Projeto aproxima, com sucesso, apicultura e soja

Projeto aproxima, com sucesso, apicultura e soja

Observação de boas práticas no cultivo da oleaginosa e na manutenção de apiários, proposta pela Embrapa desde o ano passado, melhora produtividade da cultura e minimiza a mortalidade de abelhas pelo uso inadequado de defensivos

Por
Patrícia Feiten

Conscientizar o setor agrícola sobre a importância da polinização desenvolvida pelas abelhas para a produção de alimentos, assim como da proteção desses insetos no campo, é um dos pilares do trabalho da Embrapa. Desde o ano passado, a unidade Embrapa Soja, com sede em Londrina, no Paraná, vem conduzindo um projeto em três regiões brasileiras para incentivar a integração entre apicultura e sojicultura. Iniciado na safra 2022/2023, o estudo se baseia na definição de boas práticas de manejo para orientar os produtores de ambas as atividades. O município de São Gabriel é o ponto de partida da iniciativa, que inclui Maringá (PR) e Dourados (Mato Grosso do Sul), e já tem resultados positivos.

De acordo com a Embrapa Soja, o projeto envolve grupos de proprietários de até cinco apiários e sojicultores situados nas proximidades dessas colmeias. O pesquisador Décio Gazzoni lembra que, nos últimos anos, apicultores brasileiros vêm registrando perda de abelhas nas colmeias. Essa mortalidade, segundo o especialista, é resultado da não observação das boas práticas agrícolas e apícolas. “Quando obedecidas, eliminamos esse problema. Foi o que aconteceu no trabalho em São Gabriel. Em todos os casos (observados) naquela região, chegamos ao final da safra de soja sem a mortalidade de uma única colônia de abelhas”, afirma Gazzoni.

As recomendações definidas pela Embrapa Soja serão posteriormente divulgadas em uma cartilha de medidas sustentáveis, a cargo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). “Ela vai servir como referência para treinamento de agricultores e apicultores em todo o Brasil. Só que, antes, a metodologia científica indica que a gente teste isso. Então, por dois anos, estaremos testando em diferentes locais do Brasil”, detalha o pesquisador. Para validar o modelo tecnológico baseado em boas práticas, a Embrapa firmou um acordo de cooperação técnica e financeira com a Bayer.

Segundo Gazzoni, existem no Brasil cerca de 3 mil espécies de abelhas – a criação dos insetos com ferrão é chamada de apicultura, e a meliponicultura é a atividade desenvolvida com as abelhas silvestres, sem ferrão. Da perspectiva do agronegócio, o serviço ecossistêmico de polinização promovido pelos insetos beneficia a produção de inúmeras culturas, como morango, maçã, pera, melão e maracujá. “É o que está chamando atenção na agricultura brasileira e no Rio Grande do Sul, particularmente. Os apicultores estão descobrindo que a soja é o que se chama de um bom pasto apícola, ou seja, as flores de soja fornecem recursos como néctar e pólen para as abelhas”, explica Gazzoni.

No caso da soja, destaca o pesquisador, a floração da cultura ocorre do final da primavera, em dezembro, ao início do outono, em março. É esse período, em que poucas plantas silvestres estão floridas, que os apicultores vêm aproveitando para colocar as colmeias perto das lavouras de soja. “O que se fazia anteriormente era fornecer alimento artificial para essas abelhas. No Rio Grande do Sul, existe muito eucalipto, eles tinham de fazer melaço, para que as suas colônias se mantivessem vivas e ativas até a próxima florada”, diz o pesquisador. O meio ambiente também se beneficia do trabalho dos insetos. “Elas polinizam também plantas nativas e silvestres e com isso perpetuam as florestas”, conclui Gazzoni.

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