O verde que esconde a estiagem gaúcha

O verde que esconde a estiagem gaúcha

Correio do Povo percorreu o Rio Grande do Sul para mostrar como o tempo seco prejudica a produção agrícola e, em muitos casos, traz dificuldades de abastecimento para pessoas e animais

Por
Henrique Massaro

O cenário, em sua maior parte, em nada se assemelha às paisagens arrasadas pelas secas de outras regiões brasileiras, como nos sertões eternizados pela literatura. Apesar de chegar a secar açudes e baixar o nível de arroios e rios, a estiagem que se espalha pela imensidão do Rio Grande do Sul à primeira vista pode não chamar atenção de quem não conhece o fenômeno por completo. Com exceção das áreas de vegetação amareladas e ressecadas pelos dias de muito sol e pouca chuva, na maior parte das principais rodovias do Estado, o verde predomina na paisagem. Mas não é por isso que o fenômeno deixa de ser devastador. Os efeitos do tempo seco que vem sendo registrado desde novembro de 2019 castigam os municípios, afetam a vida das populações, as economias locais e, consequentemente, de todos os gaúchos.

Ao longo dos últimos dias, o Correio do Povo percorreu o Interior por estradas de asfalto e de terra, dando acesso a pequenas e grandes propriedades, para mapear e destrinchar os impactos da estiagem. Mais do que mostrar a estética do tempo seco em solo gaúcho, como o contraste entre os milharais secos como palha e a soja que mantém o tom esverdeado e disfarça os estragos, a reportagem traz as dificuldades que os produtores, principalmente os de menor porte, têm enfrentado durante um fenômeno que se mostra frequente no decorrer dos anos. Até este momento, 67 municípios decretaram situação de emergência e outros 15 registraram o problema no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).

Culturas menores no Vale do Taquari

Foto: Guilherme Almeida

Desde que passou a se dedicar à piscicultura em sua propriedade em Esperança de Rui Barbosa, no interior de Arroio do Meio, Günter Immich, 62 anos, mantém diariamente o mesmo ritual. Acorda às 5h da manhã e, “antes de tomar banho e escovar os dentes”, faz uma ronda pelos quatro açudes construídos por ele 20 anos atrás. “Se acontece algum problema com o peixe, é sempre de madrugada.” Foi graças a essa rotina que, no último dia de 2019, o agricultor conseguiu salvar 40 quilos de carpas prestes a morrerem em um dos açudes que estava quase sem água devido à estiagem que atinge o Estado desde o mês de novembro. Ele correu com pescado para o tanque e em pouco tempo precisou limpar para o consumo, antes que estragasse. Mas logo no dia seguinte, o primeiro de 2020, a cena se repetiu, desta vez com uma quantidade ainda maior de peixes e antes que a rotina diária do produtor pudesse evitar o estrago. Foram 60 quilos de carpas cabeça grande, húngara, prateada e capim, todas já apodrecendo quando o proprietário chegou à beira do açude para o começo dos trabalhos de mais um ano.

Com o quilo comercializado a R$ 10,00, o valor das carpas perdidas chegou a R$ 600,00, mas o prejuízo foi bem maior. Isso porque, com o tempo seco, o nível dos outros três açudes também baixou bastante e, embora não tenha resultado em mortandade de peixes, diminuiu a produtividade consideravelmente. As carpas não crescem como deveriam e não recebem o tratamento adequado. “A carne de peixe estressado não é boa”, resume Immich.

No interior de Arroio do Meio, Günter Immich perdeu 60 kg de carpas em uma noite. Foto: Guilherme Almeida

Assim como Immich, outros produtores sofrem com o tempo seco. A estimativa informada pela Emater é que o município tenha tido uma queda de produção de 1,1 tonelada, ou R$ 11 mil, quantidade referente a cinco açudes com peixes prontos para venda. Pelas propriedades da região, mesmo com a chuva registrada no último dia 10 de janeiro, que deu um pequeno fôlego à agricultura, não é difícil ver açudes secos e com rachaduras na terra do fundo.

Com aproximadamente 21 mil habitantes e área de 157 quilômetros quadrados, Arroio do Meio tem a maior parte de suas atividades voltadas para a produção de leite, com 308 produtores garantindo 58 mil litros por dia. O milho ainda ocupa parte importante da economia local, com 3,5 mil hectares plantados para a silagem e 1 mil para grão. Mas, em estradas vicinais, em localidades como a de Esperança de Rui Barbosa, escondidas pelo sobe e desce das vias de chão batido e pela vegetação, pode-se ver os efeitos da estiagem nas propriedades de cerca de 10 hectares tocadas por pequenos produtores. Pouco mais de 100 agricultores – entre eles, 16 voltados ao cultivo de orgânicos – se dedicam à produção de alimentos diversos e garantem 75% do que é consumido pelos alunos de creches e escolas do município.

A pouca chuva dos últimos dias salvou a propriedade de Kappler de ficar sem água. Foto: Guilherme Almeida

É o caso dos morangos de Delmar Kappler, 58 anos, que, recém agora, começam a reagir. Ao lado de uma das cinco estufas na localidade de Picada Arroio do Meio, ele mostra as frutas que se escondem em meio às folhas e afirma que, nesse época, o cenário era para estar bem mais avermelhado, já que as plantas deveriam estar carregadas. Segundo o produtor, para os 10 mil pés de morango, são utilizados diariamente 3 mil litros de água puxada de um dos açudes que esteve perto de secar. Foi preciso racionar o uso e, se não tivesse chovido dia 10, teria faltado água para as frutas e outros alimentos que cultiva no local. Em Arroio do Meio, as hortaliças ocupam 30 hectares e são estimadas perdas em 20 hectares, prejuízo que chega a R$ 300 mil.

A poucos quilômetros de distância, uma propriedade pioneira que se tornou parte dos roteiros turísticos de Arroio do Meio também sofre com as variações do clima. A Agroecologia Ferrari criou o conceito de colhe e pague, que tem por objetivo proporcionar aos visitantes uma experiência de agricultor por um dia, podendo colher diretamente da horta de 3 hectares os produtos orgânicos que desejam levar para consumir. Mas, nos últimos dias, os turistas, que vêm inclusive de fora do Brasil, têm encontrado uma paisagem bem menos verde do que a de costume. De acordo com Márcia Ferrari, que toca o local com o marido Carlos, não foi possível plantar aipim e batata-doce. Em outubro, fortes chuvas impossibilitaram o plantio. Em seguida, um grande contraste. O tempo ficou muito seco e o que foi plantado sequer germinou. As poucas chuvas registradas na região nos últimos meses não chegaram na propriedade até os 25 milímetros registrados de 9 para 10 de janeiro. “A gente via a chuva passar para os outros e nós não tínhamos nada.”

