O setor aéreo antes e depois da pandemia

O setor aéreo antes e depois da pandemia

Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que houve queda de 53% no número de passageiros e de 29,6% no transporte de cargas em 2020 em relação ao ano anterior no Brasil

Por
André Malinoski

Os impactos ocasionados pela Covid-19 no setor aéreo nacional integram um estudo chamado “Redes e Fluxos do Território: Ligações Aéreas (2019-2020)”, que foi divulgado em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o levantamento, a pandemia levou o Brasil à queda de 53% no número de passageiros e de 29,6% no transporte de cargas em 2020, em relação ao ano anterior. O número de viajantes despencou de 93,8 milhões para 44 milhões, enquanto as cargas tiveram redução de 400 mil toneladas para 282 mil.

Além da comercialização de assentos, as tarifas aéreas também caíram de um ano para o outro. Ou seja, o vírus que matou mais de 616 mil brasileiros até dezembro de 2021 ainda atingiu em cheio o setor de transporte aéreo de passageiros. “O projeto Redes e Fluxos do Território constitui uma linha de investigação permanente da Coordenação de Geografia do IBGE, tendo por objetivo analisar os relacionamentos e as ligações entre as cidades no país, sua acessibilidade e a configuração espacial de suas trocas, quer de natureza material (pessoas, mercadorias, carga), quer imaterial (informações, dinheiro, gestão)”, afirma o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner, na apresentação do estudo de 110 páginas.

O levantamento está dividido em três seções. A primeira parte analisa a evolução do transporte aéreo de passageiros e cargas ao longo da última década. A segunda aborda as centralidades assumidas pelas cidades no contexto das interações da rede aérea e seus principais fluxos, demonstrando propriedades topológicas e da influência das distâncias. Por sua vez, a terceira enfoca nas questões de propriedades de acessibilidades do serviço aéreo regular de passageiros de cada cidade com presença de aeroporto. Segundo ressalta o IBGE, o fato de uma cidade ser servida por um aeroporto já configura sua centralidade. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), das 4.899 cidades do país em 2019, apenas 156 tiveram aeroportos com registros de voos regulares de passageiros e 155 movimentaram carga aérea paga. “Conseguimos apontar os impactos da Covid que atingiram, especialmente, o setor aéreo a partir de março de 2020, e também levantar os efeitos na questão tarifária no mesmo ano, em comparação com 2019”, explica o geógrafo responsável pela pesquisa, Thiago Arantes. “A regularidade do transporte aéreo foi afetada pela Covid. Em 2019, eram 96 cidades com atendimento regular de transporte aéreo de passageiros, com pelo menos um voo regular em cada mês do ano. Esse número caiu para 46 cidades em 2020”, acrescenta o especialista.

Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a situação de pandemia mundial, em 11 de março de 2020, a aviação comercial em todo o mundo foi duramente afetada. Houve redução de viagens internacionais e, em seguida, nacionais. O turismo ficou paralisado em centenas de lugares e os passageiros, com receio de contaminação pelo novo coronavírus, cancelaram viagens agendadas tempos antes. Muitos não tiveram sequer opção, pois dezenas de fronteiras foram fechadas em um piscar de olhos para conter a disseminação da doença. O mundo da aviação não seria mais o mesmo.

RIO GRANDE DO SUL

No estudo do IBGE, no que diz respeito às passagens aéreas vendidas que tinham Porto Alegre como destino final, foi verificada queda de 19% nas tarifas, com valor da tarifa média ponderada por destino (TMPd) de R$ 328,22. A Capital foi a cidade mais acessível em termos econômicos, enquanto Pelotas acabou sendo o destino mais elevado, com TMPd de R$ 619,45.

Como comparação, Porto Alegre concentrava, em 2019, 95,4% de todas as movimentações de passageiros do Estado e 97% da carga no ano. O RS possuía 11 cidades com aeroportos com voos regulares de passageiros ou que transportavam carga aérea enquanto serviço pago. Ao longo de 2019, esses municípios movimentaram 8 milhões de passageiros e 24,5 mil toneladas de carga. Desse modo, o Estado participou de 8,5% da movimentação aérea de passageiros e de 6,1% da carga aérea transportada no país.

O RS apresentou grande fluxo aéreo com o estado de São Paulo, com 65,5% dos passageiros e 77,3% de carga em 2019. A capital paulista acabou sendo a principal ligação da Capital e de Caxias do Sul, na Serra, à medida que oito das nove demais cidades do interior gaúcho tiveram suas principais ligações aéreas com Porto Alegre.

