Equipamento torna mais eficiente análise do leite

Equipamento torna mais eficiente análise do leite

SondaLeite, desenvolvida pela Embrapa, oferece classificação segura da qualidade do produto captado nas propriedades e detecta o leite “lina” que, mesmo não sendo o padrão, pode ser aproveitado pela indústria

Por
Lucas Keske*

Uma das produções mais tecnificadas e com maior controle de qualidade é a do leite. Há anos, a atividade está submetida a uma série de normativas que aumentaram a segurança em relação à captação, à temperatura e ao trânsito do produto, de forma a garantir um alimento livre de impurezas ao consumidor. Neste âmbito, uma inovação criada pela Embrapa, o SondaLeite se soma ao esforço de sanidade e também oferece à indústria uma ferramenta de melhor aproveitamento das matérias-primas produzidas pelas fazendas. O equipamento, desenvolvido pelas unidades da Embrapa Instrumentação e Clima Temperado, detecta de forma precisa e rápida qual classificação define o leite coletado e levado à análise, se normal, lina (leite instável não ácido) ou ácido.

Atualmente, o teste do álcool é utilizado nas fazendas no momento de carregar o leite cru para os caminhões de transporte que vão levá-lo à indústria. Este exame é responsável por mostrar se o leite pode ser carregado ou não, garantindo que um leite ácido (inútil para o processamento), será descartado. A Embrapa pesquisou a utilização do SondaLeite como um teste alternativo a esse − e que deve entrar em execução nos próximos meses − que identificará composições do leite que podem ser aproveitados pela indústria mesmo que não estejam na categoria normal. Ou seja, a metodologia permite apontar dentro do leite que seria classificado como ácido, uma composição do líquido que pode ser aproveitada. Por meio de ondas luminosas, o equipamento conseguirá detalhar a composição em apenas 25 segundos. 

Segundo a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Maira Balbinoti Zanela o teste “mede a reflexão de luz em vários comprimentos de onda no leite”, identificando o leite tipo “lina”. Esta alteração na qualidade se dá no desequilíbrio no sistema de produção, com a perda de caseína. No teste do álcool, esta característica define o lina erroneamente como ácido e, portanto, descartável. As pesquisas relacionadas ao lina começaram em 2002, conforme a pesquisadora, mas e o desenvolvimento do SondaLeite teve início em 2019, foi interrompido na pandemia e retomado no final do ano passado, com novos testes de detecção da estabilidade do leite cru. 

O teste do álcool, regulamentado pela Instrução Normativa nº 62, é obrigatório desde 2011. Foi escolhido por ser rápido e confiável para mostrar se o produto está plenamente apto a ser carregado. Contudo, composições de leite como o lina podem ser usados pela indústria, principalmente na alimentação animal ou em outros produtos que passem pelo processo de pasteurização.

Foto: Embrapa / Divulgação / CP.

Maira Zanela esclarece que o leite cru tem composição muito variável entre as regiões e os rebanhos do Estado do Rio Grande do Sul. Desta forma, neste momento a pesquisa está comparando os resultados obtidos pelo SondaLeite com outros testes semelhantes, como o próprio teste do álcool. Mesmo com toda essa tecnologia embarcada, Maira reforça que o equipamento deve ser de fácil e rápida operação, sem deixar de ser seguro. “Na verdade, ele faz a leitura sozinho: coloca-se o leite no equipamento e se dá o comando que pode ser feito pelo próprio celular. A ideia é que ele já te dê o resultado final, em uma forma de fácil visualização se o leite é normal, ácido ou lina”, explica a pesquisadora. 

Estudos relacionam o lina à problemas decorrentes da deficiência nutricional das vacas leiteiras, o que resulta num leite com essa formulação específica. 
De acordo com Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS), esse problema já foi maior no Rio Grande do Sul, mas, neste momento, estima que cerca de 2% do leite produzido pelos gaúchos se enquadrem na categoria Lina. “A incidência é maior em produtores menores, com menos infraestrutura, mas não quer dizer que nos grandes não aconteça”. 

Segundo Darlan, houve um investimento dos produtores em complementos e aditivos para a nutrição das vacas leiteiras, o que pode ter reduzido a incidência. “Mas a pesquisa não deixa de ser relevante para diminuir ainda mais os prejuízos dos produtores. Como tivemos essas últimas estiagens, pode ter ocorrido um pouco mais”, reconhece o dirigente do Sindilat.

SondaLeite

  • Equipamento portátil, utiliza feixes de luz para classificar o leite como normal, lina ou ácido, no local em que é produzido;

  • É uma ferramenta capaz de eliminar a interferência humana, incertezas e minimizar os prejuízos da cadeia leiteira, especialmente para os pequenos produtores;

  • Permite a identificação do chamado lina (leite instável não ácido), cuja detecção ainda é um desafio pelos métodos convencionais;

  • Tecnologia aguarda parceria para licenciamento e comercialização;

  • Poderá ser utilizado diretamente no campo, acoplado em caminhões de coleta a granel, bem como no laboratório, ou instalado nos tanques de resfriamento, em laticínios e cooperativas.


*Sob supervisão de 
Nereida Vergara

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895