Ensino Superior tem 8,6% de inadimplência

Ensino Superior tem 8,6% de inadimplência

Neste mês, instituições de educação privada no país avaliam dificuldades, definem cálculos e projetam reajustes para o próximo ano. No âmbito acadêmico, o atraso em mensalidades ficou em 8,67%, no começo deste 2022

No Ensino Superior, recente pesquisa sobre inadimplência no setor privado nacional, feita pelo Instituto Semesp, revela que ocorreu queda de valores recebidos de alunos de graduação em 2021 e no 1º trimestre de 2022

Por
Maria José Vasconcelos

Outubro marca o período de organização e de projeções para a próximo ano letivo. Assim, preparativos sobre calendários escolares, matrículas e mensalidades para 2023 entram agora mais intensamente em cena. Nessa atividade predominantemente administrativa e de planejamento pedagógico, os cálculos envolvem índices de inflação, inadimplência, custos na oferta de ensino, além de análise do cenário socioeconômico geral.

No Ensino Superior, recente pesquisa sobre inadimplência no setor privado nacional, feita pelo Instituto Semesp (entidade que representa mantenedoras de Ensino Superior no Brasil), indica que, após significativo aumento da taxa de inadimplência em 2020, influenciado pela pandemia de Covid-19 no cenário político-econômico brasileiro – com crescimento de desempregados, redução da renda, dificuldades de acesso ao crédito estudantil ou incertezas sobre o retorno das aulas presenciais – ocorreu queda de valores recebidos de alunos de graduação em 2021 e no 1º trimestre de 2022. De modo geral, o levantamento mostra que a taxa de inadimplência acadêmica ficou em 8,67% no começo de 2022. Há recuo de 1,5% no país, aliado à redução da base de alunos e à queda de 18,92% do valor praticado em cursos presenciais, e de 1,04% em EAD. Para o economista Rodrigo Capelato, diretor do Semesp, esse recuo na inadimplência está aliado à redução da base de alunos e ao retorno da normalidade das atividades presenciais. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, o número matriculados em instituições superiores particulares caiu 7,12% em 2021. E, no 1º trimestre de 2022, aconteceu nova queda, de 4,3%, em relação ao 1º trimestre de 2021. O estudo de inadimplência mostra que enquanto instituições de pequeno e médio portes apresentaram queda de créditos não recebidos no início de 2022 (redução de 2,5% e de 5,7%, respectivamente), as grandes instituições tiveram crescimento considerável, de 10,7%. E a taxa de evasão anual, com base no Censo da Educação Superior, chegou a 32,4% em 2020 (crescimento de 1,4% em relação ao ano anterior).

RS

O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado (Sinepe/RS), Oswaldo Dalpiaz, percebe que a inadimplência traz duas realidades diferentes: a da Educação Básica e a do Ensino Superior. Universidades e faculdades, segundo ele, encontram mais dificuldade, por enfrentar consequências da crise econômico-financeira que já viviam antes da pandemia, relativa a dificuldades de manter pagamentos, contas em dia e série histórica de desemprego afetando estudantes.

Com a pandemia, avalia situação mais delicada, com carência de emprego aprofundada, impossibilidade de quitar regularmente mensalidades ou suspensão de políticas de apoio, em quadro de inadimplência entre 10% e 12% no Ensino Superior. Na Educação Básica, o susto da inadimplência que surgiu, antes e durante a fase pandêmica, foi desaparecendo. Hoje, esse quadro não é tão grande quanto antes. Com o crescente retorno à presencialidade, o pagamento das mensalidades foi sendo assumido com mais segurança pelas famílias, que também buscaram mais a escola em todas as etapas escolares, fazendo o número de alunos aumentar. Também membro do Conselho Estadual de Educação do RS (CEEd), o professor assinala que a perda de estudantes na Educação Infantil foi recuperada, com a retomada presencial, e, no campo financeiro, famílias mais assíduas e cobranças mais efetivas.

O dirigente lembra que o Sinepe não tem autonomia para interferir nas decisões da escola. Mas argumenta que a orientação aos gestores é para que atendam, dialoguem, administrem, busquem soluções conjuntas e, se puderem, oportunizem descontos e identifiquem formas de apoiar casos de necessidade. Afirma que as informações chegadas ao Sinepe são de dificuldades crescentemente sanadas, com escolas em atividades mais estáveis e maior reorganização também das famílias. Reconhece perdas em percentual de alunos, porém entende que, neste ano, a maioria das escolas de Educação Básica já funcionam com o número de alunos que tinham antes pandemia.

No âmbito acadêmico, Oswaldo Dalpiaz pondera que o maior ingresso no ensino a distância (EAD) modificou a perspectiva administrativa do setor, pois se verifica grande procura por EAD, com valores e custos gerais menores, mas com estrutura presencial a ser mantida e que precisa se recriar. Lives, conferências e encontros diversos têm sido promovidos pelo Sinepe/RS para orientar as escolas. Neste mês, inclusive, deve ocorrer um novo seminário sobre matrículas, visando orientar e projetar a economia para a gestão educacional de 2023.

 

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