Onda gringa não para de crescer

Onda gringa não para de crescer

Câmbio favorável, e aumento do número de vagas mostra o crescimento da presença de jogadores estrangeiros no futebol brasileiro

Gustavo Gomes é um dos capitães do Palmeiras

Por
Chico Izidro

O futebol brasileiro sempre foi autossuficiente em matéria prima. Os estrangeiros, no entanto, estiveram presentes desde o começo, mas em número reduzido. A dupla Gre-Nal, por exemplo, em toda a sua história quase sempre teve um gringo em seus elencos.

A diferença do câmbio para os países sul-americanos e os altos investimentos feitos pelos clubes brasileiros reforça a tendência de que cada vez mais atletas de fora virem atuar no país. Tanto que no ano passado, a CBF decidiu ampliar o número de estrangeiros nos clubes – os times puderam passar a utilizar até sete atletas de fora por jogo e não mais apenas cinco, como era anteriormente.

Atualmente não há qualquer limite para o número de outros passaportes, o que muda de figura nas competições. Na Libertadores da América não existe restrições e se uma equipe quiser entrar em campo sem nenhum jogador do seu país de origem, sem problemas. Até 2013, havia no Brasil país o limite de três jogadores estrangeiros inscritos por partida por cada equipe, o que desmotivava a contratação de atletas internacionais. Porém, a partir de 2014 esse limite aumentou para cinco em cada time por jogo. E desde o ano passado pulou para sete nas competições nacionais.

O Brasileirão de 2023 contou com a presença de 122 atletas estrangeiros, um total de 20% de gringos no principal torneio nacional. O São Paulo liderou o ranking com 11 atletas, seguido do Botafogo com dez atletas. O Inter foi o terceiro com nove jogadores. O período de janela de transferências está aberto e a perspectiva é de que os vestiários Brasil afora recebam um número maior de jogadores falando outra língua.

O Inter segue turbinado no sotaque. Além de contar com o técnico argentino Eduardo Coudet, mantém no plantel Enner Valencia, Rochet, Mercado, Bustos, De Pena, Nicolás Hernández, Aránguiz e Wanderson, que nasceu no Brasil mas tem cidadania belga. Isso sem contar as negociações para contratar o colombiano Rafael Borré e o argentino Lucas Alario.

O Grêmio perdeu Suárez, eleito craque do Brasileirão e que foi atuar com Messi nos Estados Unidos. O argentino Iturbe não aprovou e deixou o clube, mas o venezuelano Soteldo é a novidade para 2024. Seguem no grupo de Renato Portaluppi Kannemann, Villasanti, Carballo, Cristaldo e Besozzi. A diretoria ainda procura anunciar o argentino Funes Mori e mira o camaronês Aboubakar.

Flamengo pagou R$ 79 milhões por um único jogador saído da argentina

Atual campeão brasileiro, o Palmeiras anunciou no final do ano a contratação de Aníbal Moreno, do Racing. Com a chegada do meia argentino, o Verdão passou a contar com seis estrangeiros no elenco milionário. Além de Moreno, o técnico português Abel Ferreira conta com Gustavo Gómez, Piquerez, Atuesta, Richard Ríos e Flaco López. Assim, o clube paulista ainda pode contratar mais um estrangeiro, sem se preocupar em ter que tirar alguém da lista de relacionados.

O maior rival Corinthians tem apenas quatro gringos no seu time principal: Rafael Ramos, Fausto Vera, Matías Rojas e Ángel Romero. O São Paulo, por sua vez, começou o ano fazendo o anúncio da contratação do volante paraguaio Damián Bobadilla. “De volta à Libertadores, o São Paulo agora tem representantes de sete países sul-americanos em seu elenco! Bienvenido, Bobadilla!”, escreveu o clube nas suas redes sociais. Agora são dez estrangeiros no elenco para a temporada de 2024. O que excede o limite em competições organizadas pela CBF em três. Além do paraguaio, o Tricolor também conta com Arboleda, Ferraresi, Alan Franco, Galoppo, Michel Araújo, James Rodríguez, Gabriel Neves, Jhegson Méndez e Calleri.

