Preparada para o desafio em Pequim-22

Preparada para o desafio em Pequim-22

Aos 27 anos, radicada no Canadá, a gaúcha Nicole Silveira será a responsável por colocar, pela primeira vez na história, o Brasil na disputa do skeleton em uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno

Com apenas quatro anos praticando o skeleton, a gaúcha Nicole Silveira vai para a sua primeira participação nos Jogos Olímpicos de Inverno e entra para a história do esporte brasileiro como a primeira a disputar uma prova na modalidade. Nicole acumula bons resultados nos últimos anos e em 2020 marcou presença no pódio em oito competições

Por
CARLOS CORRÊA

Em se tratando de esportes, Nicole Silveira já fez de tudo um pouco. Desde que os pais a colocaram em uma escola de dança, ainda com 2 anos de idade, o currículo só fez crescer: ginástica artística, futebol, vôlei, fisiculturismo e bobsled. Com um histórico desse naipe, não chega a ser surpreendente que a atleta, agora com 27 anos, esteja prestes a estrear em uma edição de Jogos Olímpicos. Também não é de se estranhar que seja com uma modalidade não citada e não exatamente das mais conhecidas do grande público: skeleton, em que o atleta utiliza um trenó sem freios para descer uma pista de gelo, frequentemente atingindo velocidades acima de 100km/h. “De um jeito ou de outro, todos esses esportes me prepararam para o skeleton. Todos são muito diferentes, só que todos me levaram à atleta que eu sou hoje. Sem as demais modalidades, eu não seria quem eu sou hoje”, observa.

Nascida em Rio Grande há 27 anos, Nicole não apenas vai participar pela primeira vez dos Jogos Olímpicos de Inverno, como chega a Pequim-22 cotada a ter um dos melhores resultados entre os dez atletas brasileiros que vão disputar a competição. “Não imaginava estar aqui em tão pouco tempo com esperança de resultado. Quanto mais eu penso nisso, mais penso em não ir com nenhuma expectativa de resultado. Quando eu quero muito um resultado, isso me atrapalha muito. Meus melhores resultados foram quando eu estava me divertindo. Então, com a diversão espero conseguir um resultado bom. Espero chegar lá sem pressão e sem estresse”, avisa.

Não que a gaúcha não tenha administrado altas doses de estresse ultimamente. Nicole mudou-se com a família para Calgary, no Canadá, ainda criança. Lá, em paralelo à vida esportiva, tornou-se enfermeira. Logo, como todos no planeta, mas principalmente os trabalhadores ligados à área da saúde, teve o mundo virado de cabeça para baixo de 2020 para cá, a partir da pandemia da Covid-19. Trabalhando na linha de frente do combate à doença, encarou desafios muito acima de quem chega em primeiro lugar ou quem consegue o melhor tempo.

Com a proximidade dos Jogos, contudo, a atleta teve que gerenciar seus limites. “Esse último ano me ajudou a saber como cuidar de mim mesma e dos outros. Acho que o mais difícil foi achar o balanço entre o treinamento e o trabalho. Por conta da pandemia, os hospitais precisavam muito de enfermeiras, trabalho havia de sobra. Então foi difícil saber dizer não por ter horários de treino. Havia dias que eu fazia os dois treinos de manhã e ia trabalhar à tarde ou o inverso, foi correria. Eu amo o que eu faço, não me arrependo de nada, o que foi difícil foi achar esse balanço entre não trabalhar muito e poder treinar”, revela.

À medida que os Jogos passaram a se aproximar, também aumentou a expectativa em torno de Nicole. Também pudera, os resultados eram todos empolgantes. Em um intervalo de quatro semanas no ano passado, ela subiu oito vezes ao pódio: foram cinco ouros em etapas da Copa América e outros três bronzes na Copa Intercontinental, todos inéditos para o Brasil. Aliás, a própria participação brasileira no skeleton nunca havia acontecido em Jogos de Inverno. Uma das competições foi justamente o evento teste na pista onde serão disputadas as provas dos Jogos de Inverno. O que não deixa de ser uma vantagem, já que, à exceção das chinesas, é uma pista pouco conhecida das atletas. “Vamos todas ter a mesma experiência, isso deixa a competição mais igual”, diz a brasileira.

Apesar das marcas, Nicole tem ciência que subir no pódio olímpico em Pequim-22 não é impossível, mas no momento, ainda improvável. A meta, por enquanto, é terminar as provas no Top 10. E, talvez o mais importante, popularizar um esporte ainda pouco conhecido no país: “Esse é o grande objetivo. Outro dia, fui em um evento com brasileiros e levei o equipamento para mostrar para crianças e adolescentes. Tem sido bom divulgar o que é o skeleton, que é uma modalidade não tão conhecida. Se eu ajudar a abrir mais espaços, vai ser muito bom”.

