Lã de ovelha no cultivo de frutas

Lã de ovelha no cultivo de frutas

Projeto da Embrapa Pecuária Sul com a iniciativa privada vai desenvolver agromantas de lã grossa proveniente da ovinocultura como insumo a ser empregado pelos agricultores na proteção de mudas de árvores frutíferas

Por
Nereida Vergara

A partir de dezembro de 2026, agricultores gaúchos que se dedicam à fruticultura, em especial aos cultivos da oliveira e da noz-pecã, poderão contar com uma nova tecnologia para a proteção das mudas de árvores nos pomares. A Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, e a Cimabra/Indústria e Comércio de Manufaturados de Fibras assinaram um convênio para o desenvolvimento de agromantas que terão como matéria prima a lã grossa de ovelha. O material, que será testado nos próximos três anos, pode trazer ganhos de produtividade, sustentabilidade e queda nos custos da fruticultura, segundo a pesquisadora da Embrapa Magda Vieira Benavides. Além disso, representará um novo mercado de negócios para o ovinocultor, que nos últimos anos tem tido dificuldades para escoar seus estoques de lã.

“Trata-se de um produto natural, renovável e biodegradável, que bloqueia a luz do sol e evita o crescimento de outras plantas no entorno da muda que podem retirar nutrientes”, afirma Magda. A lã, diz a pesquisadora, também pode ser importante para a redução do uso de fertilizantes, uma vez que é composta por 16% de nitrogênio e 3% de enxofre. “Mesmo que a gente teste inicialmente nas oliveiras e nogueiras, o material tem potencial para ser usado em outras espécies de árvores e no plantio de olerícolas (hortaliças em geral)”, complementa.

De acordo com Magda, a lã de ovelha também tem a capacidade de absorver a água da chuva, liberando a umidade lentamente para a planta. A lã utilizada na agromanta é a que tem pouco potencial de mercado, abaixo de 21 micras, mais grossa, que pode ser de barriga e retosa, lavada, seca, cardada e agulhada. O produto será oferecido a metro, em três densidades, fina (com duração de seis meses), média e grossa (com duração de um ano). “A pesquisa vai avaliar se o produto traz mesmo benefícios para o desenvolvimento das árvores bem como a viabilidade econômica de sua produção e uso”, explica. Se o produto se mostrar viável, pode ser uma opção para os ovinocultores comercializarem a lã de seus rebanhos, aumentando a possibilidade de renda com este produto. “O mercado de lã passa por uma grande crise há muito tempo, o que foi agravado com a pandemia. No caso das lãs mais grossas, que serão utilizadas no projeto, atualmente o preço pago ao produtor não cobre o custo da retirada da lã dos animais”, conclui.

O projeto conta ainda com a colaboração de pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas.

Correio do Povo
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