Produtor começa a segurar os butiás no bolso

Produtor começa a segurar os butiás no bolso

Demanda promissora ao consumo da fruta, tanto in natura como de seus alimentos derivados, estimula agricultores a iniciar plantio comercial dos primeiros butiazeiros no Rio Grande do Sul, onde a exploração ainda é extrativista

Por
Lucas Keske*

Foram necessários 15 anos de pesquisas e experimentos práticos liderados pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (DDPA/SEAPDR) para que os primeiros produtores começassem a se questionar se os butiás realmente deveriam sempre cair do bolso, como prega a expressão popular gaúcha (“me caiu os butiá do bolso”). 

A coragem partiu do estudo realizado pelos pesquisadores do DDPA Gilson Schlindwein e Adilson Tonietto, e do “Diagnóstico de extração, processamento e comercialização de produtos oriundos de butiazais no RS”, realizada pelo mesmo departamento, em parceria com a Emater/RS-Ascar. Os levantamentos constataram que há um subaproveitamento da cultura no Estado, o que pode abrir portas à sua exploração para ampliar a geração de renda no campo. Também indicam espaço à comercialização do butiá tanto in natura como de seus alimentos derivados. Isso porque 84,8% da produção atual do Estado, atualmente, é usada para consumo próprio, sendo menos de 10% é comercializada. Já as vendas, quando ocorrem, dão-se por meio de produtos processados artesanalmente, como suco, cachaça e licor. Porém, a falta de estrutura de processamento à fruta foi relatada por 45% dos produtores e 39% dos técnicos entrevistados. De acordo com Schlindwein, o objetivo do plantio comercial não é acabar com o extrativismo, mas incentivar a implantação da cultura.

O desafio é capitaneado por um grupo de 50 agricultores, orientados por Tonietto e ele. Um dos participantes é Fabiano Minozzo, de Nova Prata. As 500 mudas de três variedades lhe foram doadas pela SEAPDR em setembro de 2019, quando foram alocadas em grandes vasos. A transferência para o campo ocorreu recentemente (foto), trazendo-lhe a expectativa de expandir o negócio, inclusive, para uma agroindústria voltada ao processamento da fruta. “O açaí ganhou destaque nos últimos anos. É um possível caminho para o butiá também”, comenta. 

Com expectativa de começar a colher em, no mínimo, quatro anos, o agricultor também investe na produção de mudas e sementes, tanto para ampliar o próprio cultivo como comercializá-las. “Inclusive, quem quiser compartilhar sementes de butiás doces e graúdos pode me procurar, pois tenho interesse em outras variedades”, diz. Schlindwein reforça a importância dessa produção, que não é feita suficientemente pelo Estado. “Nossa ideia é dar o pontapé inicial com as orientações do cultivo, mas não podemos assumir esse papel de produtor de mudas. É um trabalho de fomento para que, no futuro, o Fabiano e outros viveiristas atendam a essa demanda”, diz.

O assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Adrik Francis Richter, lembra que o cultivo ainda é incipiente nas propriedades familiares e, por isso, requer investimento com relação ao manejo e à tecnologia. Paralelamente a isso, ressalta a necessidade de haver trabalho de comunicação para estimular o consumo. 

*Sob supervisão de Thaise Teixeira.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895