Expectativas para Paris 2024

Expectativas para Paris 2024

Campanha histórica nos Jogos Pan-Americanos, em Santiago, premia o Brasil com mais de 40 vagas olímpicas

Por
Victória Rodrigues*

“Sensação de dever cumprido”. É assim que o Comitê Olímpico Brasileiro define o desempenho brasileiro nos Jogos Pan Americanos de Santiago. Isso porque foi uma edição de recordes no torneio. Ao todo, foram 205 pódios, com 66 ouros, 73 pratas e 66 bronzes fechando um total de 184 medalhas conquistadas e terminando a competição em segundo lugar no quadro geral. Os números superaram o Pan de Lima, que havia sido o melhor resultado obtido pelo Brasil até então.

Em Santiago, três esportes estrearam: breaking, escalada e skate. Depois de ter faturado a primeira medalha da competição com um bronze no mountain bike, a medalhista olímpica em Tóquio 2020 e atual campeã mundial do skate street, Rayssa Leal levou o primeiro ouro brasileiro. A modalidade debutante teve presença dupla em verde e amarelo no pódio com Pâmela Rosa. “Conseguimos a dobradinha, que era o que a gente queria. Agora é focar nas próximas competições e em Paris 2024”, disse a atleta.

Em Paris, aumentam as expectativas pelo brilho das manobras de Fadinha, mas não apenas com ela. A natação foi a modalidade que mais deu medalhas ao Brasil, com 25 no total. O atletismo também não ficou para trás, dando 23 pódios à equipe brasileira. A expectativa do COB é que a delegação seja ainda mais numerosa na europa do que foi no oriente. O resultado em Santiago demonstra boa projeção de quebra de recordes de medalhas também na “Cidade Luz”.

O impacto do Pan não foi apenas nas disputas. A transmissão inédita de um evento continental apenas pela internet não encontrou acolhida do público mesmo com o grande alcance dos streamings. O Canal Olímpico do Brasil e a CazéTV foram os únicos que fizeram a cobertura completa dos jogos. Apesar dos bons números, a falta de transmissão na televisão aberta limitou o alcance da performance dos atletas aos fãs do esporte.

Boxe e judô vão chegar com moral na França


A medalhista olímpica Bia Ferreira garantiu o ouro em Santiago e se tornou bicampeã dos Jogos Pan-Americanos | Foto: Wander Roberto / COB / CP

Os combates estão entre as modalidades mais emocionantes e tradicionais dos Jogos. Tanto o boxe quanto o judô têm raízes profundas em tradições antigas, mas continuam a evoluir e a cativar fãs em grande número no Brasil. Talvez esse seja um dos motivos que fizeram ambos terem uma campanha histórica no Chile.

O judô, tradicional carro-chefe da delegação brasileira, teve o melhor desempenho da competição em todos os tempos, conquistando sete ouros, três pratas e seis bronzes, totalizando 16 medalhas. O recorde de pódios na competição confirmou o protagonismo do judô brasileiro. O desempenho alimenta a expectativa por novas conquistas nos Jogos Olímpicos do próximo ano em Paris.

O boxe também fez bonito e quase “gabaritou’ as disputas. Medalhou 12 das 13 possibilidades que teve na competição. Foi ainda o esporte que mais garantiu vagas olímpicas individuais para o Brasil, com nove atletas no total. De nove finais disputadas, foi ouro em quatro, todos garantidos pela equipe feminina, grande destaque da modalidade. O primeiro veio com Bia Ferreira, que tornou-se bicampeã dos Jogos, além de ter sido prata em Tóquio 2020. Das quatro campeãs de Santiago, Mateus Alves, treinador chefe da seleção, aposta em Bia para o ouro na frança. “Em Olimpíada é diferente, mas estou confiante em repetir a campanha de Tóquio”, afirma Mateus.

Cachorrão e Rebeca têm destaque absoluto


Além de garantir quatro ouros no Pan de Santiago, Cachorrão quebrou o recorde da prova dos 400metros livre. O nadador venceu fazendo um tempo de 3min46seg79, o menor até agora no evento continental. | Foto: Wander Roberto / COB / CP

Não é incomum que no Pan Americano alguns países abrirem mão de seus principais atletas, dependendo da modalidade. Apesar da presença de uma boa equipe dos Estados Unidos, a natação brasileira teve um desempenho positivo.

No masculino, Guilherme Costa, o Cachorrão, foi o destaque. Ele chegou no Chile projetando uma meta de conquistar quatro ouros. E conseguiu. O nadador garantiu a tríplice coroa nas provas de 400 metros, 800 metros e 1500 metros, além de fechar o revezamento 4x200m livre. Medalhista no Mundial de 2022, em Budapeste, Cachorrão bateu na trave nas finais da edição deste ano em Fukuoka, no Japão, mas tem tudo para garantir uma medalha em Paris. “Falta a medalha olímpica que é meu grande objetivo. Vai ser ano que vem, então, eu quero chegar muito bem lá. Acho que é a única coisa que falta e eu vou brigar muito pelo ouro”, garante o brasileiro.

A ginástica, uma das ‘queridinhas’ da torcida brilhou como nunca. Na artística, a equipe feminina comandada por Rebeca Andrade, ouro no individual geral, faturou a prata inédita por equipes, dentre outros pódios. E na rítmica não teve para ninguém. Foram oito ouros no total. Bárbara Domingos mostrou do que pode ser capaz na França. Fez apresentações seguras e quase sem erros e assegurou três ouros e duas pratas. Com isso, deixou os Jogos do Chile como a maior medalhista brasileira da delegação.
“Fiquei emocionada no pódio, lembrei que há um ano e meio eu estava no centro cirúrgico e não sabia se ia performar da mesma forma ou se até mesmo chegaria numa Olimpíada”, relembra Bárbara, que tem vaga garantida no próximo ano em Paris. Assim como Cachorrão na natação, é outro nome para tomar nota.


Babi Domingos foi a primeira brasileira a conquistar o ouro no individual geral na ginástica rítmica no Pan | Foto: Miriam Jeske / COB / CP

Algumas decepções

Mesmo com a quebra de recordes e o segundo lugar no quadro geral de medalhas, algumas modalidades ficaram abaixo do esperado nos resultados. Na canoagem velocidade, o Brasil perdeu a decisão para a Argentina, terminou com a prata e sem a vaga olímpica. O resultado ocasionou uma das piores campanhas brasileiras na modalidade em 30 anos.

O basquete 3×3 foi um dos principais resultados negativos do Brasil em Santiago. A equipe masculina foi 4ª colocada no Mundial, mas a derrota nas quartas de final do Pan para o inexpressivo Trinidad & Tobago decepcionou. A chance de conseguir a vaga para Paris foi desperdiçada com o mau desempenho.
O tiro esportivo também não teve bons resultados. Terminou a competição levando apenas um bronze, do medalhista olímpico Felipe Wu na pistola de ar 10 metros, e com ausência de vagas olímpicas. O Brasil tinha cerca de cinco chances reais dentre as várias categorias com base nos resultados do Mundial, mas não aproveitou.

*Sob supervisão de João Paulo Fontoura

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895