As perdas dos pequenos produtores, somadas aos prejuízos das maiores produções fizeram com que Arroio do Meio fosse o 32º município a decretar situação de emergência neste ano. Somente no milho, para a silagem e grão, as perdas foram de 50% em cada um, chegando a R$ 7,8 mil e R$ 2,78 milhões de prejuízos, respectivamente. No leite, a estimativa era de prejuízos de mais de R$ 1,67 milhão, uma perda de 11,6 mil litros por dia, referente a 20% da produção. Mas o coordenador da Defesa Civil municipal e secretário de Obras, Paulo Hech, estima que, depois do parecer da Emater, a perda na cadeia leiteira tenha aumentado para 30%. O total de perdas no município já chega a R$ 14,3 milhões e, de acordo com Hech, a situação de emergência foi necessária porque a produtividade afeta toda a indústria e comércio local, movidos, principalmente, por fábricas beneficiadoras de leite e de ração. A estiagem também fez com que quatro incêndios fossem registrados na vegetação e chegou a provocar falta de água em algumas localidades.

O excesso e a falta de chuvas atrapalharam propriedade de Márcia Ferrari. Foto: Guilherme Almeida

É o que aconteceu em uma das propriedades que podem ser acessadas pelo trecho da RS 482 que, não por acaso, foi apelidado por moradores de Rodovia do Sofrimento. O asfaltamento da via de chão batido por onde passam cerca de 2,5 mil veículos por dia é uma briga da localidade de Arroio Grande há décadas. É no final do trecho empoeirado, já no distrito de Picada Café, no Morro dos Três Pinheiros, um dos pontos mais altos do município, que ocorreu a principal falta de água durante a estiagem. Os 19 hectares da propriedade de Ivo Francisco Valentim, 63 anos, voltados principalmente para a criação de gado confinado, são abastecidos de três formas: uma fonte protegida, um arroio e 12 tanques que chegam a até 145 mil litros de água captada da chuva. Todas elas secaram nos últimos meses. Dos 60 mil litros que o município precisou transportar para abastecer a região por meio de parceria com a Corsan, 30 mil foram somente para a área de Valentim, que teve que continuar puxando cerca de 80 mil litros por dia através do equipamento cedido pela prefeitura. Recém agora, no meio do mês de janeiro, o nível de água na propriedade começa a se recuperar. “Quando dá a seca, a coisa é feia.”

No Vale do Taquari, Arroio do Meio, Venâncio Aires, Progresso e Canudos do Vale declararam situação de emergência e Cruzeiro do Sul e Doutor Ricardo fizeram registro no Sistema Integrado. Além das propriedades afetadas, uma imagem que revela os reflexos do tempo seco para quem passa pela região é em Marques de Souza. Na BR 386, a ponte sobre o Arroio Fão mostra como o nível da água baixou durante os últimos meses, revelando boa parte da terra e da vegetação do fundo.

Efeitos na cadeia do leite no Alto Jacuí

Foto: Guilherme Almeida

Fazia 12 anos que não acontecia. E então, em janeiro de 2020, o casal de produtores Ari e Renate Garmatz perdeu duas vacas leiteiras. Não por acaso, novamente em uma época de estiagem no Rio Grande do Sul, que atinge a localidade da Linha 5, em Ibirubá, na região do Alto Jacuí. Desta vez, o fenômeno que castiga o 54º município gaúcho a decretar situação de emergência atinge principalmente o pasto e o milho da propriedade, o que, consequentemente, afeta a alimentação dos animais e faz com que a época seja, literalmente, de vacas magras. Até o dia 9 de janeiro, segundo levantamento da Cotribá, da segunda quinzena de novembro de 2019 até o dia 9 de janeiro de 2020, em Ibirubá foram registrados somente 72 milímetros de chuvas, volume insuficiente para o período de atividades agropecuárias. Os prejuízos estão em torno dos R$ 80 milhões, quase equivalente ao orçamento do município.

A propriedade dos Garmatz tem hoje 26 vacas holandesas e mistas Jersey, além das novilhas. A maioria tem as costelas aparentes, aspecto incomum para o gado que, nessa época, deveria produzir quase mil litros de leite por dia, mas tem ficado entre 420 e 430 litros. A qualidade do pasto caiu e a ração, além de encarecer o custo, não é suficiente para alimentar os animais de maneira adequada. A terneira de uma das vacas mortas neste começo de 2020, por exemplo, é alimentada com leite em balde ou em mamadeira. Basta uma rápida olhada para os cerca de 3,5 hectares de sorgo forrageiro, divididos em duas áreas da propriedade, para entender por que a pastagem, plantada somente para alimentar os animais, foi impactada pela estiagem.

No pasto plantado por Ari Garmatz é possível ver os estragos feitos pela estiagem. Foto: Guilherme Almeida

Na localidade de Linha 5, em Ibirubá, a época é, literalmente, de "vacas magras". Foto: Guilherme Almeida

“Tinha que estar assim, com um metro e pouco”, diz Ari, 67, apontando com a mão para uma altura próxima do nível dos ombros, vários centímetros acima de onde está o pasto neste janeiro de 2020. Além de baixo, há grande espaço entre as plantas, mostrando, em alguns pontos, mais o marrom escuro do solo do que o verde do capim. O clima também favorece a proliferação de pragas. “Não tem nutriente e elas não gostam muito do pasto, que está meio amargo na seca”, explica Renate junto às vacas que diariamente, às 5h30min, ela começa a ordenhar. A produtora avalia que esta tem sido a pior estiagem dos 35 anos em que a família está na propriedade da Linha 5. “É época errada de seca. Agora é bem no pique de pasto e milho, as outras eram mais fevereiro, março”, comenta. No milho, os estragos foram ainda maiores. Um fôlego para os agricultores é o Proagro, mas, no caso da família Garmatz, somente um dos três hectares está segurado. O restante, será praticamente perdido.

A poucos quilômetros de distância, na localidade de Arroio Grande, o seguro é o que vai fazer com que a produtividade não seja perdida, já que Cristiano Prediger, 37 anos, financiou 10 hectares da plantação de milho. Mas, com exceção dessa lavoura, o restante da produção será de prejuízos a perder de vista. Sem uma silagem de qualidade pela pouca formação de grãos e com o pasto danificado, foi necessário dobrar a ração dos animais. Mesmo assim, produção de 600 litros de leite por dia caiu para 390 litros. “A silagem está mantendo o peso, mas a produtividade cai”, explica Prediger, que estima perdas de 75% nos 32 hectares, divididos em 15 de soja, 11 de milho e seis de pastagem. Os valores não se restringem ao baixo retorno financeiro. Isso porque o agricultor tem R$ 150 mil financiados. Destes, R$ 50 mil são para o custeio da lavoura e o restante está dividido em cerca de R$ 8 mil por mês para pagar máquinas, equipamentos e para a sala de ordenha. A única esperança é que o governo postergue o pagamento das dívidas, como tem sido solicitado por prefeituras e entidades representativas dos agricultores. “Não sei como vamos ficar”, conclui.

Cristiano Prediger tem cerca de R$ 150 mil financiados para a produção. Foto: Guilherme Almeida

As dificuldades de quem trabalha com o gado de leite não são restritas ao período de estiagem. Nelson Marangon, 67, chegou a ter uma produção diária de mais de 2 mil litros 38 anos atrás, mas hoje mantém apenas cerca de 550 litros. Devido à dificuldade de encontrar gente para trabalhar, se viu obrigado a vender boa parte do gado leiteiro. No período de tempo seco, os prejuízos só não foram maiores porque assegurou os 14,75 hectares de milho plantados em sua propriedade. Ele financiou R$ 41.921,57 para custear a lavoura, mas, com as perdas, a Emater estimou que só será possível colher R$ 17,7 mil. 

