Os fatos do ano que foi marcado pela esperança

Os fatos do ano que foi marcado pela esperança

Depois de um 2020 traumático, em razão da pandemia, 2021 começou com a esperança da vacina, que avançou pelo território nacional, alcançando de grandes centros aos mais isolados territórios. Superados os desafios, o país encerra o ano como uma das nações que mais imunizou contra a Covid-19 no mundo. Mas o período também foi de tensão entre os poderes, dramas no futebol, recordes nas Olimpíadas, tragédias e mortes prematuras. Relembre.

Por
Correio do Povo

JANEIRO

Início de ano de esperança e medo

XXI. Sem festas, em razão do cenário de pandemia, 2021 se iniciou com as posses dos novos prefeitos e o forte debate sobre a compra de imunizantes para dar a largada na tão esperada campanha de vacinação contra a Covid-19. No dia 8, Butantan e Fiocruz pediram licença à Anvisa para o uso emergencial da Coronavac e da AstraZeneca, o que ocorreu nove dias depois. Foi assim que, no dia 17 do primeiro mês do ano, o país vacinou oficialmente o primeiro brasileiro contra a doença que parou o mundo. A imagem da enfermeira Mônica Calazans (confira na página 10) é o retrato de um ano marcado pela esperança do retorno à normalidade. Mas, ainda no início do ano, o país enfrentou o pior momento da guerra contra o coronavírus.

Manaus agoniza

As cenas de uma corrida desenfreada de parentes de vítimas da Covid-19 internadas nos hospitais de Manaus por cilindros de oxigênio rodaram o mundo e chocaram o Brasil. A falta do insumo levou a óbito por asfixia dezenas de pessoas. Apesar da rede de solidariedade que se formou, a dificuldade logística em fazer chegar até a capital do Amazonas os cilindros estendeu o drama por vários dias. Na CPI da Covid, instaurada no Senado, uma rede de corrupção envolvendo autoridades municipais e estaduais acabou revelada.

Biden no poder

Após um tumultuado fim de mandato de seu antecessor, Joe Biden tomou posse como o 46º presidente dos Estados Unidos. Tendo como herança um país altamente polarizado politicamente, coube ao novo mandatário convocar a população a se unir para derrotar os desafios sociais, econômicos e, principalmente, sanitários. O país encerra 2021 como a nação com mais casos de infecção e mortes causadas pelo novo coronavírus. Kamala Harris entrou para a história como a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente dos EUA.

FEVEREIRO

Mobilização na guerra contra o coronavírus

Com o quadro da pandemia se agravando e o número de leitos para tratamento de pacientes graves da Covid-19 em escassez em várias regiões do país, o mês de fevereiro foi marcado pela grande mobilização entre os estados e o Ministério da Saúde para remanejar e acolher enfermos. Para o Rio Grande do Sul, até então com um cenário pandêmico sob controle, vieram pacientes de Rondônia e Manaus. A variante Gamma, detectada no Amazonas, era a responsável pelo crescimento rápido de novas internações. A confirmação de que já havia circulação desta mutação do vírus no Rio Grande do Sul ocorreu no dia 11. No mesmo dia, horas após o anúncio, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou a primeira morte relacionada à variante.

Deputado preso

Um episódio de desrespeito às instituições democráticas marcou o início do ano. Após ataques ao Supremo Tribunal Federal e declarações favoráveis à ditadura militar, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) foi preso em flagrante, por ordem do ministro Alexandre de Moraes. A Câmara dos Deputados votou por manter a prisão do deputado, com 364 votos favoráveis e 130 contrários. Ele chegou a ganhar o direito a prisão domiciliar, mas em junho foi preso por violar o monitoramento eletrônico. Voltou a deixar a prisão em novembro.

Calendário atrasado

O mês de fevereiro também foi marcado pelas decisões do mundo do futebol, cujo calendário de 2020 se estendeu pelos primeiros meses deste ano em virtude da pandemia. Pelo Brasileirão, o Inter alimentou o sonho do tetra em uma disputa no topo da tabela com o Flamengo. No último jogo, em casa, um empate sem gols contra o Corinthians entregou o título no colo dos cariocas. O Palmeiras conquistou o bicampeonato da Libertadores vencendo por 1 a 0, em pleno Maracanã, o Santos. Já o Juventude comemorou o retorno para a Série A.

