Reencontros com expectativa de bons negócios

Reencontros com expectativa de bons negócios

Tendência de expansão do rebanho e valorização da carne animam criadores, expositores e compradores de ovinos, que voltam à participação presencial nas feiras deste verão

Por
Patrícia Feiten

Enquanto para boa parte dos gaúchos os primeiros meses do ano são sinônimo de férias, para quem vive da ovinocultura o período rima com investimento. E é na esperança de fechar bons negócios e articular ações de fomento à atividade que o segmento promove, de janeiro a março, suas tradicionais feiras de ovinos de verão. Concentradas na Metade Sul do Estado, as exposições deste início de 2022 ocorrem em um clima de reencontro, após o distanciamento social que marcou a fase mais dramática da pandemia de Covid-19, e de otimismo, motivado pela tendência de expansão dos rebanhos e pelos bons preços da carne ovina.

“Há uma expectativa muito positiva para essas feiras, não só em termos de presença de animais como de comercialização”, diz o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Gressler. Ao contrário de outros setores, que tiveram atividades interrompidas ao longo da pandemia, a ovinocultura não parou e seguiu aprimorando os rebanhos, observa o produtor. “Prova disso foi o sucesso que as raças tiveram na 44ª Expointer (realizada em setembro)”, lembra. “Esse desfile de genética vai continuar nas exposições de verão”, afirma. A coordenadora da Comissão de Ovinos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e vice-presidente da Arco, Elisabeth Amaral Lemos, também está otimista e destaca que a temporada favorece os negócios com reprodutores, especialmente matrizes. “Existe grande procura por fêmeas, de todas as raças”, relata.

O calendário de feiras começa com a 14ª Agrovino, de 11 a 16 de janeiro, em Bagé. Ainda com inscrições abertas – o prazo se encerra no próximo dia 5 –, a exposição reunirá pelo menos 130 animais a galpão e 50 trios de rústicos, adianta o presidente da Associação Bageense de Criadores de Ovinos (Abaco), Gustavo de Oliveira Velloso. Na programação, estão previstos cinco remates. No dia 13, serão promovidos o Remate de Produção da Estância da Fumaça e o Remate 53 Anos da Cabanha Boa Nova, ambos focados na raça Corriedale, além do Remate 3ª Nacional da Raça Romney Marsh. No dia 14, ocorre o remate de rebanho geral da Agrovino e, no dia 15, será a vez do Remate de Produção da Cabanha São Matheus.

Com a oferta de 1,8 mil animais, Velloso estima que os leilões gerem uma receita de 10% a 15% superior à da edição passada da Agrovino, que movimentou R$ 1,23 milhão. Para o produtor, a retomada gradual da economia e da operação dos restaurantes, após o período de restrições desencadeado pela pandemia, estimulou o consumo de carne ovina, o que indica boas oportunidades de negócios nas feiras de verão. Hoje, o quilo vivo do cordeiro está em torno de R$ 11 no Estado. “Com a alta (das cotações) do boi gordo, a expectativa é que a carne ovina acompanhe (essa valorização)”, diz Velloso.

Outro evento da temporada, a 44ª Expofeira de Ovinos de Verão ocorre de 9 a 13 de fevereiro em Herval, e as inscrições estão abertas até 7 de fevereiro. Segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Conrado Cassuriaga da Silva, em torno de 1,2 mil ovinos de seis raças devem ser apresentados no remate de rebanho geral que abrirá a mostra, no dia 9. “A expectativa é de um valor médio alto (para os animais ofertados), porque a feira de Herval vem se destacando como uma das melhores do Estado”, diz Silva. A grande demanda dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo pela carne ovina, afirma ele, traz perspectivas de crescimento para o setor. “Estes mercados estão levando muitos animais jovens para confinar e vender lá, o que torna a ovinocultura um investimento com garantia de retorno”, avalia.

Entre as metas do segmento para 2022, Edemundo Gressler, da Arco, diz que o esforço atual é focado na melhoria dos índices de produção, para que o Estado recupere a liderança nacional perdida para outras regiões. Com 2,973 milhões de cabeças em 2021, o rebanho ovino gaúcho é o terceiro maior do país, atrás da Bahia (4,706 milhões) e de Pernambuco (3,304 milhões), de acordo com estudo da Farsul. Mas esse ranking pode ser invertido em curto prazo, acredita Gressler. “Está havendo uma retenção de matrizes nas propriedades (gaúchas)”, explica. “Com o engajamento de todo o setor, há possibilidade de, em três a cinco anos, (o rebanho) chegar muito próximo e até ultrapassar a casa dos 4 milhões (de cabeças).”

O ano que começa também deve assinalar a busca de valorização da lã produzida no Estado. Esse é mote do Programa de Certificação da Lã Gaúcha, que busca orientar os produtores sobre a colheita e o acondicionamento correto da lã. Com o projeto, lançado em setembro em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seadpr), a Arco espera já em 2022 ampliar o volume de produção, hoje de cerca de 9 milhões de quilos por ano, para atender ao mercado uruguaio. “A ideia é que a gente possa oferecer lã de qualidade e (vender) diretamente aos lanifícios uruguaios, sem atravessadores, que pagam pouco pelo produto”, explica Elisabeth Amaral Lemos.

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