Programa no RS incentiva a pesquisa na escola

Programa no RS incentiva a pesquisa na escola

Com o objetivo de instigar estudantes a investigarem suas áreas de interesse, professor desenvolve proposta científica

Por
Ana Julia Zanotto*

O que é ciência? Foi com este questionamento que o professor Rudinei Augusti instigou educadores presentes no 17º Congresso do Sinepe/RS a pensarem sobre o conceito de produção científica. Em apresentação interativa, realizada no 2º dia do evento, na Capital, em 20/7, o palestrante abordou o projeto de incentivo à pesquisa, que desenvolveu no Colégio Salesiano Dom Bosco, em Santa Rosa, com estudantes do 2° ano do Ensino Médio.

Rudinei entende que é necessário desmistificar a pesquisa científica e pensá-la também na área de Humanas, buscando compreender a sociedade. “Precisamos reconstruir a ideia de ciência, pois quando falamos nela, os alunos entendem ciências da natureza, e parece que isso vai deixando as ciências humanas esquecidas”. 

O projeto “A pesquisa como princípio formativo nos Itinerários Formativos” foi desenvolvido na disciplina de Tecnologia e Recursos Digitais, na Trilha de Aprendizagem das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA). Com a finalidade de unir objetivos de vida dos estudantes às suas expectativas acadêmicas, o professor propôs que cada aluno criasse um projeto de pesquisa relacionado à sua profissão de interesse. 

O primeiro passo foi identificar graduações capazes de se encaixar na trilha CHSA, a partir da provocação: “se eu fosse realizar uma pesquisa sobre um assunto que me interessa, em qual área seria?”. Cada aluno fez buscas em sites de universidades para investigar cursos, ações de extensão, linhas e temas de pesquisa.

Com a área de interesse definida, os estudantes partiram para a revisão de literatura, para saber o que já havia sido produzido sobre aquele tema. Definiram um problema a ser investigado, uma justificativa, hipóteses, teorias, objetivos e metodologias. E, por fim, compartilharam os seus projetos com colegas e professores.

Para Rudinei, a pesquisa deve ser a base da educação escolar, pois “inclui a oportunidade emancipatória do sujeito”. A partir da aproximação do aluno com a ciência, ele deixa de ser somente um ouvinte e passa a participar do processo de aprendizado, compartilhando conhecimento. “E hoje temos um cenário em que o professor também aprende com o aluno”, complementa.

A partir de depoimentos de alunos, exibidos no Congresso, foi possível perceber a importância de atribuir autonomia aos discentes no processo de pesquisa. “Nosso diferencial foi que os alunos foram atrás de seus projetos. Então, cada ideia de tema surgiu deles.”

O estudante Rafael Lemos Berwig considera que esse trabalho permite adquirir uma noção do que irão vivenciar no mundo acadêmico. “Creio que é algo muito essencial para a nossa formação acadêmica, profissional e realização pessoal como um todo.” E Victoria Padilha, aluna que desenvolveu um projeto de pesquisa sobre Direito Penal e as desigualdades raciais nesse campo, no RS, conta que, através da disciplina, pode ter mais contato com sua área de interesse dentro das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Pesquisas

Nas opções de cursos à disposição dos estudantes que optaram pelo Itinerário de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas estavam: Ciência Política, Educação, Filosofia, Sociologia, História, Comunicação, Direito, Economia, Turismo, entre outros.

Os projetos de pesquisa apresentaram questionamentos variados. Da Psicologia Clínica ao Direito Penal, os interesses variaram e abrangeram diversas áreas. 

Para o professor – que afirma que cientista não é somente aquele que usa jaleco branco em um laboratório –, “o conhecimento tem validade quando é popularizado”. Portanto, a pesquisa e a disseminação da informação são imprescindíveis para a formação dos estudantes, além de incentivar a continuidade de estudos e a possibilidade de formação acadêmica. E após sua segunda participação no Congresso do Sinepe/RS, Rudinei destaca a relevância dos debates e discussões propostas. “Os temas foram pertinentes, e acho que todos trouxeram o contexto da Educação atual.”

Projetos

Alguns dos projetos de pesquisa desenvolvidos pelos alunos do 2° ano do Ensino Médio do Colégio Salesiano Dom Bosco, com o professor Rudinei, em Santa Rosa, foram: 

  • A desigualdade de gênero dentro do mercado de trabalho.

  • Marginalização social e escolaridade: um histórico problemático.

  • Influência da desigualdade social no direito penal.

  • Neuropsicologia: a perda de memória dos jovens contemporâneos.

  • Moda: como estilistas encontram inspiração.

  • Psicologia infantil: processos educativos.

  • Desenho industrial: ilustração no desenho industrial.

  • Economia global: finanças internacionais.

  • Auxílio da Psicologia Clínica no meio hospitalar com enfermidades.

  • Análise e desenvolvimento de sistemas. 

 

"O projeto tem que desafiar o professor a entender o que está sendo desenvolvido na universidade", Rudinei Augusti, professor 

 

*Sob supervisão de Maria José Vasconcelos

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895