MARÇO

O pior momento da pandemia se revela

Não foi por falta de alerta. O mês de março chegou e com ele um cenário desolador da pandemia no Brasil. O então sistema de Distanciamento Controlado no estado colocou todas as regiões em bandeira preta, suspendeu as reaberturas do comércio e serviços, impôs novas e mais rígidas regras e ativou uma nova fase no planejamento de atendimento da rede hospitalar. Pelo Interior, prefeituras decretaram o fechamento total de cidades. A retomada presencial das aulas foi parar na esfera judicial e uma decisão do TJRS manteve o sistema de aulas remotas. Enquanto setores da economia tentavam conter os impactos causados pelas medidas, os hospitais viram o número de leitos disponíveis desaparecer. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o Rio Grande do Sul ficou sem leitos para atender pacientes. O governo federal desmontou o hospital de campanha do Exército que atendia em Manaus e o trouxe para Porto Alegre. A sobrecarga de atendimento se refletiu nas Unidades Básicas de Saúde, no Samu e até mesmo nos cemitérios. O Estado passou a contar, dia após dia, novo recorde de mortes e chegou ao patamar de 507 em 16 de março. No país, a situação crítica levou a substituição no Ministério da Saúde, com a chegada de Marcelo Queiroga para o posto de Eduardo Pazuello.

Reforma ministerial

Nos últimos dias do mês, Jair Bolsonaro decidiu realizar seis trocas de comando no primeiro escalão do governo. Por forte pressão do Congresso, Ernesto Araújo deixou as Relações Internacionais. Sua atuação considerada ideológica interferiu nas negociações do país por insumos para as vacinas. Já Fernando Azevedo e Silva foi demitido do Ministério da Defesa pelo próprio presidente por divergências na sua atuação. No dia seguinte, o novo postulante da pasta, Walter Braga Neto, anunciou a substituição dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Todos foram pegos de surpresa.

Condenações anuladas

Em 8 de março, o ministro do Edson Fachin, relator da Lava Jato, decidiu anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da força-tarefa. A decisão envolveu quatro processos associados ao petista: o do sítio de Atibaia, o do triplex, o de compra de um terreno para o Instituto Lula e o de doações para o mesmo instituto. O ministro do STF entendeu que a 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba não era o juízo competente para processar e julgar os casos. Quinze dias depois, a Segunda Turma do STF, por 3 votos a 2, reconheceu a parcialidade do então juiz Sergio Moro na condução do processo.

ABRIL

Senado instala CPI e abre embate político

Com o sinal de descontrole da pandemia se repetindo por vários estados brasileiros, o Senado Federal decidiu instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar omissões no combate ao coronavírus no país. Não faltou embate entre governo e oposição e a comissão se tornou um dos principais fatos políticos do ano. Em 69 sessões, participaram representantes de órgãos oficiais, especialistas da área da saúde e infectologia e políticos. A comissão levantou indícios de uma suposta tentativa de compra superfaturada da vacina Covaxin e pagamento de propina na aquisição de doses da AstraZeneca, o que chegou a levar a prisão de Ricardo Dias, solto após o pagamento de fiança. Também foi apontado a demora do governo na compra de imunizantes. Em depoimento, o gerente da Pfizer na América Latina afirmou que a empresa havia ofertado, em agosto de 2020, 70 milhões de vacinas, mas não teve resposta. Ao todo, seriam 101 e-mails ignorados. Casos de corrupção e desvios nos estados também estiveram no alvo, em especial a crise de oxigênio do Amazonas. No relatório final da CPI, apresentado em outubro, os senadores pediram o indiciamento de duas empresas e 78 pessoas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro, os três filhos dele, ministros e parlamentares.

Covid e despedida no Grêmio

O mês começou com um Gre-Nal, na noite do dia 3. Já era madrugada, nos primeiros minutos do dia 4 — data do aniversário colorado — quando Léo Chú marcou o único gol da partida que deu a vitória ao Grêmio na Arena. Na semana seguinte, quando o Tricolor se preparava para viajar para o Equador buscar uma vaga na fase de grupos da Libertadores, um surto de Covid-19 atingiu jogadores, comissão técnica e o próprio Renato Portaluppi. O jogo acabou adiado e mudou de local, sendo disputado no Paraguai. O time perdeu lá e, na volta, perdeu aqui. Acabou eliminado da Libertadores e Renato, depois de quatro anos e seis títulos, deu adeus ao Grêmio.

