Procura aquecida

Procura aquecida

Alta cotação dos grãos e da carne bovina provoca uma corrida às compras e arrendamentos de terras

Por
Taís Teixeira

As altas cotações que os grãos vêm mantendo desde o ano passado e em plena colheita neste ano aqueceram também o mercado de terras no Rio Grande do Sul. Entre os agentes imobiliários rurais a percepção é de que a demanda por aquisições deu um salto nos últimos meses. Um deles, Maurício Escobar, proprietário da imobiliária Estância do Pampa, de Porto Alegre, também percebe que, nos últimos dois anos, o perfil de comprador mudou e incluiu, além do tradicional produtor rural, também empresários, investidores ou proprietários que venderam uma área e levaram suas atividades para outro lugar. Há casos de produtores que procuram mais áreas para arrendar e comprar, inclusive no Uruguai, e também que remanejam o uso que fazem de sua propriedade para aproveitar melhor os bons resultados que a atividade vem dando. O diretor comercial da Estância do Pampa, Alexandre Gama, calcula que nos últimos seis meses houve avanços de 60% na procura por áreas rurais, de 200% nos negócios fechados e de 10% a 52% no preço de venda, que varia conforme a região, ao mesmo tempo em que as operações de arrendamento tiveram oscilação pequena.

Em Santa Maria, o corretor rural e proprietário da imobiliária Nilo Imóveis, Nilo Ourique, qualifica a demanda como “absurda” a partir do segundo semestre do ano passado. “A procura aumentou 100%, os negócios efetivados e os preços de venda subiram 30% e o arrendamento se manteve em relação ao mesmo período de 2019”, relata. Para Gama, o movimento em busca de terras está diretamente ligado à alta das cotações dos grãos e do gado. Segundo a Emater/RS-Ascar, os preços médios praticados no período de 29 de março a 2 de abril no Estado chegavam a R$ 87,03 pela saca de 50 quilos de arroz, R$ 162,57 pela saca de 60 quilos de soja e R$ 9,67 pelo quilo do boi gordo.

O diretor da Estância do Pampa observa que na Região da Produção, ao Norte do Estado, onde a moeda é a saca de soja, o hectare pode custar 1 mil sacas de soja, que, convertidas em reais, correspondem a R$ 170 mil. A média na região Norte é entre 450 a 1.200 sacas de soja por hectare. “No Centro do Estado, os preços atualmente variam de R$ 25 mil a R$ 45 mil por hectare”, comenta Gama. A Metade Sul e região da Campanha têm áreas de R$ 17 mil a R$ 40 mil por hectare. No Litoral, os valores ficam entre R$ 18 mil a R$ 30 mil por hectare. Já o hectare de campos para pecuária varia de R$ 4 mil a R$ 13,5 mil no Estado.

Segundo diferentes agentes, a “estabilidade” dos arrendamentos deve ser vista num patamar alto. Os valores pela cessão temporária de terras para plantio de soja variam de 16 a 26 sacas por hectare no Norte do Estado e de 6 a 14 sacas no Sul. Já para o cultivo do arroz, na Metade Sul e Planícies Costeiras, fica entre 26 a 40 sacas, com fornecimento de água incluído, e de 12 a 15 sacas por hectare, somente pela terra. Para a pecuária, os preços anuais vão de 35 quilos a 63 quilos de boi gordo por hectare.

Ourique avalia que a região Centro-Sul tem se destacado principalmente em função do menor preço do hectare em comparação com a região Norte, já consolidada como produtora de soja. Isso tem feito com que produtores do Norte estejam arrendando no Sul para ampliar as áreas. O corretor de Santa Maria constata que, desde 2004, nunca viu um trimestre começar tão movimentado como o primeiro de 2021. Observa, ainda, que o contrato de arrendamento prevalece sobre compra e venda e tem uma validade mínima de três anos.

Ampliações

Entre os produtores rurais, muitos estudam o momento para decidir se é hora de expandir as lavouras. Márcio Grings cultiva 2 mil hectares próprios em Cruz Alta, é arrendatário de mais 3,5 mil hectares em seis propriedades (duas em Rio Pardo, uma em Pedro Osório, uma em Minas do Leão e duas em Arroio Grande) e está avaliando se amplia a área, usando do mesmo instrumento, com mais 1 mil hectares em Arroio dos Ratos. “O preço da soja estimula o investimento que eu já planejava fazer nessa região e ajuda a recuperar a perda de 50% que tive no ano passado por causa da seca”, comenta.

O empresário Valdir Engelman, dono da marca de calçados masculinos Pegada, investe no meio rural há 20 anos. No ano passado, comprou uma propriedade de 1 mil hectares no Uruguai movido pela percepção do bom desempenho dos preços do arroz e da carne. “Adquiri essa área para integração lavoura-pecuária de corte devido à alta dos valores e para atender a demanda por comida”, destaca. Engelman entende que a pandemia mudou os hábitos e percebe que hoje as pessoas preparam os seus alimentos em casa, o que desencadeia a necessidade de colocar mais produto no mercado.

O produtor e presidente do Sindicato Rural de Viamão, Roberto Goulart Canquerini, voltou ao arroz e investiu pela primeira vez na soja na safra 2020/2021. Há 30 anos, ele conciliava gado com arroz. Na safra 2019/2020 optou somente pelos bovinos por causa dos baixos preços do grão. Agora está usando 100 dos 400 hectares para cultivar arroz, 55 para soja e o restante para a pecuária de corte. “Observei a cotação em 2020, a falta de produto no mercado, e resolvi voltar para o arroz”, revela.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895