Oneide Kumm fiscaliza a produção de Nelson Marangon para liberação do Proagro. Foto: Guilherme Almeida

Marangon só não pagará o prejuízo de mais de R$ 24 mil direto do bolso porque, depois de acionar a fiscalização da Emater, ele teve a liberação do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Mas o seguro rural é a realidade de uma minoria na região. De acordo com o extensionista e chefe do escritório municipal da Emater, Oneide Ernesto Kumm, que fiscaliza as áreas do município, até o momento somente 35 dos 1,2 mil agricultores de Ibirubá acionaram o Proagro por meio do Banco do Brasil. “Nem todos conseguem cumprir as exigências do sistema financeiro”, explica.

Os 44 mil hectares de área agrícola pertencentes a Ibirubá, município de pouco mais de 20 mil habitantes, se parecem com tantas outras regiões do Rio Grande do Sul nessa época de estiagem. A maior parte da paisagem se divide entre a soja pouco crescida e os milharais torrados pelo sol. Não há açudes secos e com terra rachada à vista, mas a barragem do Passo Real, por exemplo, está com nível visivelmente mais baixo, com formação de bancos de areia. Perto dela, na localidade de São Roque, logo após atravessar uma lavoura de milho cortada como palha, é possível ver o que era uma sanga, sem curso d’água desde novembro. De acordo com o parecer técnico da Emater, as perdas chegam a 40% na soja, 60% no milho e 70% no leite, o que, em valores, já passa dos R$ 66,3 milhões, R$ 3,1 milhões e R$ 5,7 milhões.

Sanga próxima à barragem do Passo Real está seca desde novembro. Foto: Guilherme Almeida

Depois das poucas chuvas entre novembro de 2019 e o início de janeiro de 2020, a região registrou 40 milímetros na quarta-feira. Novamente, muito menos do que o necessário. “Embora tenha ocorrido chuvas de volumes variados, elas não são suficientes ou não reduziram o quadro afetado”, explica o chefe do escritório da Emater. Conforme Kumm, os 450 produtores de leite foram quase todos atingidos, já que a baixa qualidade do alimento levou à redução da produtividade e ao estresse calórico do gado. Em termos de prejuízos, a estiagem é uma das mais severas dos últimos tempos em função da época. No milho, com os dias de fotoperíodo maior e as temperaturas elevadas justamente nos 25 dias antes e depois do florescimento, o resultado foi de silagem com redução de qualidade e de espigas com menos peso e quantidade de grãos. Na soja, o clima também impediu florescimento e formação de vagens. Plantas que deveriam apresentar mais de 50 legumes têm cerca de cinco. “Afetou a cultura de maior expressão em sua fase mais importante.”

O impacto nas maiores culturas

Foto: Guilherme Almeida

Com quase a vida inteira de 67 anos no campo, Darci Becker, produtor da região de Não-Me-Toque, tem a explicação perfeita para descrever como a soja plantada por ele dia 25 de outubro deveria estar em janeiro: “Se tivesse que correr, o bicho te pegava”. Com bom humor, ele quer dizer que, em condições normais, seria impossível caminhar pelo meio da lavoura como fazia na tarde de segunda-feira. As plantas deveriam estar tomadas de folhas por baixo e com uma altura acima da cintura, mas estavam consideravelmente espaçadas e pouco crescidas, próximas dos joelhos do agricultor. Também tinham que estar com os grãos formados e com um verde mais vivo.

Puxando da memória, Becker lembra de estiagem severa em 1978 e, depois disso, entre o fim de 2011 e o início de 2012, mas acredita que a desta virada de 2019 para 2020 seja ainda pior. “É uma das piores que eu passei.” Desde o início de novembro, na localidade de Colônia Vargas, onde tem 25 hectares de soja, havia chovido somente 45 milímetros até semana passada, sendo que o ideal, segundo ele, seria 200 milímetros por mês. Mas, além das questões climáticas, as condições para a cultura, de maneira geral, também fazem com que essa estiagem seja mais impactante.

Na soja, os prejuízos aparecem no tamanho, como mostra o produtor Darci Becker. Foto: Guilherme Almeida

A soja deveria, nessa época do ano, apresentar formação de grãos muito maior. Foto: Guilherme Almeida

O produtor recorda, por exemplo, que, em 1993, quando ainda trabalhava de empregado, havia uma relação de preço de 13 sacos de soja para 20 de adubo. Hoje, conforme ele, são 78 para 20. A necessidade de utilizar cada vez mais fungicidas e o consumo diário de 150 litros de diesel também encarecem uma equação que, com tantos elementos negativos, deve ter como resultado uma perda que vai passar da metade de toda a área plantada. Becker ainda tem outros 75 hectares de soja em São José do Centro, próximo de Colônia Vargas. A safra, normalmente de pelo menos 7 mil sacos, deve chegar a somente 2 mil. O que poderia ser uma produção de 80 sacas por hectare deve ficar em cerca de 20, sendo que o custo para manter a lavoura é de 50 sacas por hectare.

Do outro lado da estreita estrada de chão em Colônia Vargas, os efeitos da estiagem são mais visíveis no que deveria ser uma lavoura de 10 hectares de milho. O vizinho mais próximo de Darci Becker, Aírton Markmann, 49 anos, estima que o rendimento vai ser de no máximo 30%. Ele resolveu plantar de novo e fazer a chamada safrinha para a silagem. “Tive que cortar como se fosse palha seca”, explica, referindo-se ao estado em que ficou a plantação depois de meses de sol forte e pouquíssima chuva. A expectativa de rendimento de 230 sacas por hectare foi reduzida para 30 sacas, o que representará um prejuízo grande, pois o valor de R$ 39 por saca ficará bem abaixo dos R$ 40 mil investidos na plantação. O impacto será também na atividade principal do agricultor, a produção de leite, que, com redução da qualidade da silagem, terá o custo elevado de R$ 1,20 por litro para R$ 1,50 por litro.

No milho, a aparência de palha revela logo os impactos do tempo seco. Foto: Guilherme Almeida

No interior de Lagoa dos Três Cantos, a aproximadamente 20 quilômetros de Não-Me-Toque, a família Petry praticamente abandonou a produção de leite em setembro do ano passado. Excesso de normativas foi o principal motivo que levou Soneta Maria, 61 anos, e o filho Elenor, 33, a ficarem com apenas duas vacas na propriedade de 17 hectares onde a família reside. Mas mesmo o leite para a produção de queijo para consumo próprio ficou minguado em função da estiagem. O potreiro seco e a plantação de quatro hectares de milho perdida mostram o resultado dos 120 dias sem chuvas volumosas e explicam a baixa produtividade das vacas, alimentadas agora basicamente de ração, o que não compensa. A família marca bem a data da última chuva boa: 26 de novembro de 2019. Os míseros 7,5 milímetros da virada para 2020 e os 85 milímetros do final de semana passado não foram suficientes para salvar os 3,4 hectares de milho, que foi cortado e deu lugar a um plantio de soja. O cultivo ocupa 7 hectares e deveria render 530 sacas, mas não deve passar de 350.