Caso Henry choca o país

Henry Borel, de apenas 4 anos, morreu após dar entrada em um hospital particular no Rio de Janeiro. O laudo do IML apontou diversas lesões graves no corpo e indicou que a morte foi provocada por hemorragia interna e laceração no fígado causada por ação contundente. Os principais suspeitos são a mãe dele, a professora Monique Medeiros, e o então padrasto, o vereador Dr. Jairinho. O agora ex-casal é acusado de homicídio triplamente qualificado, coação de testemunha e tortura. Presos desde o dia 8 de abril, os dois acompanham as audiências de instrução, etapa do processo em que as testemunhas são ouvidas.

MAIO

Falta de reserva de doses freia campanha

Depois de um período de muitas dificuldades no combate ao coronavírus, o mês de maio trouxe sinais de que o pior, de fato, já tinha passado. Ainda que com inseguranças jurídicas em torno do retorno das aulas, os professores começaram a ser imunizados, o hospital de campanha do Exército foi desmontado e o Ministério da Saúde reiterou a promessa de vacinar toda a população maior de 18 anos até o final do ano. Com novos lotes sendo recebidos, o calendário começou a ganhar velocidade, mas o pé no acelerador também trouxe alguns transtornos, como a falta de doses de Coronavac para a segunda aplicação. Em Porto Alegre, na fria e chuvosa manhã do dia 5 de maio, milhares de pessoas se aglomeraram em gigantescas filas formadas em postos de saúde após a chegada de uma nova carga de imunizantes. A prefeitura reconheceu que errou ao concentrar a aplicação em poucos locais e decidiu suspender a vacinação para reorganizar a logística. O Rio Grande do Sul chegou a contar com mais de 400 mil pessoas na fila pela segunda dose. O impasse levou algumas semanas, mas foi normalizado após a entrega de insumos para a produção da Coronavac ser restabelecido entre China e Brasil.

Ataque em escola de Santa Catarina

Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, invadiu a Escola Infantil Aquarela, no município de Saudades, no oeste catarinense, com uma espada ninja e matou três crianças, uma professora e uma agente educativa no dia 4 de maio. O crime chocou o país. O autor do ataque tentou se matar, mas foi contido por populares e levado ao hospital, onde acabou preso. A investigação apontou que o rapaz acessava conteúdos na deep web e estaria planejando o ataque dez meses antes. Ele teria tentado comprar uma arma de fogo, mas, como não conseguiu, utilizou a espada. A escolha pelo local do atentado se deu, segundo a polícia, pela vulnerabilidade das vítimas.

Tensão entre Israel e Palestina

O mundo voltou a conviver com o temor de uma nova guerra no Oriente Médio. Prédios destruídos na Faixa de Gaza e mortes nos dois lados, inclusive de crianças, alimentaram o clima bélico. No final de mês, um cessar-fogo foi assinado.

Zona livre da aftosa sem vacinação

O reconhecimento da Associação Mundial da Saúde Animal foi muito comemorado pelo setor pecuarista em maio. O selo coroou um trabalho iniciado ainda em 2017 e ampliou as possibilidades de negócio da carne gaúcho no mundo.

JUNHO

Economia dá sinais de fragilidade

A implementação de medidas restritivas para tentar conter o contágio da Covid-19 no país, somados ao cenário internacional instável e um mercado interno arrefecido gerou impactos na economia brasileira, como era esperado. No mês de junho, o governo federal anunciou a redução de 75% na prestação dos imóveis e a prorrogação do auxilio emergencial, pagos em três parcelas de R$ 250, como medida de contenção de danos. A inflação no mês chegou ao maior patamar para um período de 30 dias em 25 anos. Também em junho, o Banco Central elevou a taxa de juros pela terceira vez consecutiva, em um procedimento repetido nas outras quatro reuniões do Copom ao longo do ano, fixando a Selic em 9,25%, ante os 2,00% de dezembro de 2020. O país também teve que conviver com uma crise energética, agravada pelo cenário de seca histórica. O governo passou a adotar uma política de racionamento e ministros apelaram para a população evitar desperdícios. O impacto no bolso do consumidor não passou despercebido. A conta de luz teve reajuste de 52% na bandeira vermelha em junho. A situação delicada perdurou e em outubro foi criada a bandeira de escassez hídrica, que adiciona R$ 14,20 na conta a cada 100 quilowatts-hora consumidos.

