Influenza bovina sob investigação científica

Influenza bovina sob investigação científica

Vírus identificado inicialmente na América do Norte, Europa e Ásia é estudado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul por meio da análise de amostras de animais com sintomas de doenças respiratórias

Cientistas ainda avaliam possíveis efeitos econômicos do vírus no rebanho bovino, entre os quais a perda de peso, com consequente diminuição da produção de carne e de leite

Por
Patrícia Feiten

Após detectar a presença do vírus da influenza D entre bovinos da América do Sul, pesquisadores do Rio Grande do Sul, agora, tentam desvendar se o microrganismo pode causar doenças capazes de impactar a produção pecuária no Brasil e nos países vizinhos. Realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Universidade Feevale, e publicado em março no periódico Archives of Virology, o estudo Cattle influenza D virus in Brazil is divergent from established lineages analisou dez amostras de animais que manifestaram doenças respiratórias, das quais uma continha o vírus. Até então, o microrganismo só havia sido identificado em animais da América do Norte, Europa e Ásia.

Ao contrário dos vírus da influenza A e B, que atacam humanos e são conhecidos há mais tempo, o vírus da influenza D foi descoberto em 2011 e ainda há pouca informação sobre ele, segundo um dos responsáveis pela pesquisa, o professor Cláudio Canal, da Faculdade de Veterinária da UFRGS. O microrganismo foi verificado pela primeira vez em suínos nos Estados Unidos, mas infecta principalmente o gado. “Nos bovinos, é mais frequente quando eles têm doenças respiratórias”, diz o professor. Cientistas também já constataram anticorpos contra o vírus em criadores de bovinos, um indício de que o microrganismo circula entre a população humana.

Até o momento, as pesquisas não permitem associar a presença do vírus a enfermidades tanto em animais quanto em humanos, observa Canal. “Sabemos que é um vírus novo, mas não sabemos se é uma doença nova. Mas é um vírus preocupante porque é da mesma família dos da influenza A e B humanas, que causam doenças que podem levar à morte”, afirma. Se as próximas etapas do estudo desenvolvido na UFRGS concluírem que o microrganismo acarreta danos aos animais, poderão sinalizar a necessidade de criação de uma vacina. “Consequentemente, os animais vão emagrecer, vão produzir menos carne e leite. Se isso se refletir em perda de bem-estar e econômica, vamos evoluir mais, fazendo estratégias para controlar a infecção”, explica Canal.

No Brasil, a primeira detecção ocorreu quando um produtor rural procurou a Faculdade de Veterinária da UFRGS, para o diagnóstico de bovinos que apresentavam problemas respiratórios. A amostra positiva para o vírus da influenza D foi analisada por meio de um exame PCR, e os pesquisadores, então, fizeram uma parceria com a Universidade Feevale para caracterizar o genoma (conjunto de todos os genes) do vírus. Nesse esforço, segundo Canal, foi utilizado um equipamento de sequenciamento de alto desempenho. A técnica é adotada para detectar seres vivos ainda desconhecidos pela ciência e foi mais divulgada nos últimos dois anos em razão da pandemia de Covid-19, pelo sequenciamento de variantes do coronavírus.

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