O Athletico, que agora terá o colombiano Juan Carlos Osorio, no comando do time começou o ano de 2024 com três reforços de fora: o zagueiro paraguaio Mateo Gamarra e o meia-atacante paraguaio Romeo Benítez. O terceiro nome já certo, mas ainda não divulgado pelo Furacão é o lateral-direito argentino Leo Godoy, contratado junto ao Estudiantes de la Plata. Além desses três reforços, outros cinco estrangeiros permaneceram no elenco: o lateral-zagueiro argentino Esquivel, o meia argentino Zapelli, o ponta-ala uruguaio Canobbio, o ponta-ala argentino Cuello e o centroavante chileno Arriagada. Por outro lado, o meia chileno Arturo Vidal não vai renovar e deve acertar com o Boca Juniors. O Athletico ainda tenta acertar com o centroavante uruguaio Mastriani, do América-MG.

O clube mais rico do Brasil, o Flamengo iniciou o ano contratando um antigo sonho, o meia-atacante Nicolás de la Cruz (foto abaixo), proveniente do River Plate, por R$ 79 milhões. O craque uruguaio se junta aos conterrâneos Guillermo Varela e De Arrascaeta, o argentino Agustín Rossi, e o chileno Erick Pulgar. A lista pode aumentar com o lateral-esquerdo uruguaio Matías Viña, da Roma, mas emprestado ao Sassuolo.

De La Cruz vai atuar pelo Flamengo | Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP / CP

O Fluminense, atual campeão da América segue apostando em Germán Cano (foto abaixo). O goleador argentino foi eleito o Rei da América pelo jornal uruguaio El País. Para este ano, Fernando Diniz segue contando, além de Cano, com o colombiano Arias, os uruguaios Leonardo Fernández e Michel Araújo, o colombiano Yony González e Alan, brasileiro naturalizado chinês.

Cano foi o artilheiro da Libertadores | Foto: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE FC

O Vasco escapou do rebaixamento com ajuda do veterano meia francês Dimitri Payet, de 36 anos (foto abaixo). Ele seguirá em São Januário, sob o comando do técnico argentino Ramón Díaz, que renovou por mais um ano. O clube conta com oito forasteiros, entre nascidos na França, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai: Puma Rodríguez, Capasso, Medel, Galarza, Carabajal, Orellano e Vegetti.

Payet veio da França para jogar no Vasco | Foto: Daniel RAMALHO/VASCO / CP

O Botafogo deixou escapar o Brasileirão utilizando ao longo do campeonato oito estrangeiros. O clube está tentando o atacante argentino Marcelino Moreno, do rebaixado Coritiba. Em princípio, seguem os uruguaios Mateo Ponte e Valentín Adamo, os paraguaios Segovinha e Gatito Fernández e o angolano Bastos. O uruguaio Diego Hernández vem sendo sodado pelo Peñarol, mas ele pretende seguir no Rio de Janeiro. E o Fogão decidiu ainda não exercer o direito de compra do lateral argentino Di Plácido. Victor Cuesta seria o sétimo estrangeiro, mas tem a cidadania brasileira e não entra na conta dos gringos.

O Cruzeiro em 2023 só tinha o colombiano Helibelton Palacios como estrangeiro, começa esta temporada querendo encorpar o elenco. A Raposa acertou com o técnico argentino Nicolás Larcamón, que chega do León para substituir Paulo Autuori. E com ele vem o atacante argentino Juan Dinenno, que estava no Pumas.

O Atlético Mineiro começou 2023 com apenas três gringos: os argentinos Matías Zaracho e Cristian Pavón e o chileno Eduardo Vargas. Ao longo da temporada chegaram o uruguaio Mauricio Lemos, o equatoriano Alan Franco e os argentinos Saravia e Battaglia. Com exceção de Vargas, que não terá o contrato renovado, todos eles ficam no Galo.

A presença dos gringos é benéfica para a comercialização e visualização de nossos campeonatos para o resto do mundo – o Velho Continente, por exemplo, cresceu muito na Ásia após passar a contratar jogadores japoneses e sul-coreanos. No entanto, uma abertura maior pode acarretar em um menor espaço para o desenvolvimento das jovens promessas brazucas, ou precipitando saídas em direção à Europa, perdendo assim a empatia do torcedor brasileiro. A Seleção Brasileira talvez seja a prova disso, à medida em que serve de cartão de visitas para jogadores desconhecidos do cenário nacional.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895