Pandemia fez consumo de pescado encolher

Pandemia fez consumo de pescado encolher

Pesquisa da Embrapa aponta que brasileiros comeram cerca de 30% menos peixe durante os últimos dois anos por acharem o produto muito caro e difícil de achar e também por dúvidas sobre contaminação pelo Sars-CoV-2

Por
Nereida Vergara

A curva de crescimento do consumo de pescado no Brasil, que se registrava até 2019, foi interrompida pela pandemia. Pesquisa divulgada pela Embrapa Pesca e Aquicultura, na última semana, indica que os brasileiros consumiram 29,92% menos pescado desde fevereiro de 2020 e que 4,27% eliminaram totalmente da dieta este tipo de proteína. O levantamento indica que 40,31% dos entrevistados apontou a alta de preços como responsável pela alteração no hábito alimentar; 17,38% acusaram a falta de disponibilidade do alimento; e 11,40% relataram queda na qualidade dos produtos.

De acordo com o coordenador da pesquisa, analista da Embrapa Diego Neves de Sousa, ao longo da pandemia aumentou a preferência do consumidor por peixes e frutos do mar congelados, revelando a preocupação com a compra de produtos contaminados por coronavírus. Sousa afirmou que o estudo, mesmo que de forma amostral (foram entrevistadas 702 pessoas nas cinco regiões do Brasil), evidenciou prejuízo às economias locais e aos produtores/pescadores que dependem da renda desse setor para sobreviver. O analista ressalta que o segmento pesqueiro/aquícola vinha crescendo nos últimos 40 anos e que isto ocorreu pelo comportamento do consumidor, mais afeito à alimentação saudável.

Do ponto de vista do beneficiamento do pescado, a pandemia também afetou os frigoríficos. A pesquisa, que analisou 13 empresas do ramo, identificou que durante o período caiu em 46% a oferta de matéria-prima, com queda de 61% nas vendas globais do segmento. As empresas, diz o estudo, em 54% dos casos enfrentaram problemas na aquisição de insumos, como embalagens, material de limpeza e equipamentos de proteção individual. “A pesquisa mapeou até que ponto a cadeia da aquicultura foi afetada, visando à proposição de políticas públicas para incentivo à retomada do consumo, como desoneração fiscal da ração do pescado, por exemplo”, pontua o pesquisador Roberto Manolio Valladão Flores, chefe de Transferência de Tecnologia da unidade da Embrapa localizada no Tocantins.

A pesquisa foi mais longe

Para a chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Danielle de Bem Luiz, a pesquisa foi mais longe e ajudou no entendimento sobre o período de incertezas que o país viveu. Segundo ela, além de demonstrar os problemas enfrentados pela cadeia produtiva, como o aumento de custo, também realçou as dúvidas que se tinha quanto à contaminação dos alimentos pelo Sars-CoV-2, o que reduziu especialmente o consumo de produtos frescos e manipulados por restaurantes. 

Embora a pesquisa contemple os Estados do Sul, o Rio Grande do Sul tem um comportamento bastante particular em relação ao consumo de pescado. A extensionista do Escritório Regional de Porto Alegre da Emater/RS-Ascar Ana Luiza Spinelli explica que o consumo de peixe no Estado é notado mais acentuadamente no período da Semana Santa, com a realização de centenas de feiras espalhadas pelos municípios gaúchos. "É um consumo sazonal. O que se observou nos últimos dois anos, em razão da pandemia, foi o temor do consumidor de que não conseguisse o peixe fresco para consumir naquela época, já que muitas feiras deixaram de acontecer", comenta.

Correio do Povo
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