Atleta gaúcha Nicole Silveira participará das Olimpíadas de Inverno 2022 | Foto: IBSF / DIVULGAÇÃO / CP


Recordista, Jaqueline vai para a 8ª edição

Para boa parte dos atletas brasileiros que estarão nos Jogos de Pequim-2022, a experiência de participar de uma competição deste porte é nova. Destes, quem estiver mais curioso pode perguntar para outra representante na delegação. Afinal de contas, ninguém é tão experiente em Olimpíadas quanto Jaqueline Mourão. Aos 46 anos, a mineira vai para a sua oitava participação, entre Jogos de Verão e de Inverno.

Engana-se, no entanto, quem acha que as passagens anteriores fizeram com que o sentimento seja mais brando ao pisar novamente na Vila Olímpica. “A emoção é a mesma. Trabalhei muito para estar aqui e é uma emoção muito grande ter a chance de fazer história”, afirma a atleta que vai competir no esqui cross country e que há menos de um ano estava em Tóquio lutando por uma medalha olímpica nas provas de mountain bike, uma modalidade do ciclismo.

“Foi desafiador, já havia feito essa balança entre Jogos de Verão e Inverno, mas essa transição foi muito desafiadora, porque antes dos Jogos de Tóquio, eu tive que classificar o Brasil para os Jogos de Pequim e depois voltar e competir em julho, ainda mais machucada, com uma lesão no ombro. Mas são esportes muito parecidos fisicamente”, descreve ela, celebrando o fato de ter alcançado o que acredita ser a preparação ideal para a prova dos 10 quilômetros. “É a prova que demanda mais tempo até estar totalmente adaptada e estou feliz porque fiz o meu melhor tempo na etapa da Sérvia da Copa Continental”, completa a brasileira.

Jaqueline aprendeu a não fazer previsões sobre o futuro no esporte. Por enquanto, só adianta que mais do que resultados, espera servir de modelo para as novas gerações: “Talvez eu possa inspirar outras pessoas comuns como eu que sonharam alto e mostrar que é possível chegar a uma Olimpíada”.

Aos 46 anos, a mineira Jaqueline Mourão é a recordista brasileira em participações de Jogos Olímpicos, tendo já disputado tanto edições de Jogos de Verão, nas provas de ciclismo mountain bike, como também Jogos de Inverno, nas disputas do esqui cross country | Foto: CHRISTIAN DAWES / COB / DIVULGAÇÃO / CP

Brasileiros em Pequim-2022

A equipe brasileira terá 11 atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno, sendo dez titulares e um reserva

ESQUI CROSS COUNTRY 
MANEX SILVA
Provas: Esquiatlo / 15km / Sprint / 50km Largada em Massa
Experiência nos Jogos:
Estreante 
 
JAQUELINE MOURÃO
Provas: 10km / Sprint / Sprint por Equipes
Experiência nos Jogos:
Turim-2006, Vancouver-2010, Sochi-2014, PyeongChang 2018 (Jogos de Inverno) Atenas-2004, Pequim-2008 e Tóquio-2020 (Jogos de Verão) 
 
EDUARDA RIBEIRA
Provas: 10km / Sprint / Sprint Por Equipes
Experiência em Jogos:
Estreante
 
ESQUI ALPINO 
MICHEL MACEDO
Provas: Slalom / Slalom 
Gigante
Experiência nos Jogos:
PyeongChang-2018  
 
ESQUI ESTILO LIVRE  
SABRINA CASS
Prova: Moguls
Experiência nos Jogos:
Estreante
 
BOBSLED 
EDSON BINDILATTI
Prova: 2-man e 4-man
Experiência nos Jogos:
Salt Lake City 2002, Turim 2006, Sochi 2014 e PyeongChang 2018
 
EDSON MARTINS
Prova: 2-man e 4-man
Experiência em Jogos:
Sochi 2014 e PyeongChang 2018 
 
ERICK VIANNA
Prova: 2-man e 4-man
Experiência em Jogos:
PyeongChang 2018 
 
RAFAEL SOUZA
Prova: 4-man
Experiência em Jogos:
PyeongChang 2018  
JEFFERSON SABINO
Prova: 4-man
Experiência em Jogos:
Estreante
 
SKELETON 
NICOLE SILVEIRA
Experiência em Jogos:
Estreante

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895