Jogos Estudantis Brasileiros reúnem milhares de jovens

Jogos Estudantis Brasileiros reúnem milhares de jovens

O Rio Grande do Sul será representado na competição estudantil por uma delegação de quase 270 pessoas, sendo 215 atletas

O Parque Olímpico é um dos lugares onde acontecerão os JEBs. Evento tradicional do calendário esportivo brasileiro, por quase duas décadas, os jogos deixaram de ser realizados. Retomados no ano passado, voltaram em 2022 promovidos pela CBDE, que recebe recursos das loterias federais

Por
FABRICIO FALKOWSKI

Serão milhares de crianças e jovens, entre 12 e 14 anos, de todo o Brasil reunidos por duas semanas no Rio de Janeiro para participar de um dos maiores eventos esportivos do Brasil. Porém, não se trata apenas de esporte. Os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), que ocorrem entre 31 de outubro e 15 de novembro, oferecerão a 6 mil estudantes uma oportunidade única de viver dias de integração, troca de experiências e muito mais.

Os JEBs eram um evento tradicional do calendário esportivo brasileiro. Porém, por quase duas décadas, deixaram de ser realizados. Retomados no ano passado, voltaram em 2022 promovidos pela Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE), que recebe recursos das loterias federais. O Rio Grande do Sul será representado por uma delegação de quase 270 pessoas, entre os quais 215 “projetos” de atletas. Todos eles, dos quais mais da metade são oriundos de escolas públicas de várias partes do Estado, receberão gratuitamente hospedagem, transporte aéreo e alimentação, durante todos os dias que estiveram participando do evento.

Até por isso, os números envolvidos são astronômicos. Calcula-se, por exemplo, que serão servidas mais de 150 mil refeições e emitidas mais de 16 mil passagens aéreas. Além disso, estudantes e técnicos ocuparão mais de uma dezena de hotéis, todos na Barra da Tijuca, na Zona Sul carioca, totalizando mais de 63 mil diárias de hospedagem.

Cada uma das crianças gaúchas selecionadas para estar nos JEBs participou de uma seletiva regional, que ocorreram em várias cidades, com organização da Federação do Desporto Escolar do RS (FDERS). Cada um dos estudantes, após vencer a etapa regional, representará o Estado em uma das modalidades envolvidas no evento: basquete, atletismo, handebol, futsal, vôlei de praia, badminton, caratê, judô, taekwondo, ginástica artística, ginástica rítmica, xadrez, tênis de mesa, ciclismo e atletismo adaptado. O Rio Grande do Sul só não terá representantes do wrestling.

Maria Laura Sales Corrêa é estudante do nono ano do ensino fundamental na escola estadual Daltro Filho, em Porto Alegre. Ela estuda pela manhã e, à tarde, treina atletismo na Sogipa. Em 2022, ela participará pela segunda vez dos JEBS. Em 2021, conquistou medalha de bronze no salto com vara, além de um quarto lugar no arremesso de martelo. “Os JEBs são uma competição muito legal. A gente conhece um monte de gente diferente e tem a torcida apoiando sempre. Foi uma experiência incrível que eu tive no ano passado. Por isso, vou repetir agora”, afirmou a atleta.

A jovem, em 2023, vai concentrar sua energia somente na prova do martelo. Como está um ano mais velha e melhor treinada do que em 2021, espera subir no pódio na prova que considera a sua principal. “É uma competição difícil. Então, tem que aguardar a hora de tudo acontecer. Mas estou me preparando bem. Quero trazer uma medalha para casa”, diz Maria, que é paraense.

Apoio familiar em busca do sonho no esporte

Maria Laura Sales Corrêa nasceu em Belém do Pará e veio para o RS, com toda a família, em busca do sonho no esporte. Primeiro, treinou ginástica artística no Grêmio Náutico União. Em 2020, no meio da pandemia, trocou o ginásio pela pista e passou a treinar na Sogipa. “Tenho muito apoio da minha família. Meu pai (Renato, motorista) e minha mãe (Tatiane, auxiliar de enfermagem) sempre estiveram comigo. Sem eles, eu não teria como viver tudo isso”, comemora.

