Paixão amadora pela bola laranja

Paixão amadora pela bola laranja

Liga de Basquete Amador reúne 30 times, divididos em três divisões e conta com mais de 500 atletas de todo o RS

Por
Victória Rodrigues*

Tornar o basquete um esporte acessível para todos os amantes da modalidade sempre foi um desafio. No Brasil, o esporte ganhou espaço nas quadras das comunidades, que costumavam ser ambientes para diversão e lazer dos jovens. Com o tempo, isso fez com que a paixão pelo basquete amador crescesse e se difundisse entre diferentes idades. No Rio Grande do Sul, a prática amadora também se consolidou entre jovens e adultos, surgindo assim times e ligas locais proporcionando uma plataforma para que jogadores de todas as idades possam aprimorar suas habilidades e competir em um ambiente inclusivo. Enquanto os holofotes se voltam para as ligas profissionais, é no cenário mais humilde que se encontram as raízes genuínas do esporte.

Ancorado a tudo isso e à falta de infraestrutura adequada para os apreciadores do esporte, nasceu a Liga de Basquete Amador de Porto Alegre, (LBA-POA). Criada em 2019, a LBA surge com a ideia de um campeonato de ano inteiro que cuida melhor dos atletas e oferece uma experiência imersiva nas quadras com dois aros. Marco Oliveira, idealizador da iniciativa, começou no basquete aos 12 anos. Jornalista por formação, não deixou de lado o amor pelo esporte nem na faculdade e conta que, quando jovem, não tinha como acompanhar os campeonatos estaduais por não existir transmissão dos jogos. “Eu não sabia o que estava acontecendo porque não tinha nenhum canal para saber das coisas”, relembra. A falta de incentivo persistiu e os times de Porto Alegre sentiram isso. Os jogadores buscaram oportunidades para disputar competições mais longas com uma estrutura voltada para o esporte. “Com isso fizemos a primeira edição, que foi bem simples”, recorda Marco. “Por vários momentos tiramos até do nosso bolso para fazer algumas coisas”, completa. Já na primeira edição, a LBA contou com 18 equipes de todo o Rio Grande do Sul. 

Com a pandemia, o campeonato parou em 2020 e 2021, retornando apenas no ano passado com a segunda edição. Em 2022 já eram 30 times na Liga, foi quando Marco viu a necessidade de nivelar as equipes para que todos os jogadores pudessem ter uma experiência melhor ao se enfrentarem. 
Assim foram criadas as séries Ouro, Prata e Bronze com dez equipes e um campeão em cada uma delas. “O objetivo da LBA é que todo mundo tenha uma experiência boa, todos os times são bem nivelados para poder ter jogos mais parelhos e mais divertidos”, afirma Marco. As disputas da LBA acontecem no bairro Humaitá sempre aos fins de semana, o que facilita a vinda dos times de todo o estado. Além da capital, a Liga recebe equipes de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Canoas.


Maurício (E) foi convidado a disputar a Liga defendendo o Grêmio Náutico Gaúcho (GNG), após seis anos longe do basquete | Foto: Gabriel Heidrich / Divulgação / CP

O retorno para o esporte

O basquete amador não traz apenas uma nova onda de entusiasmo para os aficionados pelo esporte, mas também oferece oportunidades de desenvolvimento atlético e social para os jogadores. Foi o caso de Maurício Machado, jogador da LBA pelo Grêmio Náutico Gaúcho, na série Bronze. O atleta iniciou no meio esportivo através do futebol aos 11 anos de idade. Somente um ano depois foi descobrir o talento com a bola laranja nas mãos. Seguiu na modalidade até os 16 pelo GNG, participando de diversos campeonatos no estado e pelo Brasil. Até que precisou parar de jogar aos 17, por questões financeiras. Foi quando o basquete saiu da rotina. 

Apesar da paixão pelo esporte, ficou até o ano passado sem jogar, até receber o convite de Marco para retornar e ingressar na LBA. “Ele treinava comigo no Gaúcho, foi um dos meus mentores, quem mais me ensinou sobre o basquete”, conta Maurício. A partir daí, voltou com os treinos no clube e iniciou o campeonato. Além de atleta, Maurício ainda teve oportunidade de compor a mesa em alguns jogos e pôde começar um curso para poder se capacitar a apitar as partidas. 
Sobre o retorno, o atleta, depois de tanto tempo fora, só agora se dá conta de como sentia falta de bater bola no cotidiano. “Hoje eu penso em basquete vinte horas por dia”, revela. “Me trouxe de volta para o esporte, tem toda a questão de saúde. É algo de outro mundo”, conclui.


Profissionalismo da organização da LBA é motivo de elogios até mesmo de quem já possui experiência no basquete, caso de Gabriel Echer (C), jogador de Caxias do Sul, que atua no Recreio da Juventude | Foto: Murilo Martins / Divulgação / CP

Organização chama a atenção

Até mesmo os que já têm experiência em grandes competições de basquete se impressionam com a organização da LBA. É o caso de Gabriel Echer, jogador de Caxias do Sul, que participa da Liga defendendo o Recreio da Juventude. Ele iniciou no basquete com 9 anos e seguiu uma rotina profissional até os 23. Ao longo da breve carreira, Gabriel integrou a Seleção Gaúcha e participou de campeonatos nacionais representando o estado. Até que sofreu uma lesão séria no músculo posterior da coxa e foi forçado a parar. Mesmo assim continuou praticando o esporte de forma amadora pelo time que defende na LBA, mas sem participar de grandes campeonatos. Chegou a ser convidado para compor a Liga ano passado, quando defendeu o Recreio da Juventude um dos representantes da Serra Gaúcha na competição. 

Quando ingressou na LBA, Gabriel ficou impressionado com o profissionalismo do torneio. “Conseguiram organizar um campeonato que quase sempre existiu, mas disponibilizando, por exemplo, transmissão dos jogos, as estatísticas dos jogadores, promovendo o MVP das partidas”, explica. “A gente vê um status de sofisticação em termos de acesso a informação que em campeonatos estaduais que eu tive a chance de jogar não se enxergava esse tipo de qualidade”, completa. Para Gabriel, a LBA incentiva a propagação da modalidade no Rio Grande do Sul, além de conseguir reunir os amantes do esporte de diferentes cidades do estado. “O basquete é um agente integrador, então ter pessoas que vão motivar a praticar essa atividade é uma forma de conseguir desenvolver a nossa própria comunidade também”, conclui.

*Sob a orientação de João Paulo Fontoura

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895