Instituições de ensino investem em Energia Solar no RS

Instituições de ensino investem em Energia Solar no RS

Universidades, institutos e escolas não apenas estudam e defendem a geração de energias limpas como já 
colocam em prática projetos concretos

Por
Ana Julia Zanotto*

Sustentabilidade e redução de custos. Estes são apenas dois, dos diversos benefícios da energia solar fotovoltaica. Com investimento em energia renovável desde 2012, o Brasil já evitou a emissão de 40,6 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico ou dióxido de carbono), segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). E, em julho deste ano, o Rio Grande do Sul ocupou a terceira colocação de potência instalada de energia solar, conforme o recente balanço da Absolar (tinyurl.com/ms6379w6). Detalhes sobre essa energia em tinyurl.com/3ys3vurv.

Contribuindo com estes índices, Instituições de Ensino Superior (IES) gaúchas têm investido na instalação de Usinas Solares Fotovoltaicas em seus campi. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS (IFRS), com campus-sede em Bento Gonçalves, lançou, neste mês, um Programa de Eficiência Energética. Mas a instalação de usinas fotovoltaicas, em 16 de seus 17 campi no Estado, ocorre desde 2019, com objetivo de adotar iniciativas de gestão e uso responsável de recursos naturais, com menor impacto ambiental e custo reduzido. 

O percurso de implementação foi dividido em três etapas. Em 2023, o Programa entrou na terceira fase, demarcando o objetivo de produção de 65% da energia total que o IFRS consome. E a expectativa é que seja economizado em torno de R$ 1 milhão anual.

Para o desenvolvimento do projeto, o Instituto contou com investimentos da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC) e com uma emenda parlamentar da bancada federal gaúcha. A previsão é que, no total, sejam investidos, aproximadamente, R$ 7 milhões.

“É o grande projeto estruturante do IFRS, pois contempla, ao mesmo tempo, a busca por soluções sustentáveis de geração de energia e a racionalização dos custos de funcionamento da instituição”, destaca o reitor do IFRS, Julio Xandro Heck. Para ele, o Programa contribui com a responsabilidade ambiental e com a diminuição do gasto público. “Porém, o mais importante, é que essa economia proporcionará que mais ações de ensino, pesquisa e extensão aconteçam e beneficiem a nossa comunidade”, avalia.

Para monitoramento em tempo real do consumo de energia elétrica em cada unidade instalada, o IFRS implementará o Portal de Gerenciamento de Energia, em parceria com o Programa para Desenvolvimento em Energias Renováveis e Eficiência Energética nas Instituições Federais de Educação (EnergIFe), do Ministério da Educação. Informes do Programa em energif.mec.gov.br.

Também via financiamento do EnerfIFe, a Universidade Federal do RS (Ufrgs) instalou uma Usina Solar Fotovoltaica no Campus Litoral Norte, em Tramandaí, com investimento de R$ 1,7 milhão em 998 módulos fotovoltaicos. Para a coordenadora do projeto e especialista em Energia Solar Fotovoltaica, Aline Cristiane Pan, a ação une os benefícios da energia renovável com o desenvolvimento acadêmico. “Iremos envolver as áreas de ensino, pesquisa e extensão, além de utilizar a Usina como um laboratório a céu aberto”, explica.

A Ufrgs investirá, ainda, em projetos de extensão para envolver as escolas com o novo empreendimento. A coordenadora conta que o plano é abrir o espaço para visitação de estudantes para “desde já, criar a cultura de sustentabilidade, da descarbonização e promover debates com a sociedade, tornando a Universidade um exemplo de aplicação de recurso renovável”. 

A expectativa de economia é de R$ 6 milhões, nos próximos 25 anos, com previsão de ampliação do número de Usinas. “Mas toda a sociedade vai acabar sendo beneficiada, porque, afinal, somos nós que pagamos todos os custos de uma universidade pública”, argumenta a coordenadora.

As IES particulares também vêm desenvolvendo cada vez mais a energia renovável. A Universidade de Passo Fundo (UPF) investe, desde maio de 2018, no Parque de Geração Solar Fotovoltaica. “A instituição viu a necessidade de ter outras formas de energia, e, juntamente com o curso de Engenharia Elétrica, foram desenvolvidos dois projetos: um para energia fotovoltaica e outro para eólica. No entanto, na época, optou-se pela solar, devido ao custo menor e às condições do clima”, explica Jair Penz, gerente da Divisão de Infraestrutura e Logística.