Na região norte do Estado, Passo Fundo foi a exceção. Teve a principal ligação aérea com Campinas (SP), movimentando 123,6 mil passageiros e 243,5 toneladas de carga. Neste momento, o aeroporto Lauro Kortz, de Passo Fundo, permanece fechado e seguirá assim até o dia 31 deste mês. As obras na pista estão prontas, mas os novos equipamentos ainda necessitam ser avaliados em testes. O local está inoperante há quase um ano.

Medidas contra Covid afastaram passageiros

Especialistas analisam em um contexto mais amplo tudo o que aconteceu e, de alguma maneira, ainda reverbera no setor aéreo. “As quedas estão em linha com a aviação mundial durante o período de 2020. A queda maior para passageiros reflete uma recomposição decorrente do processo de distanciamento social. A circulação de pessoas diminuiu acentuadamente, ao passo que o mercado logístico diminui em um ritmo mais lento, ainda em parte alimentado pelas compras à distância. Não foram raros os casos de voos (os poucos que eram operados quando do auge das políticas de distanciamento social) em que áreas reservadas a passageiros eram ocupadas por cargas”, observa o economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).

O docente ainda explica em detalhes os impactos na aviação comercial gaúcha, com dois movimentos importantes por onde a pandemia manifestou-se. “A adoção do distanciamento social provocou o afastamento de passageiros, especialmente para um aeroporto com vocação turística, ao realizar a ligação com as atrações da Serra gaúcha. As medidas, em 2020, foram aliviadas a partir de setembro quando a temporada de inverno, tão relevante ao aeroporto, já havia sido superada. Posteriormente, a partir do último trimestre de 2020, houve a elevação generalizada dos preços, especialmente das passagens aéreas. Esse movimento de elevação de preços inibiu a intenção de compra de pacotes turísticos. Isso dificultou a recuperação do setor, que não teve alternativa, uma vez que a maior parte dos insumos e da planilha de custos é composta por matéria-prima importada, a começar pelo leasing (locação financeira ou arrendamento mercantil), da aeronave e terminando com o combustível, como exemplos”, esclarece.

 

 

Capital teve regularidade de voos até a pandemia

Sete cidades das 11 com aeroportos em solo gaúcho (Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santo Ângelo, Santa Maria, Uruguaiana e Pelotas) tiveram serviço regular de transporte aéreo de passageiros em 2019. Ou seja, tiveram pelo menos um voo regular em cada mês do ano.

Havia 13 opções de voos diretos com atendimento regular, em 2019, em Porto Alegre, sendo os destaques São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. A quantidade total de destinos voados ampliou-se a 71, acrescentando-se os 58 destinos indiretos possíveis por meio de conexões ou escalas. Assim, a Capital ficou na 16ª posição entre as 96 cidades com maior acessibilidade geográfica pelas opções de destinos totais no ano de 2019.

Por outro lado, as demais cidades do Interior tiveram apenas uma opção de voo direto, com exceção de Caxias do Sul, que possuía duas opções. Apesar dos números negativos, a situação parece estar um pouco melhor. “Todo o setor logístico foi afetado, não apenas o aéreo, mas o terrestre. Tudo diminuiu e as empresas tiveram de enxugar, porém os empresários agora estão com esperança”, avalia o vice-presidente de Infraestrutura da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Antônio Carlos Bacchieri Duarte. Conforme o dirigente, os problemas afetaram ainda os portos, o que acarretou na falta de peças e insumos para as indústrias. “Aqui no Estado, se perdeu bastante em função da pandemia. Acredito que comércio, indústria e turismo estejam interligados. O primeiro passo é ter certeza de que a pandemia está controlada”, diz. Uma frase de Bacchieri Duarte resume com precisão o atual momento: “Estava tão ruim que só pode melhorar”.

A Capital destacou-se no levantamento do IBGE. “Podemos falar que o Rio Grande do Sul teve 11 cidades com presença de pelo menos um voo regular de passageiros ou algum transporte de carga aérea enquanto serviço pago em 2019. Então, contando-se o ano inteiro, tivemos 11 cidades com esse transporte mais estruturado. Por outro lado, quando analisamos o atendimento mínimo, apenas sete dessas 11 cidades tiveram, em 2019, atendimento regular. Houve a presença de um desses voos, de passageiros ou de carga, ao menos uma vez por mês”, destaca o pesquisador Thiago Arantes. Segundo ele, em 2020, somente Porto Alegre teve registro regular de passageiros ao menos uma vez por mês, enquanto as demais cidades não cumpriram esse quesito. Ou seja, em algum mês do ano ficou faltando um voo regular. “Outro destaque é que Porto Alegre realmente concentra grande parte da movimentação de passageiros e cargas do Estado e tem 13 opções de voos diretos com atendimento regular, destacando-se as ligações com São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. As demais cidades gaúchas tiveram, em 2019, presença de um voo direto só, com exceção da Capital e de Caxias do Sul, que teve duas opções de voos diretos. O maior destaque no Rio Grande do Sul foi Porto Alegre, que também acabou destacando-se no país, onde ocupou a 16ª posição dentre as 96 cidades que tiveram essa regularidade de atendimento em 2019”, analisa Arantes.