Para a Cotrijal, cooperativa que atua em 32 municípios da região, ainda não há previsão do que de fato será perdido. Isso porque, enquanto existem prejuízos irreparáveis em muitas lavouras de milho, por exemplo, há esperança de que parte da soja possa reagir e não ter danos tão impactantes. “Se chover normalmente, vamos ter uma amenizada”, prevê o vice-presidente Enio Schroeder, ao citar que a cultura tem poder de recuperação considerável. 

Elenor Petry precisou cortar o milho e utilizou área para plantar soja. Foto: Guilherme Almeida

Ele, no entanto, já trata esse período de tempo seco como um dos piores para a produção dos últimos anos. A soja, explica, basicamente não se desenvolve por falta de umidade e a região do Alto do Jacuí, onde está concentrada grande parte do plantio, acabou sendo uma das mais afetadas. Já no milho, os estragos são piores. “Tem agricultor que não vai colher nada”, comenta.

Os produtores de leite, segundo o vice-presidente da Cotrijal, também têm sofrido em função das pastagens prejudicadas e a expectativa é que se tenha apoio do governo e liberação do seguro agrícola, além da criação de um seguro de renda e não só de custo, demanda antiga do setor. Schroeder lembra que o tempo seco é “terrível” para a agricultura e que é importante, cada vez mais, que a população entenda os riscos financeiros a que os produtores se submetem para garantir alimentos e a movimentação da economia no Rio Grande do Sul. “É o agro que sustenta esse nosso Estado.”

Mudanças climáticas: contraste gaúcho

Foto: Guilherme Almeida

Chuvas devastadoras e, em intervalos curtos, tempo extremamente seco ligam o sinal de alerta. Principalmente nos últimos anos, este é o cenário que marca o Rio Grande do Sul, que tem prejuízos anuais, em média, de R$ 1 bilhão associados a desastres. Entre 1º de janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2018, os municípios gaúchos emitiram 2,2 mil registros oficiais de desastres à Defesa Civil, em sua maioria estiagens ou tempestades. Eventos distintos se alteram, revelando cenário de contrastes que pode ser explicado pelas mudanças climáticas. Esse é um dos principais fatores que pode ser observado em um estudo do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) recentemente finalizado. Ainda não publicada, a pesquisa da mestranda Karina Bruno Lima, orientada pelo diretor do Centro Polar e Climático da instituição, Francisco Aquino, contempla e analisa todos os registros de notificação de desastres emitidos pelo Estado. Os dados foram obtidos com a Defesa Civil e disponiblizados ao Correio do Povo.

Em 2011, por exemplo, mais de 25% dos registros foram para estiagem, enquanto que quase todos os outros estavam relacionados a tempestades severas e elevados níveis pluviométricos. No ano seguinte, uma mudança brusca. Quase 92% dos registros eram de estiagem e menos de 6% para as chuvas intensas. Em 2013, novamente o oposto: pouco mais de 5% de sinalizações para o tempo seco e 93% com relação à tempestade. O cenário só cria certa constante nos desastres entre em 2014 e 2018, quando as tempestades ocupam entre 69% e 99% dos registros.

Ainda que o estudo não tenha contemplado o ano de 2019, dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), do Ministério do Desenvolvimento Regional, apontam que, no ano passado, dos 156 danos informados, 92 (58,9%) foram relacionados a tempestades e cinco (3,2%) à estiagem. Apesar disso, no início de 2020, as notícias relacionadas aos prejuízos do meio rural devido a meses de pouca chuva e muito calor mostram nova virada, com 82 municípios tendo decretado emergência ou registro no S2ID.

Voltado para a análise de tempestades especificamente, o estudo acabou computando também dados de estiagem, o que revela o cenário de mudanças abruptas. Professor do Departamento de Geografia da Ufrgs, Aquino observa que, em linhas gerais, se em um ano a agricultura gaúcha é castigada pelo tempo seco, a tendência é que no ano seguinte tenha prejuízos pelo excesso de chuvas extremas. Isso porque, segundo ele, as tempestades são diferentes das chuvas distribuídas de forma constante e fazem com que o solo demore a absorver a umidade. “Estamos falando de um fenômeno importante no Rio Grande do Sul associado à atmosfera, causando danos à economia”, explica o climatologista.

Aquino aponta que o Estado sempre teve extremos como precipitação e estiagem. Vários fatores podem explicar esse tipo de situação. A posição geográfica, como se sabe, sempre proporcionou as quatro estações bem definidas. Mas, com o aumento das temperaturas, o que vem sendo identificado é uma frequência maior desses eventos, o que nos liga às alterações da circulação atmosférica no hemisfério sul dentro do cenário global de variações do clima. Dessa forma, é possível relacionar as secas na Austrália, na América do Sul e na África do Sul. “Com o planeta mais quente, esses contrastes passaram para um patamar superior”, afirma o professor, ao citar que os efeitos das mudanças climáticas continuarão acontecendo. “E isso se reflete diariamente na economia e na saúde do gaúcho.”

Com as mudanças do clima, observa-se, por exemplo, que o El Niño não é mais garantia de chuvas acima da média no verão da região sul do país, como se acreditava no fim da década de 1990 e início dos anos 2000. Aquino lembra, por exemplo, que no começo de 2005, devido à influência do fenômeno, agricultores acreditaram que choveria mais e acabaram aumentando a área plantada. O ano, porém, foi marcado por tempo seco e foram necessários mais investimentos para reverter a situação, o que aumentou o prejuízo. Em 2020, a anomalia da circulação atmosférica para o sul do Brasil no fim da primavera e início do verão, conforme o diretor do Centro Polar e Climático da Ufrgs, levou ao clima mais seco que vem sendo registrado. Por outro lado, outras regiões brasileiras tiveram eventos de precipitação acima da média.

Discussão importante quando se fala em mudanças do clima é a preservação de vegetação nativa, que, mundo afora, muitas vezes acaba indo de encontro às lavouras de maneira geral. Aquino faz a ressalva de que o alerta não é contra a agricultura, fundamental para a produção de alimentos e movimentação da economia, mas para reforçar a necessidade de preservação de matas nativas em topos de morros e margens de rios, o que facilita no arrefecimento, em trazer de volta a precipitação e reter a água. As áreas naturais, explica, são fundamentais do ponto de vista da biodiversidade e do ciclo meteorológico. O desmatamento aumenta a frequência de eventos extremos. Na Austrália, por exemplo, o aumento das temperaturas e a falta de chuvas fez áreas nativas queimarem de forma mais intensa do que poderia ser previsto. “O planeta inteiro está mais quente devido às alterações que a humanidade executa em uma velocidade muito rápida frente a um sistema natural, na atmosfera ou no solo.”

