Especial 7 de Setembro: Leopoldina, a "cabeça" do processo de independência

Especial 7 de Setembro: Leopoldina, a "cabeça" do processo de independência

Por
Christian Bueller

O autor de “A Independência do Brasil pelas províncias de Santa Catarina e São Pedro do Sul”, Nelson Adams Filho, realça o papel do que chama de “revascularização” da história: dar destaque a protagonistas que ficaram invisíveis com o passar do tempo. “A Leopoldina é a que mais salta aos olhos neste processo, mas quantas outras mulheres também não tiveram papel importante, não só na Independência, mas em outros episódios”, diz o jornalista, que lembra não encontrar nomes de negros e nativos em ações relevantes nos registros históricos.

A influência da princesa austríaca Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo foi determinante na Independência. As cartas que enviou ao marido foram o pontapé final para a ruptura entre Brasil e Portugal. Desembarcada no Brasil em 1817, aos 20 anos, para consumar o casamento com o príncipe regente Pedro I, da dinastia portuguesa dos Bragança, ela era uma das partes de um acordo de tronos, como convinha para duas famílias reais europeias. Mesmo tendo sido educada no rigor da corte austríaca, a mais formal das velhas cortes europeias, foi uma menina alegre e espontânea. Ao chegar ao Brasil, passou a firmar “Maria Leopoldina”, em homenagem à nova pátria, pois fora informada que esse era um prenome de todas as infantas portuguesas.

No movimento que culminou com a emancipação política do Reino do Brasil, Dona Maria Leopoldina, surpreendentemente, assumiu a liderança encaminhando os passos de seu marido. Em agosto de 1822, ela ocupava a posição de regente do Reino do Brasil, em nome de Dom Pedro, quando este visitava as Minas Gerais e São Paulo. Foi a imperatriz que convenceu José Bonifácio a aceitar a nomeação para ser ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros. A influência dela junto ao seu pai, o imperador Francisco I da Áustria – último imperador do Sacro Império Romano-Germânico –, fez com que o poderoso e conservador chanceler da Áustria, o príncipe de Metternich, se curvasse e aceitasse a independência brasileira. Esse reconhecimento terminou por forçar o próprio reino de Portugal a assentir na nossa emancipação política.

A declaração da Independência, escrita por Bonifácio, foi assinada por ela em 2 de setembro de 1822 e enviada por mensageiros a cavalo para Dom Pedro, que estava em São Paulo na ocasião. Seus textos foram decisivos. “O Brasil será em vossas mãos um grande país, o Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará sua separação. O pomo está maduro, colhe-o já senão apodrece”, escreveu Leopoldina numa das três cartas que enviou a Dom Pedro I.

Leopoldina, segundo os relatos de cartas escritas por ela, demonstrava ser bastante infeliz com Dom Pedro. Ele a traía com Domitila de Castro, mais conhecida como Marquesa de Santos, e não fazia questão alguma de esconder seu caso, dando propriedades e títulos para a amante e forçando a imperatriz a aturar a presença de Domitila na corte. A imperatriz deu à luz sete filhos, e o mais novo, Pedro de Alcântara, assumiu o trono em 1840. A relação dela com o imperador ainda ficou marcada por uma possível agressão por conta das brigas causadas pelo caso de D. Pedro I com a Marquesa de Santos.

A austríaca faleceu em 1826, e as causas são especuladas até hoje. Alguns historiadores acreditam que, em razão de uma agressão de Dom Pedro I, ela teria tido um aborto espontâneo, situação que levou à sua morte em dezembro de 1826. Seu falecimento provocou o que se considera o primeiro luto nacional brasileiro, conforme atestam historiadores. “Neste período da história, só apareciam homens brancos de elite, de posse. Mulheres deveriam ficar em casa, cuidando dos filhos. Atualmente, os pesquisadores e historiadores têm trabalhado para resgatar esta história”, pontua.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895