Novos carros trazem Fórmula 1 diferente

Novos carros trazem Fórmula 1 diferente

Com novas regras aerodinâmicas obrigando os times a começarem quase do zero seus projetos e um teto de gastos preestabelecido, há uma variedade de ideias que não se via havia décadas e uma expectativa real de mais pilotos e times disputando vitórias em 2022

Max Verstappen dirige seu Red Bull durante os testes em Barcelona, na Espanha

Por
BERNARDO BERCHT

A Fórmula 1 de 2022 sofreu uma revolução, com novas regras aerodinâmicas obrigando os times a começarem quase do zero seus projetos. O desafio foi maior ainda, com um teto de gastos preestabelecido, além de novos pneus e algumas polêmicas de bastidores para resolver. Fato é, nenhum carro é sequer parecido com o outro, com uma variedade de ideias que não se via havia décadas. E existe uma expectativa real de mais pilotos e times disputando vitórias.

Claro que o drama e a forte expectativa gerados pelo duelo Lewis Hamilton x Max Verstappen seguirá como uma das principais histórias importadas de 2021, com o octacampeão tentando a revanche contra o jovem holandês que carregará o número 1 na sua Red Bull.

A grande sacada do novo regulamento da F1 nem é tão nova assim. Trata-se do efeito solo, que revolucionou o automobilismo nos anos 80, mas foi banido por motivações de segurança. Com carros e pistas mais seguros, contudo, ele retorna para manter a performance dos carros, mas aumentar as ultrapassagens e a competitividade.

O tal efeito solo usa grandes dutos no assoalho do F1 que sugam o ar e fazem toda a carroceria trabalhar como uma asa invertida, criando a tal pressão aerodinâmica, ou downforce. É isto que "gruda" o carro na pista e garante aos pilotos a capacidade de fazer as curvas mais rápido. Até então, o downforce era gerado principalmente pelos aerofólios, que perdem sua eficiência ao encarar o ar turbulento atrás de outros carros, dificultando os duelos de pista. Com o downforce sendo gerado embaixo do F1, esse efeito é muito menor e os pilotos conseguem seguir os outros mais de perto. 

Apresentada a teoria, cada projetista se enfiou na fábrica junto com a equipe de engenheiros na busca de criar o carro mais rápido. E dez receitas diferentes saíram das pranchetas. A surpresa veio, contudo, nos testes. Com o carro na pista, longe das simulações, um fenômeno que era esperado, mas nem tanto, virou o principal obstáculo da performances: o purpoising. O termo em inglês vem da navegação, quando um barco começa a quicar na água e perde estabilidade.

O mesmo ocorre com o F1 quando o fundo do carro chega muito próximo do asfalto. A pressão aerodinâmica diminui rapidamente e, do nada, o carro volta a se elevar até retomar o downforce. Quando isso acontece, ele baixa de novo. É como um cavalo xucro corcoveando, o que dificulta a pilotagem. Até a estreia no Bahrain em 20 de março, os engenheiros vão ter que buscar suas soluções mirabolantes na fábrica.

Ferrari / F1-75

Tirem as crianças da sala que agora é coisa de gente grande. A Ferrari chegou chegando em 2022, com seu novo F1-75. Entre todos os carros, é disparado o mais radical, sofisticado e complexo. Resta saber se vai funcionar, mas é um projeto que claramente mostra que a Scuderia não deixou um parafuso sequer sem profunda pesquisa de engenharia e aerodinâmica, sob a tutela dos projetistas Enrico Cardinale e Rory Byrne. Nos testes, a Scuderia já mostrou seu potencial, com Carlos Sainz e Charles Leclerc sempre entre os mais rápidos.  LLUIS GENE / AFP / CP

Mercedes / W13

A Flecha de Prata voltou! A questão agora é: a campeã voltou? A Mercedes apresentou seu carro, o W13, trocando o preto pelo prateado tradicional. O projetista James Allison trouxe um conjunto refinado e com algumas ideias interessantes, mas longe da ousadia mostrada principalmente por Ferrari, mas também pela Red Bull. Na busca pela revanche de Lewis Hamilton contra Max Verstappen, o time vai precisar resolver alguns probleminhas. A principal preocupação é com o “porpoising”, já que o W13 balançou muito em alta velocidade nos testes. LLUIS GENE / AFP / CP

RedBull - RB18

A Red Bull e seu designer Adrian Newey deixaram a concorrência de olhos arregalados com a ousadia para as novas regras. O RB18 fez segredo até o dia dos testes em Barcelona. Quando apareceu, deixou os rivais boquiabertos ao explorar o limite do regulamento e da engenharia para Max Verstappen defender seu título. O projeto de Newey usa a suspensão menos convencional chamada “pull-rod” para mais estabilidade. Também teve extenso trabalho nas laterais, muito compactas, que formam um assoalho duplo para explorar ao máximo o efeito solo. LLUIS GENE / AFP / CP

Outras equipes: McLaren puxa a fila

A McLaren trouxe com James Key um projeto que não parece tão radical, mas que nos testes mostrou funcionar muito bem. A equipe quer voltar a disputar vitórias com constância e quebrar a hegemonia de Red Bull, Ferrari e Mercedes. Também com fome de gigante vem a Alpine, mas que terá de desenvolver um motor Renault completamente novo, AlphaTauri, Aston Martin e a revigorada Williams também querem participar da briga por pódios, enquanto Haas e Alfa Romeo terão uma luta dura para deixar o fundo do pelotão. LLUIS GENE / AFP / CP

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