Estiagem Estado afora

Foto: Guilherme Almeida

Vale do Rio Pardo

Por Otto Tesche

O prejuízo com a estiagem desde o fim de novembro atinge R$ 696,29 milhões nas 15 cidades que integram a Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo. Todos os prefeitos assinaram decreto de situação de emergência devido ao impacto econômico na produção agrícola e aos problemas com abastecimento de água. A chuva dos últimos dias apenas aliviou o calor e trouxe expectativa de redução de perdas nas lavouras. 

Em Herveiras, levantamento da Emater/RS-Ascar e da Secretaria da Agricultura aponta que os prejuízos no setor agrícola, na pecuária e na produção de leite totalizam R$ 16,3 milhões, valor próximo ao orçamento anual da prefeitura, estimado em R$ 17,9 milhões para 2020. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil aponta perdas nas produções de milho (40%), soja (35%), feijão (40%), leite (30%) e tabaco (30%), este último a principal fonte de renda no município. Extensionista da Emater, Dieni Teixeira da Silveira diz que o milho é essencial para a subsistência dos pequenos agricultores, mas a maioria cultiva na resteva do tabaco e não pode fazer o plantio por falta de chuva.

O município também tem problemas no abastecimento de água nas áreas rural e urbana. Em Linha Pinhal, uma fonte de captação com 4 metros de profundidade ao lado, que atende 58 moradores, nas últimas semanas, ficou praticamente sem água e a prefeitura precisa socorrer as famílias com o caminhão-pipa. O morador Marlon de Menezes calcula que o reservatório secará completamente em 20 dias se não chover. Ele destaca que não há mais condições de recuperar a qualidade do tabaco afetada pelo calor e falta de umidade.

Açude em Linha Pinhal, interior de Herveiras, está com apenas 30% do volume de água. Foto: Otto Tasche

O casal Elíbio e Roselaine Bender, de Linha Alto Marcondes, todos os dias enfrenta o forte calor. “A gente trabalha horas e horas, mas parece que o galpão não enche, pois as folhas do tabaco não se desenvolveram com a falta de chuva”, explica Elíbio. Eles plantaram 95 mil pés, com a expectativa de colher 12 arrobas por hectare, mas deve render apenas nove. Na cultura do milho, o casal contabiliza quebra de 60% a 70% em uma lavoura de 12,5 hectares. “Primeiro, o excesso de chuva prejudicou a plantação e depois, na fase de enchimento de grãos da espiga, faltou umidade”, diz Roselaine. 

O coordenador da Defesa Civil no município, Clécio da Silva, afirma que o problema de abastecimento existe há muitos anos. Em 2018, foi perfurado um poço com 660 metros de profundidade, mas não deu água. O governo municipal criou um programa de recuperação de nascentes para enfrentar os períodos de estiagem, mas a adesão até agora é pequena. “Temos poucos exemplos de pessoas que fizeram a recuperação de antigas fontes e estas agora não estão sem água”, observa Silva. Ele diz que 80% dos produtores de tabaco produzem as mudas com água tratada. A intenção é realizar um trabalho com as indústrias do setor para mudar o sistema.

Sinimbu também enfrenta sérios problemas com a falta de água e a prefeitura iniciou uma campanha de conscientização contra o desperdício. As bombas da rede são desligadas em determinados momentos com o objetivo de forçar a economia. Em Boqueirão do Leão, a Secretaria de Agricultura intensificou nos últimos dias o trabalho de abertura de poços para captação de água aos animais. Já a pasta de Obras faz distribuição em caminhão-pipa.

O município de Rio Pardo tem o volume mais alto de prejuízos. O levantamento aponta perda de R$ 187,34 milhões em consequência do longo período de estiagem. O valor é quase 50% superior ao orçamento da prefeitura do ano, estimado em R$ 128 milhões. A cultura mais afetada é o milho, com 70% de quebra na produção. O chefe do escritório da Emater, Matias Streck, explica que em dezembro choveu apenas 25 milímetros no município, enquanto a média para o mês é de 170 mm. Além do milho, tanto para silagem como grão, há perdas de 50% na produção de legumes, 50% de melancias, 40% da soja e 35% na pecuária. “O número na soja deve aumentar, pois está no início do ciclo. Até fim do mês há a plantação da safrinha do milho, mas acredito que o plantio será pequeno.”

O prefeito Rafael Barros explica que vai demorar anos para que os agricultores se recuperem. “Vamos pedir prazos ao Estado, a Brasília, para que os bancos ofereçam carência para os agricultores. Não é só pelo custeio, mas tem despesa de arrendamento, óleo, manutenção de maquinário.” A Defesa Civil do município e o Corpo de Bombeiros entregam água em diversas localidades. “Em alguns locais, os poços secaram”, disse o prefeito. Ele destaca que o fenômeno climático ocasiona perdas financeiras desastrosas ao município, pois a base da economia é a produção primária. A falta de chuva também afeta as pastagens, fontes de alimento para os animais usados na produção de leite e para consumo humano. Com isso, houve queda na qualidade, causando prejuízos aos produtores e ao município.

Em Encruzilhada do Sul, o maior prejuízo é nas culturas de subsistência. O coordenador da Defesa Civil, Jorge André Barra Cardoso, afirma que a falta de chuva e as altas temperaturas em dezembro e janeiro provocaram perdas irreversíveis na mandioca, milho, feijão, soja, arroz, melancia e pecuária. Explica que em razão das condições climáticas e do solo, o ciclo de plantio é mais curto, por isso não há mais como recuperar as perdas, mesmo que a chuva volte nos próximos dias. O prejuízo soma até agora R$ 98,8 milhões.

Em Santa Cruz do Sul, o secretário de Agricultura, Delsio Meyer, destaca que a maior dificuldade no interior foi com as culturas de verão, como milho, soja e tabaco. Explica que a chuva neste mês alcançou todas as localidades, mas não foi suficiente para eliminar o problema da seca. A perda nas plantações é estimada em R$ 62 milhões e fica em torno de 20%. A estiagem também impactou na produção de alimentos em Santa Cruz. No segmento de hortaliças e vegetais folhosos, as perdas acumuladas desde o início de dezembro alcançam 35%. Nem mesmo a irrigação e os sistemas de produção em estufa foram suficientes para a aliviar os efeitos de temperaturas na casa dos 40 graus.

O vice-presidente da Associação Santa-cruzense de Feirantes (Assafe), Danilo Hentschke, explica que o calor intenso queima as folhas das plantas, causando perdas sensíveis na produção. “Podemos contabilizar 35% de perda na produção de hortaliças. Um reflexo das altas temperaturas no último mês.” As 80 famílias de produtores que pertencem à associação de feirantes ficaram três semanas sem plantar nada nas lavouras. O vice-presidente da Assafe, Danilo Hentschke, estima que em 20 dias, além do milho, vegetais e hortaliças folhosas comecem a faltar. “Nós estamos há vários dias sem cultivar verduras por causa do calor e da falta de chuva. Até agora, os preços não foram reajustados, mas isso vai acontecer.”

