Europa anuncia redução de emissões em 90%

Europa anuncia redução de emissões em 90%

Anúncio ocorreu dias antes de o Serviço Copernicus de Mudança Climática advertir que o planeta registrou, de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024, pela primeira vez, 12 meses seguidos de temperaturas 1,5ºC acima da era pré-industrial

Mais de 5 mil pessoas morreram na França, devido ao calor, no verão de 2023.

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Agência AFP

Enquanto o mundo registra pela primeira vez 12 meses consecutivos com temperaturas 1,5ºC acima da média da era pré-industrial, conforme anunciado quinta-feira pelo observatório europeu do clima Copernicus, a Comissão Europeia propôs, na última terça-feira, uma redução líquida de 90%, em relação a 1990, nas emissões de gases do efeito estufa na União Europeia (UE) até 2040. Esta é uma etapa crucial para alcançar o objetivo de neutralidade de carbono até 2050.

O comissário europeu de Ação Climática, Wopke Hoekstra, durante discurso perante o plenário do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, no nordeste da França, Hoekstra afirmou que “a ação climática requer planejamento”. Alcançar essa meta até 2040 demandaria que os 27 países da União Europeia mantenham o mesmo ritmo de redução planejado para o período entre 2020 e 2030. Para isso, a proposta contempla a captura e o armazenamento de volumes ambiciosos de dióxido de carbono.

A produção de eletricidade deve ser praticamente livre de carbono na segunda metade da década de 2030, enquanto o consumo de combustíveis fósseis para fins energéticos precisa cair 80% até 2040.

O chamado “Pacto Verde” para atingir a neutralidade de carbono, da UE, gerou, no entanto, temores sobre o impacto de uma transição acelerada. O conjunto de medidas previstas pela Comissão Europeia - o braço executivo da UE - para alcançar a neutralidade de carbono em 2050 fez progressos nas áreas de transporte e indústria, mas enfrenta problemas evidentes no setor agrícola - responsável por 11% das emissões de gases do efeito estufa no bloco.

A Comissão estima que os investimentos necessários entre 2031 e 2050 para atingir a neutralidade de carbono podem chegar a 660 bilhões de euros (cerca de R$ 3,2 trilhões) apenas no setor de energia. Além disso, seria necessário adicionar investimentos de aproximadamente 870 bilhões de euros (por volta de R$ 4,3 trilhões) no setor de transporte. Segundo avaliação da Comissão, esse custo monumental poderia ser coberto por meio de parcerias entre investimentos públicos e recursos privados.

Urgência

O anúncio da UE veio dias antes de o Serviço Copernicus de Mudança Climática (C3S) informar que, de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024, o planeta registrou uma temperatura média 1,52ºC superior à do período 1850-1900, algo que os cientistas consideram uma “advertência à humanidade”.

“Isto não significa que superamos a barreira +1,5ºC estabelecida em Paris em 2015”, em um acordo para tentar conter as mudanças climáticas e suas consequências, disse Richard Betts, diretor de estudos sobre os impactos climáticos na agência nacional de meteorologia britânica. Para isto, explicou, seria necessário superar o limite de forma estável durante várias décadas. “Porém, esta é uma nova recordação das mudanças profundas que provocamos no clima mundial e às quais temos que nos adaptar agora.”

“Este é um aviso brutal sobre a urgência das medidas que devem ser adotadas para limitar a mudança climática”, destacou Brian Hoskins, diretor do Instituto Grantham sobre Mudanças Climáticas do Imperial College de Londres.

“É um sinal muito importante e desastroso” disse Johan Rockström, do Instituto de Potsdam de Pesquisas do Impacto do Clima.

“Um alerta para dizer à humanidade que nos aproximamos mais rápido que o previsto do limite de 1,5 ºC”, acrescentou. A temperatura atual já está quase de 1,2ºC acima da média registrada entre 1850-1900. No atual ritmo de emissões, os especialistas da ONU calculam que existe uma probabilidade de 50% de atingir o limite de 1,5ºC no período 2030-2035. Depois dos recordes de 2023, o novo ano segue o mesmo caminho. Com temperatura média de 13,14ºC, 2024 teve o mês de janeiro mais quente desde o início dos registros.

Mais de 5 mil mortes na França

Marcado por ondas de calor mais tardias do que o normal, anunciaram as autoridades na última quinta-feira, dia 8.

"Três mortes em cada dez durante o verão podem ser atribuídas ao calor, o que representa pouco mais de 5 mil mortes, 5.167 precisamente, disse Guillaume Boulanger, da Santé Publique France, a agência de saúde francesa.