TURISMO

Assim como a aviação, o turismo também precisou enfrentar os dissabores dos piores dias da Covid. “A pandemia afetou drasticamente o setor do turismo no RS. Formado por pequenas e microempresas, o setor sentiu muito o fechamento da economia, respondendo com grande número de empresas encerrando atividades. Enquanto outras de porte menor tiveram funcionários demitidos, que precisaram virar microempreendedores individuais (MEIs) para tentarem continuar no mercado. De março de 2020 até o final do mesmo ano, as empresas que ficaram abertas pagaram para que isso acontecesse. Os créditos do governo federal, como o Fundo Geral do Turismo e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, praticamente não chegou ao médio, pequeno e microempresário do setor. Sobreviveram os fortes”, recorda o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado do RS (Sindetur), Paulo Queiroz. O momento atual, porém, é de retomada no setor de turismo. “Nas empresas de turismo, estima-se que o movimento, no início de 2021, girava em torno de 10% da venda pré-pandêmica. A partir de julho, com a vacinação adiantada e a diminuição das hospitalizações e mortes, começamos a sentir recuperação maior. Me atrevo a dizer que estamos a poucos passos do que era antes da pandemia. Mas é necessário manter os cuidados e a vacinação”, opina o dirigente do Sindetur.

Governo atesta recuo do transporte aéreo

O governo federal destacou, em agosto de 2021, os efeitos nocivos da pandemia na aviação nacional. Os dados (que não estão relacionados ao estudo do IBGE citado até aqui) de abril a dezembro de 2020 mostram que o número de voos domésticos foi 64% menor do que o verificado no mesmo período do ano anterior. O total de decolagens efetuadas foi 49,5% menor do que em 2019. O mercado do exterior teve impacto ainda mais forte. No período de abril a dezembro, a média de decolagens realizadas foi 76% menor da apurada um ano antes. Dos 465 mil voos das companhias de aviação em 2020, 87% foram realizados em operações em território nacional, o que representa 405 mil decolagens. Com 36% dos voos feitos no mercado doméstico, a Azul foi a empresa que mais decolou em 2020, seguida por Gol e Latam, com 30% e 26%.

Em termos de passageiros pagos transportados, a Gol apresentou o maior percentual, com 35,9%. Logo em seguida vieram Latam, com 32,1%, e Azul, com 31,1%.

O aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, continua sendo o terminal com o maior número de passageiros pagos transportados no Brasil, com 7,9 milhões (número verificado em 2020). O dado representa 17,5% dos 45,1 milhões de pessoas que viajaram em voos nacionais em 2020. Já o aeroporto de Brasília ficou na segunda posição, com 3,8 milhões (8,4%) de passageiros transportados. Por sua vez, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, está em terceiro, com 3,4 milhões de passageiros (7,5%). Viracopos, em Campinas, com 3 milhões (6,8%), e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com 2,5 milhões (5,5%), fecharam a lista dos cinco primeiros colocados.

Em reunião de avaliação estratégica setorial de aviação civil e transporte aéreo, realizada em novembro pelo Ministério da Infraestrutura (MInfra), constatou-se que o percentual de assentos domésticos por quilômetro oferecido cresceu 34,78% de janeiro a julho de 2021, em relação ao mesmo período de 2020, totalizando 50,608 bilhões de assentos no período. Foram transportados 36,278 milhões de passageiros, uma alta de 28,13% na comparação com 2020. Acerca da movimentação de carga doméstica, ela ficou 26,99% maior do que o verificado nos primeiros sete meses de 2020.

PREÇOS

Uma combinação de fatores contribuiu para o aumento no valor das passagens aéreas nos últimos meses. O querosene da aviação é um dos principais custos das companhias aéreas. “O valor do combustível aumentou 91,7% no segundo trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020. O aumento dos custos operacionais das empresas aéreas, por conta da alta do dólar, influenciou na elevação do valor das passagens”, explica a coordenadora do curso de Administração da Unisinos, Emanuelle Nava Smaniotto.

