Impasse deixa obras no entorno da Arena do Grêmio paradas

Impasse deixa obras no entorno da Arena do Grêmio paradas

Moradores do entorno da Arena seguem sofrendo com as chuvas, e audiência judicial para tratar das intervenções foi cancelada

Por
Felipe Nabinger

Passados mais de nove anos da inauguração da Arena do Grêmio, a situação do entorno do estádio segue com impasses, mistério e problemas para os moradores do bairro Humaitá. “Começa a chuva, dá um desespero tão grande que os moradores vão para rua desobstruir os canos”, relata Sandra Lúcia Maciel, presidente da Associação de Moradores do Bairro Humaitá, ilustrando a situação pela qual passam os residentes, principalmente, das vilas Farrapos, Mario Quintana e Areia. As áreas do entorno seguem trazendo transtornos à população ao mesmo passo que seguem as indefinições nos gabinetes.

Após o acordo definitivo, entre o Ministério Público, OAS Investimentos, Arena Porto Alegrense, Karagounis, Albizia Empreendimentos Imobiliários, Acauã Empreendimentos Imobiliários e Grêmio, firmado em 9 de abril do ano passado, prevendo obras na avenida A.J. Renner, avenida Padre Leopoldo Brentano e rua José Pedro Boéssio, a construção do quartel para o 11º Batalhão de Polícia Militar e a construção da Estação de Bombeamento de Esgoto, nada mudou. O prazo estipulado para essas obras, de 58 meses (quase 5 anos), entra em vigência após a aquisição da gestão da Arena pelo Grêmio, o que ainda não aconteceu.

Única etapa imediata prevista no acordo judicial era a execução dos serviços de drenagem, desassoreamento do canal sul, de poços e canal de expurgo da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap) localizada na rua Voluntários da Pátria, de responsabilidade da OAS Investimentos. “Nada está limpo, está tudo obstruído. Toda vez que chove com mais intensidade vai alagando. É direto. E com a chegada do inverno a coisa vai piorar”, afirma Sandra Lúcia.

A Procuradoria-Geral do Município (PGM) de Porto Alegre afirma que os serviços foram realizados, porém houve divergência técnica entre o que foi feito e o termo de referência. Procurado, o Dmae informa que o serviço está suspenso a partir de alinhamento entre a autarquia, a PGM e o Ministério Público (MP) e que estuda medidas com relação ao aprofundamento do canal de expurgo da casa de bombas.

"Atualmente, vejo essa situação com muita dificuldade em prosperar por conta dos entraves que foram colocados no decorrer do processo." Romildo Bolzan Júnior, presidente do Grêmio

Para a continuação das obras, é necessário o acordo para a aquisição da gestão da Arena pelo Grêmio, que deveria ter sido firmado em 7 de outubro do ano passado | Foto: Alina Souza

O entrave da compra da Arena

O acordo para a aquisição da gestão da Arena pelo Grêmio deveria ter sido sacramentado em 7 de outubro do ano passado. Em audiência presidida pela juíza Nadia Mara Zanella, responsável pela ação civil pública movida pelo Ministério Público (MP), Grêmio e OAS Empreendimentos afirmaram ter 90% dos documentos necessários para a transação e solicitaram prorrogação no prazo para a finalização do negócio. Em nova audiência, no dia 10 de dezembro, atendendo a um pedido conjunto das partes, a juíza acatou que as negociações passassem a correr em segredo de justiça, o que impede MP e PGM de se aprofundar em novos desdobramentos do processo.

No entanto, procurado, o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, afirmou que há pontos pendentes. “Recebemos a finalização de todas as diligências e auditorias que realizamos. Elas já estão avaliadas e sendo discutidas no âmbito do Conselho de Administração para o devido posicionamento do Grêmio”. Bolzan afirma que o principal obstáculo está na troca de comando do Grupo OAS, atualmente denominado Grupo Metha. “A situação mais complicada no momento é a OAS ter outro dono e que não está inserido no negócio, o que impossibilitou o andamento até a finalização do processo”, diz. A empreiteira foi comprada em junho de 2021 por um fundo de investimento de R$ 4,5 bilhões.

Uma nova audiência entre as partes estava programada para o dia 22 de fevereiro, mas, conforme revela o presidente do clube, acabou sendo suspensa a pedido dos representantes da OAS Empreendimentos.  

Acordo não voltará à "estaca zero"

Com a demora e a inexistência de novo prazo para aquisição da gestão da Arena, questionado sobre a possibilidade de anulação do acordo de abril do ano passado, Bolzan não acredita na possibilidade de reiniciar as tratativas do zero. “Não existe voltar à estaca zero, pois isso implica nova modelagem de negócio, o que não está sendo cogitado.” O presidente não demonstra otimismo no atual cenário, embora as conversas sigam ocorrendo. “Atualmente, vejo essa situação com muita dificuldade em prosperar por conta dos entraves que foram colocados no decorrer do processo”, diz.

Conforme o texto do acordo, a aquisição da gestão do estádio custará ao grêmio R$ 42,4 milhões, parcelados em 60 meses, sendo que nos primeiros 48 meses as parcelas seriam de R$ 442 mil, do 49º ao penúltimo mês as parcelas previstas são de R$ 1,8 milhão e no último mês ainda cabe o pagamento de R$ 1,1 milhão.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895