Promessa gaúcha do skate

Promessa gaúcha do skate

Com 13 anos de idade, Sofia Godoy faz parte da Seleção Brasileira permanente de Skate (Olímpica) e é a número 1 do Estado

No seu primeiro torneio, em 2021, durante o circuito da Liga Nacional Amador de Bowl, ela chamou a atenção, ao terminar em terceiro lugar na classificação geral

Por
CHICO IZIDRO

A aventura de Sofia começou há pouco mais de três anos. A garota de Campo Bom se dedicava aos estudos, e nada de praticar esportes. Até o dia em que, pouco antes da pandemia do coronavírus, no final de 2019, decidiu acompanhar o pai, Douglas, e um amigo dele para andar de skate em Sapiranga. Ela levou seu roller, mas, curiosa, pediu ao pai para experimentar o skate dele. Foi paixão à primeira vista.

Sofia Godoy tem 13 anos (vai completar 14 em janeiro de 2023), está na oitava série na Escola Municipal Ensino Fundamental CEI (Centro de Educação Integrada), de Campo Bom, e treina praticamente todos os dias na Orla do Guaíba, em Porto Alegre. E, apesar da idade, já faz parte da Seleção Brasileira permanente de Skate (Olímpica) e é a número 1 do Estado. A garota conta que virar skatista transformou sua vida. De menina tímida, sem amigos, passou a cultivar amizades e ganhar o mundo. “É até bem engraçada esta questão da timidez”, conta Sofia. “Na pista, eu até que não sou nada tímida. Mas ainda tenho um pouquinho, tipo para conversar com outras pessoas, e quando tem alguma entrevista e tal. Eu demoro um pouquinho para me soltar, porém, quando me solto, fica tranquilo”, se diverte. Quando compete, Sofia garante ser uma outra pessoa. “Na pista, eu sou outra pessoa. O entorno desaparece, só eu ali competindo, andando”, revela. “Quando eu estou competindo, nunca deixo de estar sorrindo, de estar feliz, porque estou fazendo o que amo, o que gosto de fazer. E com as pessoas que gosto ao meu redor. Então é muito legal.”

A partir do momento em que experimentou o skate, Sofia não largou mais. O aprendizado e manhas da modalidade foram absorvidos muito rapidamente, como se ela tivesse nascido para praticá-lo. No primeiro torneio do qual participou, no final de 2021, durante o circuito da Liga Nacional Amador de Bowl (LAB), em disputa com skatistas de todas as idades, ela já chamou a atenção, ao terminar em terceiro lugar na classificação geral.

Sofia tem uma jornada diária pesada. Pela manhã, a escola, à tarde, depois do almoço, treinos na pista localizada na Orla do Guaíba. “Alguns dias a gente vem para a orla, eu também tenho pilates, funcional, inglês”, destaca Sofia. “Uma coisa boa é que eu estudo pela manhã, e aí consigo treinar à tarde”, disse. Em relação à pista porto-alegrense, Sofia garante que “é um skate park completo, bem difícil”. Há pouco, ela passou 40 dias fora de casa, viajando para disputar competições. Nesse caso, a escola prepara o material para ela poder estudar e até fazer as provas. “Eu tive de ficar bastante tempo fora. Então a escola me entregou trabalhos antes e ficou me mandando alguns trabalhos para eu ir entregando ao longo do tempo, e até mesmo algumas provas para fazer a distância”, conta, agradecida.


Sofia conta que está se dedicando aos treinos de olho no Mundial e, quem sabe, na Olimpíada de Paris | Foto: GUILHERME ALMEIDA

A autodescoberta por meio da prática do skate

Sofia lembra quando esteve no Rio de Janeiro, disputando o campeonato internacional Skate Total Urbe – STU Open, no começo de outubro. A skatista ficou com a 10ª posição na modalidade park. “Foi uma experiência incrível. Uma libertação”, vibra. A paulista de São Caetano do Sul, Raicca Ventura, de 14 anos, foi a melhor brasileira, terminando na quarta posição. Raicca é a melhor amiga de Sofia. “Desde que nos conhecemos, nos conectamos. Nós duas conseguimos nos comunicar de uma forma única. A gente consegue rir das mesmas coisas, conversar, não sei explicar, mas a gente é assim”, comemora.

Outra coisa que Sofia gosta de destacar é em relação aos outros skatistas. Simplesmente parece não haver rivalidade no esporte. Disputa sim. Todos ajudam todos. “Os skatistas são muito tranquilos. No meu caso, por exemplo, eles me dão dicas de manobras, indicam o que posso tentar, o que posso fazer para melhorar as manobras. É bem legal treinar com eles. Eles vão me puxando, falando, repassando os conhecimentos. Fantástico”, elogia.

A gauchinha faz parte desde abril da Seleção Brasileira Júnior (Sub-16), que é organizada pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk). “Eu treinei muito para atingir este objetivo, que é a realização de um sonho e me motiva a treinar ainda mais”, afirmou. “Para mim, ter sido selecionada foi uma conquista muito grande. Vou sempre me dedicar para atingir meu objetivo, que é chegar à seleção principal, porque agora estou na de base. Estou de olho no Mundial e, quem sabe, na Olimpíada, em Paris. Vou me dedicar cada vez mais”, garante Sofia, que, devido ao sucesso, já conseguiu alguns patrocínios.

Douglas Godoy é muito incentivador da filha. Ele lembra que desde sempre curtia andar de skate. “Desde criança eu gostava muito, mas nunca fui bom”, conta ele. “Aí passei a acompanhar, achava bacana, brincava um pouco. Mas quando a Sofia passou a andar, foi uma coisa que a gente jamais imaginou”, destacou ele, que teve de deixar de lado a atividade de motorista de aplicativo para poder acompanhar a filha nos treinos e nos torneios pelo Brasil. “A Sofia sempre foi muito tímida, mas nunca imaginei que ela pudesse ter essa veia, né? A gente sempre tentou muito, ofereceu de tudo, a Sofia foi uma criança que teve dificuldade de relacionamento”, recordou. “A partir do momento que ela começou a andar de skate, foi uma mudança, como se diz, da água para o vinho. A Sofia se descobriu dentro do skate”, vibra Douglas, 36 anos, casado com Fernanda Pocahy, 40 anos, operadora de telemarketing.

O esporte

Atualmente, bowl, park e street são as três modalidades mais destacadas.

  • STREET
  • Modalidade composta basicamente por elementos do dia a dia, encontrados pelas ruas, como bancos, corrimãos, escadas, guias de calçadas e hidrantes. Neste caso, entra a criatividade de cada skatista pra explorar os espaços.
  • BOWL
  • Esta modalidade, praticada por Sofia, é a mais clássica do skate. Remonta às origens do esporte e a prática nas piscinas californianas dos anos 1970, quando piscinas vazias eram utilizadas para fazer manobras e movimentos que remetem ao surf, só que no concreto. Neste caso, o atleta nem precisa tirar os pés do shape do skate nas paredes côncavas e inclinadas em formato de bacia.
  • PARK
  • A modalidade skate park mistura o bowl e o street. O skate street, praticado pela medalhista olímpica Rayssa Leal, envolve elementos do dia a dia encontrados pelas ruas. As pistas simulam a arquitetura da cidade e as manobras podem ser as mais variadas possíveis, de acordo com a criatividade do atleta.
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895