O preço explodiu nos últimos meses e pode continuar subindo. Além dos fatores mais perceptíveis que, sem dúvida, são o dólar e a alta dos combustíveis, com a flexibilização das normas de segurança em determinados países, as pessoas voltam a demandar viagens internacionais. “Essa demanda, composta por uma natural e outra reprimida de mais de um ano, acaba por incentivar as companhias a pesarem a mão sobre o bolso dos consumidores. Uma pesquisa da Decolar mostrou que o interesse dos viajantes brasileiros cresceu 63% nas últimas semanas”, relata Emanuelle.

Perfil espacial de demanda

Cinco cidades do RS, entre elas Porto Alegre, foram classificadas no estudo do IBGE como tendo aeroportos com o perfil de demanda espacial equilibrada. Ou seja, cumprem tanto a função de atendimento à população local quanto fornecendo o serviço regional de transporte aéreo para um conjunto de cidades que a consideram como referência. A Capital teve 21,9% de seus passageiros embarcados provenientes de outras cidades. Os aeroportos das outras localidades de mesma classificação tiveram entre 32% e 53% de proporção de passageiros de toda a região em relação aos locais. “É importante destacar que, no caso específico de Porto Alegre, o aeroporto sofreu reformas no terminal, parcialmente testadas no pré-pandemia, e na pista, ainda a serem experimentadas, que podem trazer a perspectiva de um crescimento sensível na movimentação de cargas e passageiros da cidade. Ademais, a localização privilegiada do aeroporto encoraja esse movimento”, salienta o economista Gustavo Inácio de Moraes.

Por sua vez, Caxias do Sul e Santo Ângelo foram classificadas como de demanda espacial descentralizada e demanda espacial muito descentralizada, com 67,5% e 90,8%, respectivamente, de proporção de passageiros embarcados provenientes de outras cidades.

Os dados indicam que Porto Alegre teve um tempo médio de 2h59min para os passageiros vindos de fora. Os passageiros provenientes de outras cidades gastaram, em média, 1h24min no deslocamento até o aeroporto caxiense. A estrutura funciona como referência para os destinos de Canela, Gramado e Bento Gonçalves. Santa Maria contou com o maior tempo médio de acesso ao aeroporto, 3h21min. “Olhando não apenas o RS, mas o Brasil como um todo, observamos que houve uma queda no país durante o período pandêmico”, resume o estudioso Thiago Arantes.

Número de visitantes vindos do exterior caiu 66% no Brasil

O Ministério do Turismo promoveu um levantamento no qual mostrou como o ano de 2020 foi desastroso para o setor. Com as restrições da mobilidade de pessoas pelo mundo e o fechamento de fronteiras, entraram no Brasil 2.146.435 turistas estrangeiros. O número significa uma redução de 66% se comparado ao ano de 2019 (antes de existir a pandemia de Covid), quando 6.353.141 visitantes desembarcaram nos aeroportos do país vindos do exterior para conhecerem atrações como o Pantanal, a Amazônia ou as praias da costa brasileira.

Os dados foram contabilizados no Anuário Estatístico do Ministério do Turismo, com informações coletadas pela Polícia Federal. Os principais visitantes foram os argentinos. Entre os turistas vindos do país vizinho, a queda foi de mais de 50%, passando de 1.954.725 para 887.805. Dos Estados Unidos, segundo maior emissor de turistas internacionais, a diminuição foi de 70,9% (de 590.520 para 172.105). Entre os turistas vindos do Paraguai, a redução foi de 69,7% (406.526 para 122.981). A principal porta de entrada do Brasil permaneceu sendo a aérea, com 1.185.620 pessoas.

O professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcelino de Souza avalia esse cenário. “Os principais impactos foram a retração drástica do número de viagens, tanto pelo cancelamento daquelas já agendadas como também das que estavam previstas para serem realizadas, para a participação em eventos, viagens para descanso, passeio individual ou com a família. Assim, em um primeiro momento, o turismo internacional foi muito afetado, mas também o nacional. Em um segundo instante, houve um lento aumento da procura pelo turismo doméstico e também por viagens para regiões rurais e para o interior em todo o mundo”, reflete. Especialistas também examinam a situação do turismo de um modo amplo. “As hospedagens, de forma geral, não subiram tanto quanto as passagens. É claro que a elevada demanda estimula a alta no preço, bem como o fator da inflação. Contudo, em diversas regiões do país, hospedagens como AirBnb (serviço on-line comunitário para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações e meios de hospedagem) tiveram uma elevada procura desde o início da pandemia, quando indivíduos atuantes no home office optaram por trabalhar de lugares diferentes de sua própria casa. Dessa forma, o preço foi se ajustando de forma natural, ao contrário do que é observado nas passagens aéreas. Os lugares mais procurados no mundo terão uma maior elevação nos valores de hospedagem também em função dessa grande demanda”, conclui a docente da Unisinos Emanuelle Nava Smaniotto.