Ricardo Salles fora do governo

O Ministério Público Federal pediu afastamento de Salles do cargo de ministro do Meio Ambiente por improbidade administrativa, por considerá-lo responsável direto pelo desmonte do sistema de proteção ambiental do país. No começo do mês, a ministra Cármen Lúcia, do STF, atendeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizou a abertura de inquérito contra Salles. Com intenso desgaste provocado pelas operações Handroanthus e Akuanduba, que o ligaram a negociações de madeira extraída ilegalmente da Amazônia, no dia 24 Salles acabou pedindo exoneração do cargo. Foi o 17º ministro a deixar o governo Bolsonaro.

Copa América no Brasil

Junho foi o mês de seleções no futebol, com o começo da Copa América e da Eurocopa. O torneio sul-americano foi realizado no Brasil, após a Argentina negar receber os jogos em virtude da pandemia, enquanto que no Velho Continente já era possível ter estádios cheios de torcedores. A seleção brasileira dominou a fase de grupos da Copa América e garantiu a classificação antecipada para o mata-mata. A decisão ocorreu no mês seguinte, quando a Argentina venceu o Brasil na final por 1 a 0 e foi campeã, quebrando o jejum que durava 28 anos. Na Euro, um susto tomou todas as atenções. O dinamarquês Eriksen desmaiou em campo e precisou ser atendido com urgência.

JULHO

Incêndio deixa em ruínas coração da Segurança

O dia 14 de julho entrou, de forma trágica, para a história do Rio Grande do Sul. Às 21h30min, no teto de uma sala da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) localizada no quarto andar do prédio-sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, em Porto Alegre, teve início um incêndio que durou três horas, consumiu por completo a estrutura de 11 andares, afetou os serviços de Daer, Detran, Susepe, IGP, Ciosp, Polícia Civil e Brigada Militar, e acarretou na morte do tenente Deroci de Almeida da Costa, de 46 anos, e do sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, 51 anos. Em setembro, um relatório de 79 páginas feito por uma comissão de representação externa da Assembleia Legislativa concluiu de que uma falha elétrica deu início às chamas e que a deficiência no sistema de primeira resposta ao fogo propiciou sua propagação rápida. Conforme o relatório, os extintores do local não foram suficientes para deter o incêndio e o fato de o sistema hidráulico do prédio estar desativado e não haver um plano de contingência levaram ao desabamento de parte da estrutura e na consequente morte dos dois bombeiros. O governo do Estado confirmou que vai demolir o esqueleto que sobrou do prédio.

Bolsonaro cumpre agenda no Estado

O presidente Jair Bolsonaro desembarcou no RS no dia 9 de julho para uma agenda de dois dias em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Porto Alegre. Na Serra, voltou a pedir “eleições limpas” e ao sinalizar que pleito de 2022 poderia estar “ameaçado” sem o voto “auditável e confiável”, gerou reação nos demais poderes. Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, afirmou que “qualquer atuação no sentido de impedir a ocorrência (das eleições) viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade”. Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, assegurou que a Casa “não concorda e repudia a possibilidade de não realizar o pleito”.

Olimpíada de 2020 em pleno 2021

A pandemia trouxe os Jogos Olímpicos do ano passado para junho de 2021, mas um cenário persistente de alta infecção não deixou de afetar a realização da competição no Japão. Sem público e com regras sanitárias mais rígidas, Tóquio promoveu 16 dias de emoções, superações e conquistas entre os atletas de alto rendimento. O Brasil conseguiu o melhor desempenho em toda a história do maior evento esportivo do planeta e encerrou o ranking de medalhas na 12ª colocação. Destaque para os ouros de Ítalo Ferreira no surf e Rebeca Andrade na ginástica artística e as pratas de Kelvin Hoefler e Rayssa Leal no skate.

A neve no Rio Grande do Sul

Sempre aguardada com muita expectativa no Sul no Brasil, a neve não deixou ninguém frustrado em 2021. O amanhecer do dia 28 de julho foi marcado por paisagens brancas e termômetros no negativo em mais da metade das regiões do Estado. A intensidade com que o fenômeno foi registrado foi considerada histórica. Em Caxias do Sul, o Juventude chegou a treinar sobre o campo branco do Alfredo Jaconi. Apesar do encanto para turistas e moradores, o fenômeno também trouxe problemas. Rodovias como a Rota do Sol ficaram interditadas e, em Santa Catarina, um agente da PRF morreu em uma colisão causada pelo acúmulo de gelo na pista.

