Há quem diga que manter o corpo em movimento é o remédio ideal para se viver a melhor idade. Isso porque os resultados de uma rotina esportiva durante estes anos vão do fortalecimento do corpo até a melhora da saúde mental. Moldar o estilo de vida com hábitos saudáveis desde cedo faz com que o envelhecimento seja vivido de maneira mais leve e, muitas vezes, até mais fácil.
Perto de completar 100 anos, Anton Karl Biedermann é uma dessas pessoas que consegue manter a rotina esportiva até na velhice. Isso porque, o nadador e remador master do Grêmio Náutico União (GNU) coleciona títulos na carreira esportiva desde cedo. Apesar da idade avançada, os treinos de Anton ainda incluem duas horas de treino no clube, além de uma hora de musculação todos os dias. Com três pontes de safena após uma cirurgia cardíaca, o atleta afirma que o principal responsável por mantê-lo vivo é, sem dúvidas, o esporte.
“O médico que me operou disse, há quase 15 anos, que se eu não praticasse esporte já teria morrido há muito tempo por conta dos problemas cardíacos”, confidencia Anton.
A rotina pode parecer pesada quando vista de fora, mas é facilmente explicada quando Anton mostra seu currículo de conquistas. O nadador e remador ostenta o primeiro lugar no ranking mundial master da Federação Internacional de Natação (FINA) na categoria nado de costas, entre atletas na categoria master, a partir de 40 anos. Em dois campeonatos mundiais, já conquistou 10 medalhas, sendo sete de ouro. Na carreira, coleciona 253 medalhas de ouro em provas individuais e revezamentos, 46 recordes brasileiros, 37 sul-americanos e cinco Pan-Americanos.
A paixão pelo meio esportivo começou logo na infância de forma nada usual. Quando criança seu livro preferido era “A Lenda de Tarzan” e, posteriormente, o primeiro filme da história foi estrelado por Johnny Weissmüller, grande nadador da época. “Eu era pequeno e via aqueles filmes dele nadando, fugindo dos crocodilos, achava fantástico e pensei: tenho que nadar um dia”, relembra o atleta.
Depois disso, mudou-se para Guaratinguetá, interior de São Paulo, onde finalmente pôde aprender a nadar em um dos clubes da cidade, por influência da mãe. Já adolescente, teve uma passagem pelo Corinthians durante um ano, lugar em que iniciou de fato a carreira como nadador. Em 1941, Anton voltou para Porto Alegre, ingressou no União e dali nunca mais saiu.
Logo no primeiro ano no clube, foi convidado a integrar a equipe profissional de natação. “A partir daí, pratiquei natação, polo aquático, depois remo e muitos, muitos anos remo master, quase 30 anos de remo master. Ao todo, são mais de 80 anos integrando o GNU”, se orgulha Anton.
Anton Karl Biedermann, empresário e recordista em Natação Master,junto com algumas medalhas recebidas ao longo dos anos.
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O esporte sempre presente
Além de um currículo vitorioso e duradouro no meio esportivo, Anton também carrega um legado fora das águas. O atleta é formado em contabilidade, economia e administração, além de ter feito parte da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) e do Sebrae, nas décadas de 1980 e 90.
Durante o período de formação do escritório, especializado em auditoria, Anton deixou de lado os hábitos esportivos que tanto amava. Apesar do sucesso da carreira contábil e de se tornar uma das maiores empresas do Brasil, a área nunca foi seu objetivo. Na verdade, o sonho de Anton sempre foi cursar medicina, mas devido à carga horária pesada e às dificuldades financeiras da época, o pai do nadador vetou a escolha, a menos que ele trabalhasse para ajudar no pagamento das mensalidades. No entanto, o único turno disponível era o da noite, sacrifício que não estava disposto a fazer naquele momento. “Talvez tenha faltado iniciativa minha também, mas naquela época infelizmente não tinha como trabalhar durante o dia e estudar medicina à noite”, diz.
Mesmo focado em consolidar seu escritório, Anton sempre teve o esporte como escape físico e mental. Ficava cerca de 14h por dia trabalhando, até que recebeu um convite inesperado de um amigo. Receoso por conta do cansaço resolveu aceitar, e relembra como foi uma das melhores escolhas de sua vida. “Eu remei por cinco minutos e todo o cansaço sumiu, eu estava inteiro com a cabeça limpa. Isso é o esporte propiciando momentos de saúde inesquecíveis, pelo bem que faz”, afirma.
Anton Karl Biedermann, empresário e recordista em Natação Master
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Remo e natação: as duas maiores paixões
Apesar de ter começado no meio esportivo pelo sonho de nadar tal qual o filme que assistia, Anton Biedermann teve outra grande paixão: o remo. Após um bom período como nadador, o atleta foi convidado para compor a equipe profissional da modalidade, lugar no qual permaneceu por alguns anos até voltar para integrar a equipe master. Durante a trajetória no remo, ele conquistou dois vice-campeonatos mundiais e diversas medalhas.
“Ganhamos muito, muitas provas de remo pelo Brasil e pelo mundo afora”, relembra Anton. “Mas talvez a maior vitória esportiva, foi uma prova de oito, em que nós aqui em Porto Alegre enfrentamos uma guarnição argentina que nunca tinha perdido. Na época, nós conseguimos ganhar por centímetros de diferença. Aquilo nos gravou para o resto da vida”, completa.
Apesar de anos no remo, Anton conta que percebeu o tamanho da paixão pela natação aos 75 anos, após receber um convite para participar de um Campeonato Brasileiro de Natação master em Porto Alegre. Sem treinar, mas com boa preparação física por conta dos treinos de remo, o atleta participou, fez um bom tempo e percebeu que “a natação era seu esporte”, como observa.
Na modalidade, Anton também ostenta prêmios e campeonatos marcantes na carreira. Entre elas, está a Travessia de Porto Alegre, uma prova de 4.400 metros, que era disputada em um trecho do rio Guaíba, entre a avenida Sertório e o Centro da Capital. À época, era uma distância fantástica, já que não se treinava nem metade do que os atletas de alto rendimento treinam hoje. Há exatos 82 anos, Anton era vencedor da prova pela primeira vez, repetindo o feito no ano seguinte. Assim, o nadador foi colecionando vitórias no currículo.
“As duas categorias que eu mais domino são o nado livre e o nado costas. Tanto que meu maior triunfo foi em Curitiba, há quatro anos, onde eu bati o recorde mundial de 50 metros costas, que prevalece até hoje. É o melhor tempo de todos na minha faixa etária”, se orgulha. “Em parte eu digo que cheguei nisso com tantas vitórias, porque os meus adversários foram morrendo pelo caminho e eu ainda estou vivo”, diverte-se o nadador.
Para Biedermann, o segredo de manter os treinos de ambos esportes é a força de vontade e disciplina. Depois de criar hábitos esportivos e saudáveis por tantos anos na rotina, o atleta se sente culpado se, por um dia, o corpo não se movimenta.
*Sob supervisão de Carlos Corrêa
