Lã gaúcha vive momentos distintos de mercado

Lã gaúcha vive momentos distintos de mercado

Enquanto produtores credenciados no programa de certificação Lã Gaúcha, promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), comemoram, cooperativas reportam crise e dizem que estoque parado já é de três safras

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Correio do Povo

Produtores gaúchos de certificada estão na parcela de ovinocultores que, neste ano de 2023, comemoram os resultados da venda de seu produto. Criadores de ovinos das raças Merino Australiano, Corriedale e Ideal, que participam do programa da lã certificada da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), destinaram a maior parte da produção ao mercado uruguaio, por uma média de R$ 20 o quilo.

É o caso de Sérgio Munõz, produtor de lã Ideal, em Herval, na região Sul do Rio Grande do Sul. Ele garante que se vendesse a lã para os compradores internos, o quilo seria comprado por R$ 10,00, metade do preço oferecido pelo país vizinho. Além disso, afirma o produtor, às lãs Merinas (as mais finas) tendem a obter até 100% de valor agregado no preço do quilo. 

Ao todo, o programa da Arco certifica lã de 18 produtores gaúchos das cidades de Herval, Pedras Altas, Alegrete, Uruguaiana, Bagé e Pinheiro Machado. Juntos estes produtores obtiveram 65 mil quilos de lã Merina, 10 mil de Ideal e 8,3 mil de Corriedale.

Cinco grupos de profissionais trabalham no processo de esquila dos animais, utilizando o método tally hi, de origem australiana, recomendado pelo programa de certificação Lã Gaúcha, iniciado em 2021. No primeiro ano, a iniciativa produziu 18 mil quilos de lã certificada, quantidade que poderá chegar a 100 mil neste ano.

A diferença significativa entre a produção de lã gaúcha e a colheita da lã certificada está, de acordo com Muñoz, também técnico da Arco, no que chama de questão cultural. “Os produtores ainda estão naquela de não acondicionamento de lã, de não certificação, então a grande maioria da nossa lã entra para a vala comum e o intermediário é quem ganha. Ele compra barato, porque está mal acondicionada, manipula e ganha dinheiro ao vender”, pontua.

O ovinocultor acrescenta que a lã certificada, quando sai do galpão, está pronta para entrar nas linhas de produção. “A indústria quer esta lã porque é um produto de maior qualidade e consequentemente o produtor ganha mais”, ensina. 

Se entre os adeptos do programa de lei certificada há razões para comemorar, o mesmo não acontece com os produtores de lã no Estado em geral. Cooperativas como a Lãs Mauá, de Jaguarão, chamam a atenção para o momento crítico do setor, com mais de 20 mil toneladas de lã estocadas nos armazéns com dificuldade de venda.

O presidente da cooperativa, Edison Ferreira, relata que hoje existem cerca de três safras de lã paradas. “Devíamos vender, pelo volumes que produzimos, de cerca de 8,6 toneladas de lã, umas 700 toneladas por mês. Vendemos em torno de 70 toneladas”, reclama.

Ferreira aponta como alternativa para sair da crise a reativação do mercado interno, por meio do retorno das empresas que fazem a lavagem do produto, tornando-o apto para a exportação para o Uruguai. O dirigente invoca, ainda, a necessidade das cooperativas laneiras poderem acessar o Fundovinos, utilizando o recursos para fomentar o setor. A intenção é usar o dinheiro para premiar jovens empreendedores que desenvolvam produtos inovadores tendo como base a lã de ovelha.

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