Lodo de tratamento de água pode regenerar solos

Lodo de tratamento de água pode regenerar solos

Pesquisa feita pela Embrapa Clima Temperado em parceria com a Corsan permite o uso deste resíduo para melhorar a qualidade de terrenos arenosos, com baixa retenção hídrica, tornandos mais férteis e menos suscetíveis à estiagem

Por
Lucas Keske*

Um estudo pioneiro no Brasil, coordenado por pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, estabeleceu procedimentos para o emprego seguro do Lodo de Estações de Tratamento de Água (Leta) em solos agrícolas do Rio Grande do Sul. De acordo com os resultados divulgados, esse produto − que neste momento gera custos às companhias de saneamento pois tem de ser destinado a aterros sanitários − pode se tornar parte da cadeia de suprimentos agrícolas e beneficiar produtores, empresas de tratamento de água e o Estado.

Segundo a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), financiadora da pesquisa, apenas as suas estações de tratamento de água geram 51 mil metros cúbicos de Letas anualmente, que representam custo extra à empresa. Dessa forma, a “Pesquisa e desenvolvimento do potencial do uso agrícola de lodos de estações de tratamento de água e de esgoto”, iniciada em 2015, buscou encontrar destinos mais eficiente e menos onerosos para essas substâncias, já tendo resultado em pelo menos duas experiências.

O pesquisador Adilson Bamberg, coordenador da investigação, afirma que, em resumo, o processo realizado pelas Estações de Tratamento de Água (ETAs) para preparar a água bruta (normalmente proveniente de rios e lagos) e depois entregá-la aos domicílios gera um produto conhecido como Leta (Lodo de Estação de Tratamento de Água). O pesquisador ressalta que os Letas não têm propriedade fertilizante, mas que tem outras características relevantes: podem condicionar solos muito arenosos e com baixa capacidade de retenção de hídrica, tornando-os mais agricultáveis e menos suscetíveis à estiagem e também podem ser usados como substrato para a germinação de plantas.

Ainda segundo Bamberg, a maior parte dos Letas é constituída por materiais inertes, principalmente, argila. Além disso, pode conter resíduos dos processos químicos utilizados para processar essa água. Então, para garantir o uso seguro deste material, a pesquisa também averiguou as quantidades confiáveis para uso destes químicos na agricultura e estabeleceu características rígidas que devem ser seguidas. Os apontamentos foram a base para a elaboração da Resolução Normativa nº 461/2022, do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema-RS).

O analista agropecuário de florestas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) e membro do Consema, Valdomiro Haas, afirma que o conselho chancelou a resolução porque “não dava pra deixar passar essa oportunidade de permitir que tanto produtor, quanto a estação de tratamento de água e o Estado se beneficiem”. A resolução dá segurança jurídica para o uso deste tipo de produto, desde que seguindo os parâmetros nele presentes, em solos agrícolas do Rio Grande do Sul. 

Adilson e Valdomiro imaginam que os Letas podem integrar o mercado agropecuário em um futuro próximo e possibilitar um destino mais eficiente e sustentável para o que hoje é considerado dejeto, onera o Estado e ocupa espaço de outros resíduos em aterros.

*Sob supervisão de Nereida Vergara

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895