AGOSTO

Derrota humilhante dos EUA no Afeganistão

O primeiro ano do governo Biden também foi marcado pela saída desastrosa das tropas norte-americanas do território do Afeganistão, depois de 20 anos de ocupação. Um cronograma chegou a ser anunciado, mas acabou sendo apressado depois que o Talibã retomou o controle da capital do país, Cabul, no dia 15 de agosto, provocando desespero em estrangeiros e cidadãos afegãos que colaboraram com os EUA e outros países durante os anos de ocupação. No dia seguinte, o aeroporto foi invadido em busca de uma rota de fuga e houve mortes durante o tumulto. As cenas de terror e medo rodaram o mundo e também marcam o ano (confira na página 10). Poucos dias antes do fim da retirada, um atentado de homem-bomba, do lado de fora do aeroporto, ainda deixou mais de 180 vítimas — a maior parte, civis afegãos. Apesar das promessas de moderação e tolerância, o grupo fundamentalista logo demonstrou que voltaria a impor uma visão ultraortodoxa da lei islâmica. Mulheres voltaram a ser impedidas de viajar sozinhas e foram obrigadas a utilizar véu para cobrir os cabelos. O ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício anunciou outras medidas, como, por exemplo, a proibição de ouvir música nos veículos.

STF manda prender Roberto Jefferson

A Polícia Federal prendeu no dia 13 de agosto o ex-deputado e então presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. A autorização da prisão partiu do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes sob a acusação de participação em uma milícia digital que realizou ataques às instituições democráticas. A organização criminosa teria sido montada, principalmente, para atacar a eleição de 2022. Em outubro, o plenário do STF confirmou o entendimento de Moraes e manteve o ex-deputado preso. Em novembro, também por determinação de Alexandre de Moraes, Roberto Jefferson foi afastado da presidência do PTB.

Voto impresso em debate

O discurso de Bolsonaro em defesa do voto impresso motivou protestos em várias cidades do país, inclusive Porto Alegre, exigindo alterações no pleito de 2022. Houve reação do presidente do STF, Luiz Fux, e do TSE, que determinou abertura de inquérito para investigar ataques às urnas eletrônicas. Bolsonaro, então, respondeu que não aceitaria intimidações: “Minha luta é contra uma pessoa, o ministro que preside o TSE, que se arvora como dono da verdade. Vou continuar expressando meu direto de cidadão”. Na Câmara, contudo, a PEC do voto impresso acabou derrubada por 229 votos favoráveis, 218 contrários e uma abstenção.

SETEMBRO

Tensão entre os poderes chega ao ápice

A defesa do voto impresso, uma das bandeiras do governo Bolsonaro, colocou em rota de colisão os poderes Executivo e Judiciário, uma relação que ficou ainda mais tensa durante o mês de setembro. O ápice foi atingido no Dia da Independência, marcado por protestos em todo o país. Em ato na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Bolsonaro criticou diretamente os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso e chegou a pregar a desobediência a decisões judiciais. "Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse, referindo-se a decisões de Moraes. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”, discursou. Os presidentes do Supremo e da Câmara dos Deputados reagiram e Fux garantiu que ninguém fecharia o STF e Arthur Lira pediu “o fim das bravatas”. A proposta de reunir o Conselho da República, com os presidentes do Congresso e do STF, não recebeu adesão e dois dias depois dos atos, Bolsonaro divulgou uma carta, escrita com o apoio do ex-presidente Michel Temer, em que garantia que não tinha a intenção de atacar Poderes e defendia a pacificação.

Expointer da retomada

Em uma edição marcada pela entrada dos animais no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, sem vacina (contra a Aftosa) enquanto o público entrou vacinado (contra a Covid), os nove dias de Expointer foram considerados um sucesso, ainda que os números tenham ficado abaixo dos registrados em 2019. Mais de 65 mil pessoas visitaram a feira, que movimentou R$ 1,6 bilhão em negócios. A maior parte do resultado financeiro veio do setor de máquinas e implementos, o que superou as projeções do setor. O encerramento teve ainda a presença do presidente Jair Bolsonaro, que recebeu homenagens e foi ovacionado pelos agropecuaristas.

