Registros da Independência: O grito do Ipiranga

Registros da Independência: O grito do Ipiranga

A proclamação da Independência

Por
Landro Oviedo

Na escalada dos fatos envolvendo a decisão de D. Pedro de permanecer no Brasil, desobedecendo às ordens das cortes portuguesas, é marcante a data de 13 de maio de 1822, quando ele aceita o título de Defensor Perpétuo do Brasil. Não obstante, naquela época, uma notícia poder levar meses para ser conhecida, já era evidente que o reino do Brasil caminhava a passos largos para sua emancipação. O estopim já estava posto e qualquer fagulha poderia acionar a ruptura definitiva entre a metrópole e a antiga colônia. A máxima de que a cada ação corresponde uma reação estava mais uma vez sendo confirmada e ambas as partes já anteviam que nenhuma conciliação seria possível.

Se tudo era uma questão de tempo para que o Brasil declarasse formalmente sua independência, esse dia chegou. Em sete de setembro de 1822, regressando com sua comitiva de uma viagem a Santos, recebeu D. Pedro, às margens do riacho do Ipiranga, cartas da Corte ordenando seu retorno e de Dona Leopoldina e de seu conselheiro José Bonifácio missivas em sentido contrário. Foi então que, de acordo com a versão consagrada desse fato histórico, Sua Alteza retirou e ordenou de todos a retirada das insígnias portuguesas, tendo então proferido a frase que se eternizou na memória coletiva dos brasileiros: “Independência ou morte!”.

A partir de então se abre formalmente um processo em que D. Pedro seria figura determinante para a causa da nacionalidade brasileira. Essa importância é bem ressaltada por Dona Leopoldina em uma carta datada de 29 de agosto de 1822: “Esteja persuadido de que não são amor e amizade que me fazem deseja mais do que nunca sua presença, mas sim as críticas circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença entre inimigos e amigos pode salvá-lo da ruína”. Seu coração austríaco batia forte pelo seu esposo e pela causa do reino que a acolhera e onde daria seu último suspiro como a primeira imperatriz de um vasto império que ela ajudou a construir.

Quanto a D. Pedro, sabia que seu gesto às margens do Ipiranga era mais formal do que dotado de uma eficácia confiável. Havia toda uma guerra certa pela frente. Ele sabia que o erário estava combalido, que não tinha exército nem marinha constituída, que as forças de combate de Portugal eram superiores. Todavia, sua têmpera era de um guerreiro ao qual fascinava o bom combate. Não era do seu feitio recuar diante das adversidades. A valentia real seria posta à prova num campo de batalha que tinha as mesmas dimensões do país que ele intentava libertar do jugo colonial.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895