PT votou contra a Constituição, mas partido decidiu assinar a carta

PT votou contra a Constituição, mas partido decidiu assinar a carta

Texto teria ficado aquém do ideal, mas representantes optaram por cumprir formalmente a participação na Assembleia Nacional Constituinte

Por
Mauren Xavier, Flávia Simões* e Carlos Corrêa

Mais do que qualquer artigo da Constituição, nenhum tema foi tão recorrente nesses anos recentes de acirramento político no país quanto a posição do Partido dos Trabalhadores em relação à votação e assinatura do texto final. Muito circulou a informação de que o PT não havia assinado a carta, quando na verdade a sigla, em protesto contra um texto que acreditava ter ficado aquém do imaginado, votou contra, mas depois assinou junto com os demais. “Ainda não foi desta vez que a classe trabalhadora pôde ter uma Constituição efetivamente voltada para os seus interesses. Ainda não foi desta vez que a sociedade brasileira, a maioria dos marginalizados, vai ter uma Constituição em seu benefício. (...) Patrão, neste país, vai continuar ganhando tanto dinheiro quanto ganhava antes, e vai continuar distribuindo tão pouco quanto distribui hoje. É por isto que o Partido dos Trabalhadores vota contra o texto e, amanhã, por decisão do nosso diretório – decisão majoritária – o Partido dos Trabalhadores assinará a Constituição, porque entende que é o cumprimento formal da sua participação nesta Constituinte”, disse o então deputado e hoje presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso na Câmara dos Deputados no dia 22 de setembro de 1988.

'Patrão, neste país, vai continuar ganhando tanto dinheiro quanto ganhava antes, e vai continuar distribuindo tão pouco quanto distribui hoje. É por isto que o Partido dos Trabalhadores vota contra o texto e, amanhã, por decisão do nosso diretório, assinará a Constituição'

A decisão, contudo, não foi tomada sem uma série de reuniões internas da sigla e de seus representantes na Assembleia Nacional Constituinte. “Houve debate e uns diziam que não era tudo que queríamos e que uma forma de protestar seria não assinar”, revela o senador Paulo Paim, um dos 16 parlamentares da sigla na ANC. De acordo com ele, apesar das discussões, a votação interna não foi sequer equilibrada: “Pelo que me lembro, apenas dois ou três ficaram na posição contrária”.

De acordo com Olívio Dutra, o então deputado Florestan Fernandes, de São Paulo, teve um papel decisivo nas conversas no sentido de convencer os demais da importância de assinar o documento, mesmo com ressalvas. “Participamos de todo o processo, perdemos muitas vezes e mostramos nossa insatisfação com muitas coisas que achávamos que deveria ter acontecido, como a Reforma Agrária, a Reforma Tributária, a Reforma Urbana. O texto final ficou aquém”, afirma o ex-governador. Mesmo insatisfeitos com vários pontos do texto final, a decisão dos parlamentares foi a de validar a Constituição. “O PT participou do processo, ganhou, perdeu alguns pontos. Reconhecíamos que foi um avanço, mas queríamos mais. Só que o debate continua, então não podíamos deixar de reconhecer”, diz Paim.

Ouça abaixo a íntegra do discurso de Lula no plenário da ANC defendendo o voto do PT.

 

* Sob supervisão de Mauren Xavier e Carlos Corrêa

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895