Jogos Paralímpicos

Repetindo o sucesso dos Jogos Olímpicos, em setembro os Jogos Paralímpicos foram encerrados com a melhor participação do Brasil da história. Foram 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes, o que garantiu o sétimo lugar no quadro geral. Subiram ao pódio 14 modalidades distintas, outro recorde.

Clássico interrompido

Uma série de erros culminou com um dos maiores vexames da história do futebol sul-americano. Brasil e Argentina entraram em campo em São Paulo pelas Eliminatórias da Copa no dia 5, quando a Anvisa entrou no gramado e impediu a realização do jogo por descumprimento das regras sanitárias. O jogo acabou adiado.

OUTUBRO

Preço da gasolina e do gás de cozinha dispara

Com o preço do barril do petróleo chegando a subir mais de 60% no mundo desde janeiro e batendo os maiores valores em vários anos, foi difícil não ver o custo de seus derivados também disparando no Brasil. O peso dos reajustes foi piorado ainda pela cotação do dólar, moeda em que o petróleo é negociado internacionalmente e que, no país, ficou persistentemente alta ao longo de quase todo o ano. Em outubro, o litro da gasolina nos postos bateu recordes e, em algumas regiões do Rio Grande do Sul, chegou aos R$ 7. O botijão de gás também sofreu e passou dos R$ 100 na maioria das regiões. Por aqui, encostou nos R$ 140. O desconforto do preço alto levou tanto o governo quanto a Petrobras a criarem programas como o auxílio-gás para as famílias mais pobres. O refino do petróleo em seus vários subprodutos é praticamente monopolizado no Brasil pela Petrobras, que, desde 2016, adota uma política pela qual repassa integralmente para seus produtos as variações dos preços internacionais, medidos pela cotação do barril e do dólar. O peso dos impostos na composição do preço final ao consumidor também entrou no alvo, em especial o do ICMS cobrado pelos estados. O tema provocou confrontos entre os governadores e o presidente Jair Bolsonaro.

Pane nas redes sociais

No dia 4 de outubro, a gigante de tecnologia Facebook enfrentou o maior blecaute de sua história, o que afetou toda a sua família de aplicativos — incluindo WhatsApp, Instagram, Facebook Messenger e Oculus. Foram mais de seis horas de pane total e uma falha de escala global. Com tudo fora do ar, TikTok e Telegram sofreram sobrecarga de acessos e passaram a ficar instáveis. Quinta empresa mais valiosa do mundo, o Facebook viu suas ações despencarem quase 6% em apenas um dia. Ao longo do ano, a empresa — que passou a se chamar Meta — também enfrentou um escândalo de vazamento de dados por um ex-funcionário.

100 milhões de vacinados

Nove meses após o início da imunização contra a Covid-19 no Brasil, o país alcançou uma importante marca na luta contra a pandemia. Em outubro, 100 milhões de brasileiros já estavam com o esquema vacinal completo, o que representava 62,5% do público-alvo determinado no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Durante toda a campanha, o Rio Grande do Sul figurou entre os estados que mais rápido imunizou sua população, em uma corrida do bem onde não houve derrotados. O ano termina com mais de 143 milhões de pessoas completamente imunizadas, o que faz do Brasil uma das nações que mais se vacinou no mundo.

NOVEMBRO

Nova cepa do coronavírus reacende alerta

No fim de novembro, o aparecimento da Ômicron, a variante detectada na África do Sul, colocou em suspenso a esperança de que o mundo poderia voltar a ser como antes em 2022. Mais contagiosa, a cepa parece se propagar tão rapidamente que as ondas epidêmicas se transformam em tsunamis, como rapidamente mostrou a situação no Reino Unido. As mutações da Ômicron na proteína Spike, que o coronavírus utiliza para entrar na célula, a tornam menos sensível às vacinas. Atualmente, já se sabe que, sem uma terceira dose, a proteção seria insuficiente contra infecções sintomáticas, mas os dados preliminares não permitem ainda afirmar se o esquema vacinal com duas doses protege completamente de formas graves nem por quanto tempo. A Pfizer já anunciou que prepara um imunizante específico para a cepa. No Brasil, a confirmação da chegada da variante ocorreu em dezembro, mas a aplicação da dose de reforço já ocorre no país desde setembro. Governos e prefeitos, autorizados pelo Ministério da Saúde, também decidiram encurtar o intervalo entre as doses e acelerar a terceira aplicação, o que faz com que o ano termine com quase 26 milhões de pessoas imunizadas com a dose de reforço.