O verão do ano passado (boreal, inverno no Brasil) foi o quarto mais quente na França desde que os registros começaram a ser realizados, em 1900, e teve quatro ondas de calor. Cerca de 1,5 mil das 5 mil mortes ocorreram nesses períodos, e aproximadamente 3,7 mil pessoas que morreram tinham mais de 75 anos.

As ondas de calor estão acelerando em todo o mundo em um contexto de aquecimento do planeta devido principalmente às emissões de gases de efeito estufa. Na França, a última do verão de 2023 ocorreu em setembro, cerca de dez dias antes da chegada do outono (primavera no Brasil).

Dados publicados pela Santé Publique France mostram um dos níveis mais elevados de mortalidade relacionada com o calor. Em 2022, ocorreram 7 mil mortes e, em 2003, foram cerca de 15 mil.

Barclays deixará projetos de petróleo e gás

O banco britânico Barclays anunciou sexta-feira que “deixará de financiar novos projetos de petróleo e gás para clientes do setor energético”, medida considerada insuficiente por algumas ONGs, já que não interrompe o financiamento de compromissos existentes. O anúncio faz parte da nova “estratégia ambiental” da companhia em relação à mudança climática, conforme explicado pelo banco, que foi um grande financiador de combustíveis fósseis até o momento.

Barclays afirmou a vontade de “focar em clientes comprometidos com a transição energética”. Em comunicado, anunciaram restrições para os próximos projetos que participarem da expansão da indústria de hidrocarbonetos, e dizem esperar “que clientes do setor energético desenvolvam planos de transição ou estratégias de descarbonização antes de janeiro de 2025”.

“A nova política do Barclays contém elementos relevantes”, afirmou a diretora da ONG Reclaim Finance, Lucie Pinson. No entanto, o texto da ONG acrescenta que, apesar das restrições aos novos projetos, “o banco britânico ignora, mais uma vez, a primeira emergência: conter a expansão do petróleo e do gás” e “continuará financiando empresas diversificadas do setor quando já forem clientes”. Apontado pela ONG como o principal financiador europeu de combustíveis fósseis, Barclays segue os passos de outros bancos europeus, como ING, Société Générale, HSBC, Crédit Agricole e BNP Paribas. “O Barclays não consegue se posicionar como verdadeiro líder com esta nova política energética” porque “deixa a porta aberta para continuar financiando com bilhões a Shell, Exxon e TotalEnergies”, destaca Joanna Warrington, da ONG Fossil Free London.

Na foto, um parque indústria para refino de petróleo na Alemanha.

O Barclay foi um grande financiador de combustíveis fósseis até o momento.

Espanha viveu seu janeiro mais quente já registrado

A Espanha viveu este ano o mês de janeiro mais quente desde que estes dados começaram a ser registrados em 1961, anunciou, na quarta-feira, um porta-voz da Agência Estatal de Meteorologia espanhola (Aemet). "Agora é oficial. Janeiro foi o mais quente da série histórica na Espanha", escreveu Rubén del Campo, porta-voz da Aemet, na rede social X. A temperatura média foi 2,4 ºC superior à normal, informou a agência.

Em meio ao inverno, no final de janeiro, alguns pontos da Espanha registraram temperaturas próximas dos 30 ºC, em meio a uma onda de calor digna de início de verão (boreal) e considerada uma "anomalia" pela Aemet.

O termômetro subiu na última semana de janeiro para 29,5 °C na região de Valência (leste), 28,5 °C em Múrcia (sudeste) e 27,8 °C perto de Málaga, no sul da Andaluzia.

As temperaturas máximas diárias em janeiro situaram-se em média 2,5 °C acima do valor normal, enquanto as temperaturas mínimas foram 2,3 °C acima da média, explicou a Aemet em seu comunicado.

Quanto às chuvas, janeiro foi "normal e úmido em quase toda a Península", mas foi "seco" onde a água é mais necessária, explicou a Aemet, citando Catalunha e Andaluzia.

Em 1º de fevereiro, o governo regional da Catalunha decretou emergência pela seca em Barcelona e sua região metropolitana, após três anos de chuvas escassas que fizeram com que o nível dos reservatórios caísse 16%.

Esta declaração de emergência traduz-se em novas restrições para cerca de 6 milhões de pessoas, especialmente para usos relacionados com agricultura, pecuária e indústria.

Caso continue sem chuvas, o governo desta região de oito milhões de habitantes, e um dos motores econômicos da Espanha, não descarta levar navios carregados de água para Barcelona nos próximos meses.

Correio do Povo
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