Atualmente, a UPF produz 10% da energia que consome. São, ao todo, seis usinas: uma no campus de Lagoa Vermelha e as outras cinco em Passo Fundo. Segundo Gustavo Brum, membro da Divisão de Infraestrutura e Logística, mesmo não produzindo o total de energia consumida, a Universidade só compra energia proveniente de fontes renováveis por integrarem seus pilares de sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Além disso, as usinas são utilizadas para fins acadêmicos, servindo ainda como local de aprendizagem para os estudantes. 

Já a Universidade de Caxias do Sul (UCS) possui duas usinas solares. Uma no campus da Região dos Vinhedos e outra no Vale do Caí, que geram parte de seu consumo desde 2019. Os projetos resultam de parceria da UCS com a RGE (Rio Grande Energia), em eficiência energética.

A UCS possui ainda parceria com Sebrae e Sicredi Pioneira no Programa de Desenvolvimento de Integradores Solares, ação que capacita empresas do setor. Atualmente, a Universidade preside o projeto RS Solar, que reúne mais de 44 organizações e entidades, como Sebrae e Fiergs, em ações voltadas ao setor de energia do Estado. 

Desde a criação, em 1997, o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar obteve o apoio da PUCRS,  colocando o projeto como o único centro da América Latina projetado para o desenvolvimento das células solares de silício. | Foto: Bruno Todeschini / PUCRS / CP

Usina Champagnat I

Também com foco em preservar o meio e gerar economia de energia, a Rede Marista de escolas lançou, neste mês (1<SC120,176>/8), uma Usina Fotovoltaica no bairro Lami, na zona sul de Porto Alegre. Nomeado Champagnat I, o empreendimento possui 930 painéis solares, com economia anual prevista em R$ 600 mil. A energia será distribuída a 33 unidades consumidoras ligadas à CEEE Equatorial e beneficiará os municípios de Porto Alegre, Viamão, Tramandaí e Rio Grande. Além de o projeto investir na preservação, pretende desenvolver parcerias com escolas e universidades, para estudos sobre energia solar.

PUCRS inova em pesquisas

Despontando em tecnologia e produção científica, desde 1997, a Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), na Capital, conta com o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar. Nele são desenvolvidos projetos de células solares e módulos fotovoltaicos em escala piloto. Popularmente conhecidos como placas ou painéis solares, os módulos são formados pelo conjunto de células. 

Izete Zanesco, uma das criadoras do projeto, revela que o empreendimento sempre teve o apoio da PUCRS, fazendo com que o núcleo seja o único centro, na América Latina, projetado para desenvolver células solares de silício. Aponta que esse material é o mais utilizado no Brasil. E que os módulos ou painéis são produzidos no país, mas as células são importadas. Por isso, entende que “nosso governo deveria olhar para essa questão, pois, hoje, os produtos vêm da Ásia, mas, com a alta demanda, poderá faltar matéria-prima”, complementa.

Junto à pesquisa, a PUCRS investe em recursos humanos, em seus Programas de Pós-Graduação, formando mestres e doutores na área de energia renovável. E deposita patentes relacionadas ao trabalho desenvolvido no núcleo. Além disso, os estudantes de graduação também podem fazer parte do projeto de pesquisa, por meio da Iniciação Científica (IC). E Izete conta que é comum receber alunos na IC, que depois seguem com mestrado e doutorado na área. 

Os módulos fotovoltaicos desenvolvidos na Universidade são experimentais, só aplicados para teste. Na PUCRS, os exemplares ficam no Museu de Ciência e Tecnologia, desde 2010, gerando energia para o local. E também fizeram parte dos testes empresas parceiras, que permaneceram com os exemplares durante sete anos. Em 2023, os módulos testados estão retornando para o laboratório da PUC para serem analisados. 

Tipos de Energia Solar

Existem duas formas de energia solar: a fotovoltaica e a térmica. A diferença está no resultado da transformação. A primeira consiste na conversão da luz solar em energia elétrica. Enquanto a segunda é a transformação da luz do sol em calor, geralmente aplicado para aquecimento. 

 

*Sob supervisão de Maria José Vasconcelos

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895