Promessas pelo fim do desmatamento

Sem condições de ser realizada em 2020 por causa da pandemia, a 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26) ocorreu em Glasgow, na Escócia, em novembro. Cercada de grande expectativa, a reunião teve importantes anúncios de metas voluntárias dos países para “descarbonizar” a economia, mas também decepções. O Brasil comprometeu-se a zerar o desmatamento ilegal até 2028 e assinou acordo, junto com outros 100 países, para reduzir em 30% a emissão do gás metano até 2030. Muitas definições, no entanto, serão tratadas apenas na COP27, em 2022. O Brasil contou com a segunda maior delegação na conferência de Glasgow.

Megaleilão do 5G no Brasil

A implementação do 5G — a quinta geração de internet — no Brasil começou a andar em 2021, com a realização de um leilão para conceder os direitos de exploração de faixas de frequência para empresas de telecomunicação, em novembro. O edital do leilão do 5G contou com uma série de exigências que as dez empresas vencedoras precisarão cumprir. Entre elas está a implementação em todas as capitais do país até julho do ano que vem. Com o leilão, o Brasil passa a integrar a lista de mais de 60 países que possuem rede de 5G e a expectativa é que os próximos anos envolvam a expansão dessa rede pelo mundo e o surgimento de novas aplicações.

DEZEMBRO

Maior julgamento da história do RS

A um mês de completar nove anos da tragédia na Boate Kiss, que matou 242 pessoas em Santa Maria, os quatro réus foram a julgamento no Foro Central de Porto Alegre. O júri popular teve início no dia 1º de dezembro e mobilizou o Rio Grande do Sul, que acompanhou ao vivo os dez dias de sessão. Além das defesas e acusações, testemunhas, incluindo sobreviventes da tragédia, fizeram depoimentos emocionados. Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha e Marcelo de Jesus dos Santos foram responsabilizados levando em consideração o dolo eventual. Às 17h40min do dia 10 de dezembro, o juiz Orlando Faccini Neto anunciou as penas de cada um dos acusados após os jurados se reunirem na sala secreta: Elissandro, 22 anos e 6 meses; Mauro, 19 anos e 6 meses; Marcelo e Luciano, 18 anos. De acordo com a decisão do magistrado, o regime inicial foi o fechado, mas um habeas corpus preventivo concedido pelo Tribunal de Justiça do Estado suspendeu a prisão imediata. O recurso chegou ao Supremo Tribunal Federal, que determinou o cumprimento imediato das penas. Com isso, os quatro réus se apresentaram à Justiça e foram presos.

Vacina para crianças vira polêmica

Apesar de ter conseguido avançar consideravelmente na imunização da população contra a Covid-19, o Brasil encerra 2021 com um tema polêmico: a vacinação de crianças na faixa etária de 5 a 11 anos. Mais de 6 milhões de crianças já foram imunizadas nos Estados Unidos, onde nenhum incidente grave relacionado à imunização foi registrado. Mesmo assim, o Ministério da Saúde sinalizou que deverá exigir prescrição médica para liberar a aplicação. Estados e municípios, contrários à exigência, sinalizaram desrespeitar a determinação. Em meio ao debate, a Anvisa solicitou reforço na segurança depois de receber ameaças.

Fim de ano dramático para o Grêmio

O ponto final de um ano melancólico e de uma fase de conquistas. Este foi o cenário do Grêmio no fatídico 9 de dezembro, quando foi rebaixado pela terceira vez na história. Em uma só temporada, o Tricolor, que ficou em 6° no Brasileirão passado e chegou até a final da Copa do Brasil, viu o projeto consolidado e de saúde financeira do presidente Romildo Bolzan Jr. ruir dentro das quatro linhas, sem nunca deixar o Z4 em todo o campeonato. Foram 38 rodadas e 43 pontos somados, com mais de 19 derrotas e somente 12 vitórias e uma 17ª colocação. Ao longo do ano, foram quatro treinadores: Portaluppi, Tiago Nunes, Felipão e Vagner Mancini, que fica para 2022.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895