Serra gaúcha

Por Celso Sgorla

Apesar da chuva dos últimos dias, as perdas na produção de frutas, especialmente da cultura da uva, serão expressivas para alguns produtores da Serra gaúcha. Sedenir Postal, coordenador da Comissão Interestadual da Uva e Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Pinto Bandeira, Monte Belo do Sul e Santa Teresa, diz que haverá quebra de safra em função da estiagem. Ele estima redução em torno de 40% em relação à colheita passada. Postal afirma que a expectativa de safra de 600 milhões de quilos não deve se confirmar e a colheita deste ano não chegará a 500 milhões de quilos.

O engenheiro agrônomo Ênio Todeschini, que é assistente de Fruticultura do escritório regional da Emater/RS, diz que as perdas na produção da uva não são uniformes, dependendo da localização de cada município e até do tipo de solo. Ele cita, por exemplo, o caso da microrregião dos municípios de Monte Belo do Sul e Santa Tereza e do Vale Aurora, em Bento Gonçalves, que tiveram menos chuva e apresentam mais prejuízos. Ele destaca, no entanto, que as uvas de ciclo médio e tardio, como a Isabel, uma das variedades mais produzidas, poderão reagir com a precipitação recente e ter boa produtividade. “A chuva dos últimos dias ajudou, não resolveu a seca, mas estancou as perdas.”

Todeschini informa que culturas de maçã, pêssego e ameixa também estão tendo quebra de produção. Técnicos da Emater estão visitando propriedades para verificar os estragos e ajudar produtores que queiram acionar o seguro agrícola. “Não há dados definitivos, mas estimamos perdas até agora de cerca de 20%, somando-se o frio na época de brotação, chuva na floração e agora a seca na época do desenvolvimento do fruto. Temos propriedades em que as perdas variam de 40% a 70%.”

Em Caxias do Sul, o secretário municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Valmir Susin, também destacou que os maiores prejuízos causados pela estiagem são na produção da uva, com perspectiva de perdas de 30% a 40%. Para ele, a saída é implantar um sistema de irrigação nos pomares. “Não podemos mais depender apenas da regularidade dos períodos de chuva, é preciso usar a tecnologia em favor da agricultura”, afirmou Susin. Ele também comentou sobre a produção de tomate. “O forte calor e a falta de chuva fazem com que o produto amadureça muito rápido e de uma só vez e não está mais florindo.”

No município de Monte Belo do Sul, além das perdas na viticultura, também há a preocupação com a falta de água. O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Éder Angelo Zaffari, informou que a prefeitura está fazendo um apelo à comunidade para o uso consciente e racional do recurso, pois os poços artesianos do município vêm apresentando deficiências na vazão da água, ocasionando problemas no abastecimento tanto do interior quanto na área urbana. Zaffari adiantou que está em andamento a perfuração de três novos poços, dois na cidade e um no interior, que vão beneficiar as comunidades de Linha Pederneiras e da Leopoldina.

O viticultor Glauber Benatti, de 35 anos, que tem cerca de seis hectares de uvas de mesa e viníferas na localidade de Linha Armênio, em Monte Belo do Sul, estima perdas de 40%. Ele diz que a chuva dos últimos dias ajudou a não perder as parreiras, mas para a fruta a precipitação veio tarde. “Usei toda a água de um açude que tenho para criação de peixes para irrigar o parreiral, coisa que nunca tinha feito”, conta. Outro produtor de Monte Belo do Sul, Léo Francisquina, que tem nove hectares de propriedade na Linha São Marcos e planta variedades BRS Magna para fabricação de suco, estima perda de 40% em função da estiagem. “Nossa produção normal é de 210 toneladas, mas neste ano o tempo não ajudou e a quebra será grande.”

No município de Santa Tereza, o produtor Valmor Ferronato, que tem propriedade na Linha Bento, estima perda 80% da produção da uva Isabel e Concord, destinadas basicamente à produção de sucos. Ele conta que uma safra normal em seus dois hectares de parreirais gira em torno de 52 toneladas. A Prefeitura de Santa Tereza decretou situação de emergência devido à estiagem que afetou o município, causando perdas e danos consideráveis na agricultura e no abastecimento de água em algumas localidades do interior.

Vale do Rio dos Sinos

Por Stephany Sander

No Vale do Sinos, chama atenção o baixíssimo volume de água do Rio dos Sinos, responsável por abastecer a região. Em São Leopoldo, a média no verão, que é de 2,5 metros, segue marcando pouco mais de 1 m. Conforme a Defesa Civil municipal, mesmo estando muito abaixo do normal, o abastecimento de água não deve ser afetado. Em Novo Hamburgo, no bairro rural de Lomba Grande, cerca de 400 famílias de agricultores somam perdas devido à estiagem. Segundo dados da Emater, algumas lavouras já registram perdas de 80% da produção do milho.

“A última chuva em quantidade expressiva que tivemos foi em 14 de novembro, que foi no início da estágio do plantio. As lavouras que ficaram secas na fase de enchimento de grão foram praticamente todas perdidas”, explica o extensionista e coordenador da Emater na cidade, Carlos Roberto Dávila. Destacando que a mesma situação acontece para os produtores de soja. “Temos ainda produtores de leite e pastagens, que estão com cerca de 25% da produção comprometida.”

José Teodoro é um dos produtores de milho afetados pela falta de chuva. Grande parte de seus 80 hectares, na região de São João do Deserto, nem chegaram a crescer. "Pés que geralmente chegam a 1,80 metro de altura estão com menos de 60 centímetros. É uma das maiores secas que tenho nestes 30 anos de plantação”, diz ele.

A cidade de Campo Bom também soma perdas nas lavouras de milho e nas pastagens, em que um total de 40% das sementes não germinaram.
Já em Estância Velha, a Emater e a Defesa Civil Municipal realizaram levantamentos recentes nas plantações e verificaram que os impactos da estiagem no município chegam a 30% de perda da produção. Em um caso, uma família que planta cerca de 27 hectares de milho já contabiliza prejuízo de 7 hectares.

Campos de Cima da Serra

Por Halder Ramos

Em São Francisco de Paula, os principais reflexos são sentidos na produção de batatas. No entanto, a Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Econômico aponta perdas no cultivo de milho, soja e olerícolas, como repolho, couve, brócolis, alface, cenoura e beterraba. Com 12 mil hectares, soja e milho somam a maior área plantada em São Francisco. Em volume de produção e orçamento, no entanto, a batata é o setor que mais envolve recursos. “Somos o maior produtor de batatas do Rio Grande do Sul. São 3,5 mil hectares de área cultivada e a estiagem está prejudicando muito a produção. É uma cultura muito sensível por ter um ciclo bem curto”, diz o secretário de Agricultura, Rafael Marques. Ele não faz projeções de quebra, mas antecipa que o impacto em decorrência da falta de chuvas será considerável. “Na nossa região, temos muitos microclimas. Em algumas áreas, a estiagem está sendo mais severa do que em outras”, afirma.

Os produtores Alexandre e Andressa Fais, da AgroFais, projetam quedas de até 50% na produção de batatas. “Ano passado, a produtividade alcançou 40 toneladas por hectare. Agora, estamos produzindo 22. Em determinados lotes e épocas de plantio, as perdas chegam aos 50%”, estima Alexandre. O produtor conta que possui 350 hectares de área cultivada de batata e explica que o plantio, que ocorre de agosto a fevereiro, foi todo prejudicado. “Nos dois primeiros meses, o frio atrapalhou o desenvolvimento dos tubérculos. Em outubro e novembro foi o excesso de chuvas. E, de 10 de novembro para cá, tivemos dois meses de pouca chuva.”

