Especial 7 de Setembro: o papel do príncipe na ruptura

Especial 7 de Setembro: o papel do príncipe na ruptura

Historiador reafirma a contrariedade do novo imperador à separação com Portugal

Vida pessoal de D. Pedro I é um capítulo à parte e foi tão agitada quanto o seu reinado

Por
Christian Bueller

Nascido em Lisboa, no dia 12 de outubro de 1798, Dom Pedro I era filho de D. João VI e D. Carlota Joaquina, que, nessa ocasião, eram príncipe e princesa de Portugal. D. João VI ocupava o posto de regente desde 1792, porque sua mãe, D. Maria I, tinha sido considerada mentalmente incapaz de governar o país. Pedro foi o quarto filho desse casal, sendo a segunda criança do sexo masculino. O primeiro filho era D. Antônio, que faleceu em 1801, fazendo de D. Pedro o segundo na linha de sucessão do trono de Portugal. Uma curiosidade era o longo nome: Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

Seus biógrafos costumam destacar o menosprezo que a mãe sentia por ele e uma afeição do pai, que não sabia demonstrar muito bem, deixando o menino crescer sem muito contato com seus pais. A educação do futuro imperador do Brasil também deixou a desejar, principalmente porque ele não se esforçava nos estudos. Apesar disso, alguns tutores da infância de D. Pedro mantiveram-se próximo a ele até a sua vida adulta — destaque para D. Antônio de Arábida, René Pierre Boiret e o padre Guilherme Paulo Tilbury.

Até o começo de 1821, D. João VI tinha mantido D. Pedro afastado da política em parte porque temia perder poder para o filho. Esse afastamento, no entanto, teve que acabar quando as cortes portuguesas, formadas com a Revolução Liberal do Porto, decidiram que D. João VI deveria retornar para Lisboa. Essas cortes reuniam a burguesia portuguesa, insatisfeita com a situação de Portugal depois que a família real portuguesa se mudou para o Brasil. Eles se incomodavam porque as principais instituições de poder e a família real estavam no Rio de Janeiro, além da influência inglesa em Portugal e o enfraquecimento de seus negócios, causado pela abertura do comércio no Brasil.

As cortes portuguesas começaram a agir para estabelecer uma Constituição a que D. João VI deveria ser leal e passaram a exigir o retorno do rei. Temeroso de perder o trono de Portugal, D. João decidiu retornar para Lisboa, mas deixou seu filho, D. Pedro, como regente do Brasil, em 7 de março de 1821. Enquanto protagonista político no Brasil, era apoiado pela elite, que defendia maior autonomia do Brasil em relação a Portugal. No entanto, essa situação levou um tempo para se consolidar, uma vez que, a princípio, a elite e nem D. Pedro pensavam em obter a independência. “De junho de 1821 a setembro de 1822, foram 31 cartas ao pai, Dom João VI. Na maioria delas, Pedro se manifesta contra a Independência, a favor da fidelidade a Portugal. Até mesmo depois do ocorrido, em uma carta de 22 de setembro, Pedro não relata o episódio de que havia proclamado a Independência”, conta Nelson Adams Filho.

O autor de “A Independência do Brasil pelas províncias de Santa Catarina e São Pedro do Sul” reafirma com todas as letras a contrariedade do novo imperador com a ruptura com o país colonizador. “Se quisermos abrandar os fatos, no mínimo, hesitava quanto à validade do movimento. Ou tinha receios ao menos até três meses e meio antes do teatral ‘grito’”, frisa o especialista. Segundo ele, o ato separatista “caiu no colo de um jovem de 23 anos, inexperiente no trato com o poder”. “Quando Dom João volta para Portugal e quebra o Banco do Brasil, que ele mesmo havia fundado, Pedro ficou, um rapaz que só tinha mulher, cavalo e guerra na cabeça, nesta ordem”, dispara Adams.

Certa feita, em uma das cartas enviadas ao pai, Dom Pedro demonstra desespero: “Peço a V.M. por tudo quanto há de mais sagrado, me queira dispensar deste emprego, que seguramente me matará pelos contínuos e horrorosos painéis que tenho, uns já à vista, outro muito piores para o futuro os quaes eu tenho sempre diante dos olhos”, escreveu. A saúde do jovem regente não era das melhores. Pedro apresentava ser um jovem hiperativo e é sabido que ele sofria de epilepsia, pois existem registros que informam sobre convulsões do monarca.

A vida pessoal de Dom Pedro I é um capítulo à parte e foi tão agitada quanto o seu reinado, o que exemplifica interesses mais caros a ele do que a Independência do Brasil. Foi casado duas vezes e ficou conhecido por ser infiel. O seu primeiro casamento foi com Leopoldina da Áustria, princesa austríaca, e aconteceu em maio de 1817. Ele a traía com Domitila de Castro, mais conhecida com Marquesa de Santos, e não fazia questão alguma de esconder seu caso, dando propriedades e títulos para a amante e forçando a imperatriz a aturar a presença de Domitila na corte. Em 1826, Leopoldina morreu. Em 1829, D. Pedro I rompeu seu caso com Domitila para que pudesse se casar com D. Amélia de Leuchtenburg, princesa da Baviera, com quem teve uma filha. Da relação extraconjugal de D. Pedro I com Domitila, nasceram cinco filhos ilegítimos.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895