transeuntes e na impossibilidade de contato com o apicultor, o próprio bombeiro faz a remoção da fonte de perigo através do extermínio dos insetos, seja com agente biológico, líquido gerador de espuma (LGE) ou extintor”.

Capitão Wilms destaca ainda os motivos que fazem esta época do ano registrar mais deste tipo de ocorrência. “É o período de processo biológico migratório das abelhas, também chamado de enxameação. É um processo relacionado a fatores de disponibilidade de alimento, espaço na colmeia e condições climáticas, sendo comum essa migração para áreas de ocupação humana, locais como ocos de árvores, forros de edificações, móveis domésticos e caixas abandonadas”, contou.

O comandante conta que, recentemente, atendeu uma ocorrência onde um indivíduo tentou realizar a extração do mel de um enxame de abelhas que estava em uma casa abandonada. Durante o processo, os insetos teriam ficado agressivos e atacaram o homem e também dois cachorros. “Fomos já equipados ao local e realizamos o extermínio dos insetos, já que estavam atacando as pessoas”, completou.

Identificação da Alergia

O veneno de insetos como abelhas, marimbondos e vespas pode causar alergias graves, conhecidas como anafilaxia. Conforme a médica alergista e imunologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Helena Fleck Velasco, assim como todas as outras alergias, só é possível diagnosticá-la em caso de exposição à ferroada destes insetos. “Os exames servem para confirmar a suspeita após um episódio em que não há confirmação de qual alérgeno causou a reação. Os exames mostram sensibilização, potencial alérgico, mas não confirmam a reação. Por isso, não adianta realizar exames se não há história prévia”, explica. 

Ela ressalta ainda que existe um tratamento para pacientes que sofrem com reações graves, chamada imunoterapia alérgeno específica. Trata-se de uma forma de induzir no paciente doses do veneno até que ele aumente sua tolerância. “Nesse caso, o sistema imune do paciente passa a identificar o veneno como algo normal e não induz os sintomas de alergia quando o paciente for picado. Esse tratamento pode salvar a vida de pacientes que têm alergia grave a abelhas”, completou.

Em caso de ataque por exames

Wilms orienta a jamais tentar manejar os insetos sem ter habilitação para tal, assim como não utilizar qualquer tipo de produto. “Qualquer tipo de atitude por parte do cidadão nesse sentido pode desencadear agressividade do enxame e aumentar o risco de ocorrer um ataque das abelhas. Muitas pessoas possuem alergia e a ferroada por desencadear um choque anafilático ou fechamento da glote”, ressaltou o comandante.

Ele conta que a principal forma de agir neste caso é, ao visualizar um enxame, não se aproximar dele e entrar em contato via telefone 193. “Através do contato de emergência, a guarnição de serviço fará o reconhecimento e avaliação in loco se o enxame é fonte de perigo ou se o atendimento precisa ser feito por um apicultor para remoção dos insetos”.

Caso uma pessoa seja picada por uma abelha, vespa ou marimbondo, a doutora Helena Velasco cita que é importante retirar o ferrão com cuidado, evitando apertar a vesícula que pode liberar ainda mais veneno. Além disso, é necessário limpar a área suavemente com água e sabão, tomar analgésicos para dor e, em caso de reação alérgica leve, ingerir também antialérgicos.

Caso um paciente alérgico tenha sido atacado por um enxame, a principal orientação é seguir o plano de emergência formulado pelo seu médico. “Se desenvolver sintomas de uma reação alérgica mais grave, como dificuldade para respirar, inchaço significativo ou tonturas, procure atendimento médico imediatamente. A primeira atitude em caso de observar uma reação alérgica é deitar o paciente. Após, aplicar as medicações de acordo com o plano de ação. Esses pacientes devem sempre portar anti-histamínicos, corticoide e caneta de adrenalina. Eles devem usar as medicações conforme orientação no plano e sempre se encaminhar para emergência ou chamar o SAMU em casos de reação grave.”

Além disso, ela salientou a necessidade de outros cuidados em caso de picada em paciente alérgico. “Em reações graves, mesmo com o uso da caneta de adrenalina, o paciente deve ser levado para avaliação médica de emergência. Em caso de reações leves, os pacientes devem evitar realizar exercícios, viajar, beber álcool ou tomar banho, pois essas atividades podem piorar a reação. A prevenção é essencial para pessoas alérgicas a abelhas, marimbondos e vespas”, finalizou.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895