Fais estima que a falta de chuvas deve prejudicar severamente 1.000 hectares dos 3.500 plantados no município. “Se a seca continuar, as perdas irão aumentar. Porém, se o tubérculo tiver de 60 a 80 dias, não adianta voltar a chover. Não recupera mais.” Em função da quebra na safra, o produtor prevê o aumento dos preços ao consumidor final. 

Região Central

Por Renato Oliveira

As cidades das regiões Centro contabilizam os prejuízos provocados pela estiagem. Apesar de alguns dias de chuva forte, várias culturas registram estragos. O prefeito em exercício de Santa Maria, Sérgio Roberto Cechin, decretou situação de emergência no município. O assunto foi tratado com representantes da Emater Regional, Irga, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Emater Municipal e Sindicato Rural. No balanço da Emater Regional, há quebra de safra na soja (20%), arroz (5%), milho (25%), bovinocultura de corte (20%) e bovinocultura de leite (30%). As perdas na agricultura chegam a R$ 45 milhões, informou o secretário de Desenvolvimento, Rodrigo Mena Barreto. A Defesa Civil municipal leva água para abastecer 310 famílias, nos distritos de Santa Flora, Palma, São Valentim e Passo do Verde. A última chuva pode amenizar o futuro da safra, mas há muita produção que não tem como ser recuperada, destacou Cechin.

Em Santa Maria, o produtor rural Marcio Rodrigues, residente na localidade o Passo da Capivara, diz que a falta de chuva e as altas temperaturas provocaram perdas na produção de milho, alface, tomate e rúcula. “Os 3 hectares onde planto foram destruídos em virtude da falta de chuva. 
Em Cachoeira do Sul, o prefeito Sergio Ghignatti assinou no dia 10 o decreto de situação de emergência devido à estiagem. Os dados levantados pela Defesa Civil apontam que 38.841 pessoas na zona urbana e rural do município foram afetadas pela falta de chuva. Os prejuízos chegam a R$ 132 milhões na agricultura e R$ 8,4 milhões na pecuária. Os dados econômicos privados foram descritos em laudo emitido pela Emater, que cita a perda de R$ 93,7 milhões na cultura da soja e R$ 26,7 milhões no arroz. O laudo apresenta as perdas nas lavouras de milho e cultivo de hortaliças. Cachoeira do Sul ficou 39 dias sem chuva, no período entre 2 de dezembro e 8 de janeiro, causando, também devido às altas temperaturas, baixa nos rios, barragens e reservatórios de água.

Em Restinga Seca, integrantes da Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, da Emater/Ascar e do Irga e Defesa Civil regional contabilizam as perdas na agricultura. Conforme os dados da Emater/Ascar, houve quebra de 80% nas lavouras de milho, 25% nas de soja e 5% nas de arroz. Também 5% do fumo foram prejudicados na sua qualidade devido ao extremo calor. 

O prefeito de Agudo, Valério Trebien, assinou o decreto de situação de emergência na área rural do município afetado pela estiagem no dia 9. A decisão, segundo ele, levou em consideração os baixos índices pluviométricos dos últimos meses no interior do município, ocorrendo casos de falta d’água para consumo humano e animal e com córregos e sangas secando. São registrados prejuízos nas culturas de soja, tabaco, milho, feijão e arroz e também nos segmentos de gado leiteiro, gado de corte. Todas as culturas apresentam redução na produtividade e até perda total em algumas. Representantes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Gestão Ambiental, Defesa Civil local, Emater, Irga e instrutores de empresa de tabaco estão em alerta. A Defesa Civil também orienta para o uso consciente da água, principalmente os usuários das redes do interior.

Decreto de emergência também foi assinado em Tupanciretã. Segundo o prefeito Carlos Augusto Brum de Souza (Guga), os prejuízos ultrapassam os R$ 153 milhões. A assinatura ocorreu depois do balanço apresentado pela Emater municipal. <TB>Em Júlio de Castilhos, o prefeito João Vestena assinou decreto de situação de emergência na última terça-feira. A falta de chuvas está provocando prejuízos na produção de soja, milho e leite. Uma reunião do Conselho Agropecuário, realizada na Secretaria Municipal da Agricultura, mapeou as perdas decorrentes da estiagem. Segundo a prefeitura, a quebra foi de 35% na soja, de 75% no milho e de 30%no leite.

A Prefeitura de São Gabriel, na Fronteira-Oeste, decretou no dia 9 situação de emergência por causa da falta de chuva, que somou 30 dias. Um levantamento feito pela prefeitura, com base nos relatórios do Incra, da Emater, da São Gabriel Saneamento e da Defesa Civil, revela prejuízos em lavouras de arroz e soja, atingindo também culturas como milho e hortifrutigranjeiros, assim como o abastecimento de água em assentamentos e outras comunidades rurais. O documento também aponta prejuízos na bovinocultura de corte, com perda das pastagens e diminuição de peso do gado, na apicultura, silvicultura e olericultura.

A prefeita em exercício, Karen Lannes, chama atenção para os reflexos na economia municipal. “Com a produção afetada, aumentam os preços e diminui o consumo.” Desde o dia 30 de dezembro, a prefeitura, em parceria com o Exército e a São Gabriel Saneamento, leva água em caminhões-pipa para as comunidades do interior, principalmente à região do Faxinal e assentamentos. Karen informa que caixas d'água foram adquiridas para atender os moradores. 

Região Metropolitana 

Por Fernanda Bassôa

A redução das águas e do nível dos rios nesta época quente do ano prejudicam não apenas famílias que vivem nas áreas rurais e que sobrevivem da agricultura, mas também moradores de áreas urbanas da Região Metropolitana que acabam por alterar a rotina em razão da falta de água. O elevado calor e o consumo maior levaram a Companhia Riograndense de Saneamento a chamar a atenção dos clientes para o uso consciente. De acordo com a Corsan, com maior demanda, os sistemas ficam no limite e qualquer interrupção para conserto ou falta de energia elétrica compromete normalização do abastecimento.

Além disso, com o período a estiagem, é comum em muitos mananciais o aumento de florações de algas. A companhia informa que algumas causam odor e gosto que são intensificados quando, por exemplo, há aquecimento da água, como no preparo do chimarrão e do café e no banho. Sempre que necessário, a Corsan ajusta o sistema de tratamento para minimizar a concentração das substâncias que causam cheiro e gosto. O paladar e o olfato humanos têm capacidade muito grande em detectar essas substâncias, mesmo em concentrações baixíssimas. Por isso, mesmo com o tratamento de água, é possível a percepção pelos usuários. No entanto, a Corsan garante que, com o tratamento, essas substâncias são reduzidas a baixas concentrações e não oferecem risco. 

