Após detectar a presença do vírus da influenza D entre bovinos da América do Sul, pesquisadores do Rio Grande do Sul, agora, tentam desvendar se o microrganismo pode causar doenças capazes de impactar a produção pecuária no Brasil e nos países vizinhos. Realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Universidade Feevale, e publicado em março no periódico Archives of Virology, o estudo Cattle influenza D virus in Brazil is divergent from established lineages analisou dez amostras de animais que manifestaram doenças respiratórias, das quais uma continha o vírus. Até então, o microrganismo só havia sido identificado em animais da América do Norte, Europa e Ásia.
Ao contrário dos vírus da influenza A e B, que atacam humanos e são conhecidos há mais tempo, o vírus da influenza D foi descoberto em 2011 e ainda há pouca informação sobre ele, segundo um dos responsáveis pela pesquisa, o professor Cláudio Canal, da Faculdade de Veterinária da UFRGS. O microrganismo foi verificado pela primeira vez em suínos nos Estados Unidos, mas infecta principalmente o gado. “Nos bovinos, é mais frequente quando eles têm doenças respiratórias”, diz o professor. Cientistas também já constataram anticorpos contra o vírus em criadores de bovinos, um indício de que o microrganismo circula entre a população humana.
Até o momento, as pesquisas não permitem associar a presença do vírus a enfermidades tanto em animais quanto em humanos, observa Canal. “Sabemos que é um vírus novo, mas não sabemos se é uma doença nova. Mas é um vírus preocupante porque é da mesma família dos da influenza A e B humanas, que causam doenças que podem levar à morte”, afirma. Se as próximas etapas do estudo desenvolvido na UFRGS concluírem que o microrganismo acarreta danos aos animais, poderão sinalizar a necessidade de criação de uma vacina. “Consequentemente, os animais vão emagrecer, vão produzir menos carne e leite. Se isso se refletir em perda de bem-estar e econômica, vamos evoluir mais, fazendo estratégias para controlar a infecção”, explica Canal.
No Brasil, a primeira detecção ocorreu quando um produtor rural procurou a Faculdade de Veterinária da UFRGS, para o diagnóstico de bovinos que apresentavam problemas respiratórios. A amostra positiva para o vírus da influenza D foi analisada por meio de um exame PCR, e os pesquisadores, então, fizeram uma parceria com a Universidade Feevale para caracterizar o genoma (conjunto de todos os genes) do vírus. Nesse esforço, segundo Canal, foi utilizado um equipamento de sequenciamento de alto desempenho. A técnica é adotada para detectar seres vivos ainda desconhecidos pela ciência e foi mais divulgada nos últimos dois anos em razão da pandemia de Covid-19, pelo sequenciamento de variantes do coronavírus.