Sobre o futuro, Maria não faz previsões. Aproveita o dia a dia do esporte, os treinos, as viagens e as experiências. Ela sabe que virar ou não atleta de alto rendimento é apenas uma das consequências possíveis do caminho que está sendo trilhado. Exemplos não faltam, já que na Sogipa ele divide a pista de atletismo com atletas como Almir Júnior e Samory Uiki, que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado. “É legal ter eles por perto. Mostra que é possível se a gente fizer as coisas certas”, continua.

Legado para a Rio de Janeiro dos Jogos de 2016, a área Olímpica será o palco dos JEBs. Além das competições, estão programadas atividades de intercâmbio esportivo e cultural para o desenvolvimento de valores como o espírito esportivo e a socialização. Por isso, as disputas cessarão durante um dia para a realização de um “dia cultural”, oportunidade para cada uma das delegações apresentarem aspectos do seu folclore, história e cultura para os atletas dos demais estados.

“O foco do JEBs é o esporte, mas está longe de ser apenas ele. A ideia é realizar um evento de confraternização entre todos os atletas, de todos os estados do Brasil, oferecendo uma experiência única na vida para esses jovens”, enfatiza o presidente da FDERS, Fernando Mabilde. Antes de ocupar o cargo, ele foi atleta e árbitro internacional de basquete por quase 50 anos, tendo participado de inúmeras edições do JEBs e também dos JUBs, que envolve alunos do ensino superior. “A nossa expectativa é a melhor possível. Tivemos alguns problemas no ano passado, mas foram superados. Está todo mundo bastante otimista”, continua.

A expectativa também é gigante entre os 13 estudantes do Colégio Sinodal Tiradentes, de Campo Bom, que, sob o comando da técnica Márcia Korndoerfer Tornin, estarão no JEBs para representar os gaúchos no handebol. Vinícius, Gabriel, Cristian, Vitor, Joaquim, Riquelme, Vitor, Brayan, Isaque, Arthur, Bruno, Lorenzo e Gabriel treinam pelo menos duas vezes por semana, com reforços nos sábados e domingos, desde o início do ano, visando o evento. Eles viajam para o Rio de Janeiro no dia 8 e voltam no dia 15 de novembro, data de encerramento do evento.

A técnica conta que a preparação começou com uma conversa com os alunos. “Perguntei se eles queriam encarar esse desafio. Eles toparam prontamente. Foi aí que começamos a treinar”, lembra Márcia. Devido à pandemia, em 2021, não foi possível realizar a seletiva do handebol. Por isso, os guris do Sinodal Tiradentes foram ao JEBs como convidados, formando uma equipe às pressas. Agora, eles ganharam a seletiva. “Treinamos bastante. Eles estão concentrados, mas o mais importante nem é vencer. Tenho certeza de que esse tipo de evento amplia a visão de mundo de todos os estudantes envolvidos. Eles vão ter contato com outras pessoas, com outras culturas, de cidades e estados muito diferente. Lá, eles vão ter a noção de como há diferentes realidades dentro do mesmo Brasil. Acima de tudo, é um encontro cultural”, resume a técnica Márcia.


Maria Laura Sales Corrêa nasceu em Belém do Pará e veio para o Rio Grande do Sul com toda a família. Primeiro, treinou ginástica artística. Em 2020, no meio da pandemia, trocou o ginásio pela pista de atletismo | Foto: ARQUIVO PESSOAL / CP

VAGA

As competições esportivas não são a única atração do JEBs, mas são foco. Tanto que os vencedores em cada modalidade irão representar o Brasil nos Jogos Sul-Americanos Escolares, entre 1º e 15 de novembro, em Brasília. O evento reunirá atletas da mesma faixa etária e de todos os países do continente.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895