Este foi um dos fenômenos que atingiu cidades da Região Metropolitana há alguns dias. Isadora Moreira Carvalho Simões, que mora na vila Augusta, em Viamão, disse que antes de ficar dois dias sem abastecimento em casa, a água que saiu da torneira apresentou coloração estranha. “Além disso, tinha cheiro forte e gosto. Passa verão e entra verão é sempre o mesmo problema. Ficamos com receio de usar essa água para cozinhar. Tive que gastar com dois galões de água porque em casa somos cinco pessoas.”

Em Sapucaia do Sul, os problemas aparecem no interior do município. O secretário de Indústria, Comércio, Agricultura e Abastecimento, Paulo Markevis, ressaltou que para os produtores rurais que vivem nas zonas mais afastadas a falta d’água e o calor excessivo prejudicam a agricultura. “A estiagem interfere no desenvolvimento de mudas e provoca queima das hortaliças. Além disso, muitos produtores mantêm criação de animais, que sofrem com a falta de água. O desenvolvimento das safras de milho, soja e feijão, que são mais demoradas, também são muito prejudicadas, pois estes produtores captam água de arroios e vertentes.” Markevis explica que a secretaria e a Emater monitoram diariamente a situação, inclusive açudes com criação de peixe.

Região Norte

Por Agostinho Piovesan

A falta de chuva provocou a redução do nível dos riachos e fontes naturais no interior de Frederico Westphalen. Dezenas de moradoras da zona rural são abastecidos com água transportada por carro-pipa da prefeitura. A água é recolhida na Estação de Tratamento da Corsan, no bairro Itapagé, e levada até a zona rural. Segundo a Secretaria de Obras, os agricultores mais afetados residem nas localidades de Barra do Braga, Castelinho, São Roque, São José, Alto Castelinho e Linha Iraí. O secretário adjunto de Obras, Tiago Ferro, diz que são transportadas, em média, sete cargas de água diariamente. “As chuvas esparsas, com precipitações que variaram de 30 a 50 milímetros, não provocaram a elevação do nível dos rios nem a vazão das fontes, por isso o município precisa atender as famílias.”

O presidente da Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen (Cotrifred), Élio Pacheco, relata que a falta de chuva afeta o milho do tarde nos oito municípios da área de abrangência da entidade. “A estiagem não é tão intensa nesta parte do Estado, mas preocupa em razão das perdas do milho do tarde, já que está nas fases de floração e pendoamento, períodos que necessita de mais umidade”, diz. Pacheco afirma que neste mês choveu, em média, 40 milímetros na região, trazendo alívio aos agricultores. O agrônomo da Cotrifred Carlos Ramiro Joaquim informa que o milho do cedo garantiu alta produtividade, sendo que em muitas propriedades foram colhidas, em média, 160 sacas por hectare, a maior média dos últimos seis anos. Segundo ele, a falta de chuva neste momento afeta, além do milho do tarde, as pastagens utilizadas na alimentação do rebanho leiteiro. 

A Corsan em Frederico Westphalen, mesmo com a chuva neste mês, continua utilizando o sistema alternativa de captação instalado no rio Fortaleza, em Seberi, para abastecer a população local e da vizinha cidade de Caiçara. Diante da baixa vazão do rio Pardo, de onde tradicionalmente a companhia capta a água, o Sistema Fortaleza foi acionado no 29 de dezembro. O gerente da Corsan, Daniel Piovesan Uliana, diz que as últimas precipitações não recuperam a vazão do Pardo. “Com isso, mantemos ativado o Fortaleza, que consiste em captar 120 litros por segundo do rio, recurso que é canalizado até o distrito de Osvaldo Cruz, em Frederico Westphalen. De lá, a água corre pelo rio Pardo, percorrendo três quilômetros até o sistema de captação na Vila Faguense.” Do rio Pardo, a água é recalcada até a ETA no bairro Itapagé.

Fronteira Oeste

Por Fred Marcovici

O rio Uruguai está baixo na Fronteira-Oeste. Os bancos de areia surgem e a terra às margens está crestada como solo nordestino, sem impedir, no entanto, o abastecimento normal nos domicílios em Uruguaiana. Segundo o extensionista rural da Emater Emanoel Torres Nunes, a situação pode parecer um paraíso se comparada com outros municípios. A principal cultura local, o arroz irrigado, se encontra em ótimo estágio de crescimento vegetativo. Os 75 mil hectares plantados com o grão são favorecidos pela luminosidade e a água de barragens se mantém com o bom volume armazenado. As chuvas esporádicas, porém com volume razoável, sustentam os mananciais em níveis suficientes para atender a demanda. Os hortigranjeiros, a maior parte irrigada, estão em estágio satisfatório. O ambiente protegido para o cultivo e um sistema de irrigação eficiente, como gotejamento e microaspersão, suprem as necessidades da produção. Os campos, na primeira semana de janeiro, chegaram a apresentar sinais de amarelamento, principalmente em áreas de solo raso. Porém, as chuvas de 40 milímetros registradas nos dias 9 e 10 de janeiro recompuseram a umidade do solo. 

Leandro dos Santos, gerente de produção da Granja do Salso, explica que a situação ainda é suportável por haver a opção de irrigar os 600 hectares plantados com arroz, com água bombeada do rio Uruguai. No entanto, ele se diz surpreso e preocupado com a intensidade e continuidade do calor registrado na área. “A cada dia, as reservas estão sendo reduzidas.” 

Em Alegrete, segundo o engenheiro agrônomo da Emater Tiago Pedroso, o arroz cultivado encontra-se em boas condições, nos seus diversos estágios, e os 56,6 mil hectares estão preservados com o rio Ibirapuitã suprindo a demanda da lavoura. Já o milho, que começa a ser colhido, tem sofrido com a falta de água, mesmo com as chuvas de 10 de janeiro. São 3.450 hectares e 30% da produtividade perdidos. “Pode parecer pouco, porém para quem plantou apenas o milho o prejuízo é enorme”, destaca. A soja, que através dos anos tem crescido significativamente em plantio no município, apresenta perda consolidada de 15% da produtividade. A média produzida pelos 45 mil hectares vem sendo de 40 sacas por hectare, mas com perspectivas positivas até o fechamento do ciclo, desde que não haja novas intercorrências climáticas. 

A maior preocupação é com o conjunto de áreas que iniciaram o plantio nesta safra, somando 10 mil hectares. “As raízes não se aprofundam para buscar água e por consequência suportam menos as adversidades climáticas. Podem ocorrer perdas de 50% ou até o total cultivado”, estima agrônomo. Os hortigranjeiros estão sob controle. A pastagem voltou ao normal depois da chuva recente. 

Em Barra do Quaraí, o arroz que preenche 21 mil hectares da área cultivável está em bom estado, principalmente pela irrigação de barragens de grande porte existentes nas propriedades. Segundo Daniel da Costa Soares, engenheiro agrônomo da Emater, o cultivo não é ampliado exatamente pelo custo de se criar e manter mananciais em terras em que não há rio ou barragens já instaladas. De forma experimental, mil hectares estão sendo destinados à lavoura de soja e 130 ha para a de milho, exclusivamente voltados à silagem que alimenta o gado. O campo nativo sofreu com a estiagem, mas com a chuva há uma semana deve rebrotar. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895