O desafio das 500 Milhas de Indianápolis

O desafio das 500 Milhas de Indianápolis

Com uma história de 111 anos e 106 edições, a competição é a mais tradicional corrida de carros do planeta em uma cidade que cresceu por conta da indústria automobilística ao seu redor e sobreviveu a crises das montadoras

O multicampeão da Nascar, Jimmie Johnson, aos 46 anos, decidiu desafiar o templo do esporte a motor e tentar vencer as 500 Milhas de Indianápolis

Por
BERNARDO BERCHT

As palavras do multicampeão da Nascar, Jimmie Johnson, mostram que ele entendeu bem a dimensão da mais tradicional corrida de carros do planeta. "Está escrito na nossa oficina: o primeiro objetivo é vencer as 500 Milhas de Indianápolis, depois o campeonato". Johnson, aos 46 anos, decidiu desafiar o templo do esporte a motor, território já dominado pelo brasileiro Hélio Castroneves, que segue o ensinamento de décadas: "A pista escolhe o vencedor, tem que conversar com ela para ser o escolhido".

Um lugar que acumula tanta história, em 111 anos e 106 edições, ganha para crédulos ou céticos um tipo de aura mística. É a própria história que se conta ao longo de cada uma das 200 voltas do asfalto que fica para trás e daquela linha alaranjada, o desafio sempre à frente. É a Brickyard (jarda de tijolos que marca a chegada da Indy 500) e decreta o novo herói desta cidade que, não fosse por ela, seria uma metrópole comum de 1,8 milhão de habitantes.

Mas ela, a pista, está ali. É a própria história da cidade, encravada como núcleo de adoração das quatro rodas, do ronco dos motores, mas acima de tudo, do desafio humano de encarar a velocidade e a exigência física de acelerar por cerca de três horas a mais de 370 km/h. Construída em 1905 por Carl G. Fisher, inspirado pelos primórdios dos Grand Prix europeus. Reformada e tornada mundial pelo tricampeão Wilbur Shaw e pelo empresário Tony Hulman nos anos 1940, Indianápolis cresceu por conta da indústria automobilística ao seu redor, mas sobreviveu a crises de montadoras para ser mais que apenas uma arena de teste de automóveis.

Brasileiros fizeram história na Indy 500

A Indy 500 é um evento mundial desde os anos 1960, ao menos, quando os ases britânicos da Fórmula 1 chegaram para desafiar os norte-americanos as primeiras vezes. Mas foram os brasileiros que se mesclaram definitivamente no histórico da Brickyard. São oito vitórias desde que Emerson Fittipaldi desbravou o caminho e faturou o primeiro famoso milhão em 1989, repetindo o feito em 1993. Gil de Ferran ganhou dez anos depois, Tony Kanaan levou a sua em 2013. Mas Hélio Castroneves é definitivamente o Brasil nas 500 Milhas. São quatro vitórias, 2001, 2002, 2009 e 2021. E, ainda na ativa aos 47 anos, o desejo incansável de ser o único piloto de todos os tempos a ganhar cinco.

“Aquela energia do público, que me faz subir na cerca. Não tem uma explicação, é o que me faz seguir competindo", define. "A história do Homem-Aranha é apenas uma brincadeira legal. Mas a verdade é que eu simplesmente tenho que extravasar tudo que é ganhar essa corrida de uma forma. E virou essa forma", explica. A escalada das telas de proteção, inclusive, foi imortalizada nos badges (bótons comemorativos) da edição 2022 da corrida.

A peça de coleção serve também como credencial de acesso a áreas restritas da pista. Restritas como o seleto grupo de campeões das 500 Milhas, clube que a cada ano ganha outros 32 caras. Além de Hélio Castroneves, quem cruzar a linha de chegada pode tirar a carteirinha.


A pista foi construída em 1905 por Carl G. Fisher, inspirado pelos primórdios dos Grand Prix europeus. Depois, nos anos 1940, foi reformada e tornada mundial pelo tricampeão Wilbur Shaw e pelo empresário Tony Hulman | Foto: BERNARDO BERCHT / ESPECIAL / CP

Castroneves analisa a pista


Hélio Castroneves tem estudado as condições do tempo para planejar os caminhos na tentativa do penta | Foto: BERNARDO BERCHT / ESPECIAL / CP

As condições do tempo definem muito do que os pilotos vão planejar para as 500 Milhas. Com a previsão de forte calor e muito sol, o ar fica menos denso e a aderência dos carros é prejudicada. Por conta disso, Hélio Castroneves tem “conversado” bastante com a pista para definir os caminhos na tentativa do penta.>
“Fomos atrás de situações para simular um dia muito quente”, analisou o piloto. “Creio que nosso carro está bom, com um acerto bem feito para um dia quente”, projetou Castroneves, na busca pela inédita e histórica quinta vitória nas 500 Milhas.

O norte-americano J.R. Hildebrand, que perdeu a Indy 500 na última curva em 2011, alerta para os perigos de todo mundo apostar em acertos similares para o calor. “Pode ocorrer de você ficar preso em uma fila de dez, 11 carros, e depender de alguém cometer algum erro para avançar. E isso nunca acontecer”, avalia.

Antevendo essa complicação, Castroneves não descarta mudanças mais ousadas. “Vamos ter que pensar em opções diferentes de estratégias. Tem gente andando de tanque cheio, outros de vazio, mas temos que buscar formas de lutar”, define o piloto. “Temos que nos colocar na posição de atacar. Se consegue chegar ao vácuo, consegue brigar.”

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895