Após forte abalo, setor do turismo tenta se reorganizar no RS

A Covid-19 afetou em cheio o setor do turismo no Rio Grande do Sul. Municípios como Gramado, Canela e Bento Gonçalves, apenas para citar três destinos muito procurados por turistas que visitam o sul do Brasil, precisaram se reinventar quando cessou o movimento de visitantes. A Secretaria Estadual de Turismo reconhece as dificuldades enfrentadas pelo setor desde o começo da pandemia mundial. “Restaurantes foram fechados, hotéis tiveram uma diminuição significativa dos seus hóspedes e o setor de eventos viveu a paralisação completa de suas atividades”, relata o secretário estadual de Turismo, Ronaldo Santini.

Segundo ele, em um primeiro momento, muitos sucumbiram economicamente e outros passaram por enorme dificuldade. Com o tempo, gradativamente, foram descobertos novos jeitos para a realização de algumas atividades. “Muitos hotéis passaram a ser moradia dos adeptos do teletrabalho e restaurantes começaram a utilizar o serviço de tele-entrega. O setor de eventos promoveu lives e encontros no formato híbrido. Se antes o turista escolhia destinos mais distantes e férias mais longas, com a pandemia passou a buscar espaços abertos, próximos de casa e fazer viagens de carro. Cresceu o campismo, o caravanismo (viajar e acampar com um veículo ou trailer), o turismo de natureza e de esportes”, relata Santini.

Conforme o responsável pela pasta do Turismo, o Estado vive agora outro momento. Os gaúchos estão conhecendo as belezas turísticas locais, aproveitando os valores e as distâncias acessíveis em comparação com viagens para outros estados ou países. “Com a imunização atingindo quase a totalidade dos brasileiros, fomos conquistando novamente a confiança do turista de que somos um destino seguro que respeita e zela pelos protocolos sanitários. Por tudo isso, acreditamos verdadeiramente que o Rio Grande do Sul é um grande destino e que, muito em breve, será um dos principais destinos turísticos mundiais na sua plenitude”, acrescenta o secretário.

Porto Alegre também aparece com destaque no contexto pós-pandêmico. “A cidade está passando por uma transformação muito positiva. Não apenas na melhoria da qualidade de vida por meio do embelezamento e das entregas de novas etapas de recuperação da orla do Guaíba, mas também por causa dos investimentos privados que recebe. Isso é uma demonstração de que a iniciativa privada entende que a administração trabalha para atrair turistas e acredita que esses esforços são válidos e promissores”, afirma o diretor da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Luiz Armando Silva de Oliveira.

Segundo o dirigente, há ações para desenvolver o turismo rural e o náutico na cidade. A Capital, indiscutivelmente, aposta no setor turístico para oferecer atrações aos visitantes, além da nova orla. “Hotéis de várias categorias estão sendo construídos e Porto Alegre também incentiva a economia criativa, e a realização de eventos por meio da redução de tributos e da Lei de Liberdade Econômica, cujo objetivo principal é reduzir a burocracia nas atividades econômicas. Ainda temos o Polo Cervejeiro que faz da Capital a cidade com a maior quantidade de cervejarias do país. Outro movimento muito importante foi a alteração da Linha Turismo. A prestação do serviço passará a ser feita por empresas privadas, o que dará aos passageiros mais alternativas”, finaliza Oliveira. A pandemia promoveu um verdadeiro caos mundial, mas, após tantas adversidades, a luz no fim do túnel parece estar um pouco mais próxima de todos os setores atingidos.

Com o avanço da vacinação, a expectativa dos principais atores envolvidos no setor da aviação é que os tempos incertos comecem a ficar na galeria de retratos do passado. Chegou a hora da retomada da economia e, sobretudo, de voos mais altos.

Saiba mais

O estudo “Redes e Fluxos do Território: Ligações Aéreas (2019-2020)” baseia-se em registros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e nos dados da Secretaria de Aviação Civil do Ministério da Infraestrutura, além de pesquisas do próprio IBGE. O levantamento descreve e analisa a centralidade e as ligações das cidades brasileiras a partir do transporte aéreo, por meio dos fluxos de passageiros e cargas. Esta edição mais recente dá continuidade ao estudo de 2010, demonstrando a evolução do transporte aéreo na última década. As 4.889 cidades consideradas no projeto são municípios individuais ou agrupamentos de municípios muito integrados, como a cidade de São Paulo, com 37 municípios.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895